Mesmo na crise, brasileiro aposta na Bolsa e busca fundo de ações
Resumo da notícia
- Apesar das perdas no ano, a Bolsa continua atraindo brasileiros, mostram dados da Anbima
- Levantamento mostra que fundos de ações foram os que mais captaram recursos desde 1º de março
- Juros baixos derrubam ganho da renda fixa e pesam mais que o medo da instabilidade, dizem gestores
A Bolsa brasileira vem resistindo muito bem ao choque imposto pela maior crise financeira no mundo em décadas provocada pela pandemia do novo coronavírus. Apesar das fortes desvalorizações registradas no ano, as ações continuam atraindo as pessoas físicas, que até aumentaram os investimentos nessas carteiras. É o que revela levantamento feito pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) a pedido do UOL.
Segundo profissionais de mercado, o comportamento do Ibovespa nesse período mostra um amadurecimento do investidor brasileiro em termos de educação financeira. Mas mais importante, pelo menos neste momento, tem sido o peso dos juros baixos no Brasil. Com a taxa Selic em mínimas históricas, os tradicionais fundos DI mal cobrem a inflação, o que tem incomodado o aplicador mais do que a volatilidade da Bolsa.
A Bolsa tem mostrado muita resiliência por causa de um conjunto de fatores, como o surgimento de mais plataformas de investimento e maior acesso à informação e à educação financeira. Mas com certeza, os juros baixos pesam muito nesse comportamento
Carlos André, vice-presidente da Anbima
Segundo dados da Anbima, os fundos de ações tiveram captação líquida - saldo entre novos depósitos e saques - de R$ 9,8 bilhões, entre 1º de março e 15 de maio. Os dados mostram que a grande maioria dos fundos captaram recursos. No mesmo período, os fundos de renda fixa perderam R$ 91,8 bilhões.
O vice-presidente da Anbima diz que nem todo dinheiro que saiu da renda fixa nessa crise foi para ações. Muita gente raspou a aplicação porque ficou sem renda em meio ao isolamento social. "É difícil mapear com precisão esse movimento, mas temos a percepção de que parte dos saques dos fundos renda fixa tenha ido para conta corrente, para cobrir gastos. O que, aliás, só destaca a importância de se ter uma reserva de emergência", disse Carlos André.
1,9 milhão de investidores
Dados mais recentes divulgados pela B3 mostraram que o país chegou a 1,9 milhão de CPFs cadastrados na Bolsa, um aumento de 164% ante 2018. E a proporção dos jovens aplicadores cresceu. Investidores com idades entre 25 e 39 anos representam agora 49% da Bolsa, ante 28% em 2017. Já a proporção de pessoas com mais de 60 anos caiu, de 49% para 23%.
Tempos de turbulência, como o que vivemos atualmente, geram grandes riscos, mas também grandes oportunidades. Além disso, a queda da taxa de juros levou a uma procura maior por produtos mais arrojados, que oferecem um maior potencial de retorno
Walter Poladian, planejador e sócio da plataforma financeira Fliper
Tendência permanece
Segundo gestores de recursos, o fluxo de investidores brasileiros para a Bolsa vai depender cada vez mais dos juros. Se as taxas continuarem baixas, esse movimento vai permanecer.
"Não acho que a crise possa afetar a migração de ativos mais conservadores para ativos mais agressivos. Isso tem mais relação com os juros. Se os juros começarem a subir, aí sim, isso pode acontecer", diz o planejador financeiro da Planejar, Renan Lima.
O sócio fundador da plataforma de comparação de investimentos Yubb, Bernardo Pascowitch, admite que, se a crise econômica perdurar muito, e a Bolsa ficar no vermelho por mais tempo - como ocorreu entre 2013 e 2015 - o apetite do investidor pelo risco da Bolsa pode ser impactado.
Mas com juros baixos, essa decisão tem um custo. "Quando a Selic era de 14% era mais fácil sacar o dinheiro da Bolsa e buscar abrigo na renda fixa. Isso agora não existe mais", afirma Pascowitch.
Uma função para cada: Bolsa e renda fixa
Para o CEO da plataforma de investimentos PI Investimentos, Felipe Bottino, o momento atual da Bolsa faz parte de um processo de amadurecimento do investidor brasileiro.
Segundo ele, o aplicador pessoas física está ficando mais maduro para alocar corretamente os recursos e separar o que deve ir para reserva de emergência e o que deve ser investimento de risco, com diversificação de ativos e foco no longo prazo.
"Vejo qualquer eventual migração da renda variável para a renda fixa neste momento como um movimento de um ajuste de rota, em que o investidor busca primeiro entender se as perdas que sofreu e volatilidade são compatíveis com o seu nível de risco e o nível de risco do objetivo", afirma Bottino.
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