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OPINIÃO

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Novo carro popular está mais barato, mas será que cabe mesmo no bolso?

Getty Images
Imagem: Getty Images
Valter Police

19/06/2023 04h00

Vimos nas últimas semanas o governo cortar impostos, para que alguns carros zero quilômetro fiquem mais baratos, em uma espécie de "reedição dos carros populares".

Como o mercado automobilístico não está em uma de suas melhores fases, com estoque lá em cima, algumas montadoras aproveitaram a queda nos impostos e colocaram ainda mais descontos. Com isso, os carros mais baratos do país ficaram na faixa dos R$ 60 mil.

Sim, eles são pequenos, de reduzida potência e pouco equipados. Mas, quando comparados com os carros populares de décadas atrás, possuem equipamentos muito mais sofisticados, em especial ligados à segurança, como airbags e controle de estabilidade, além de itens de conforto como ar-condicionado e direção assistida. Esses itens seriam impensáveis nos modelos populares antigos.

Essa redução de preços vai até a faixa dos veículos de R$ 120 mil e causa também um efeito dominó nos seminovos, que podem ser considerados como opções, até porque nem todo mundo possui R$ 60 mil para comprar um carro, ou prefere um veículo de nível superior pelo mesmo preço, mesmo que com alguns anos e quilometragem a mais.

É normal que, com essa redução, muita gente esteja pensando em comprar um carro, ou trocar o que tem em casa. Pode fazer sentido, mas a pergunta é: Mesmo com essa redução, um novo carro cabe mesmo no seu bolso?

Para responder a essa pergunta, vou listar aqui algumas despesas que acompanham um carro e que não podem ser esquecidas. Vamos a elas:

IPVA: Os impostos nunca são baratos.

Seguro: O preço depende da região, do modelo e do perfil do condutor, mas em geral é uma despesa nada desprezível.

Manutenção: Mesmo um carro zero quilômetro precisa fazer as revisões para não perder a garantia. Além disso, itens de desgaste natural não possuem garantia e o custo é do proprietário.

Combustível: Esse custo pode ser importante, a depender do uso rotineiro.

Por fim, as despesas menos lembradas e ainda mais importantes:

Depreciação: A diferença entre o preço que você pagar hoje e o preço que vai vender no futuro acaba sendo um custo do carro.

Custo de oportunidade: Se o dinheiro não estivesse imobilizado na sua garagem, estaria investido, certo? O rendimento desse investimento que não existiu também é um custo a ser considerado.

Agora que a lista de despesas está pronta, lembrando que elas podem passar facilmente dos 30% do valor do carro, vale fazer uma simulação no seu caso específico antes de tomar a decisão pela compra/troca.

Alguns pontos podem pesar a favor da decisão de mudar, como uma provável queda nos custos de manutenção, caso o carro atual já seja mais rodado, de modelo antigo, ou mesmo por uma questão de economia de combustível.

A maior parte dos itens, no entanto, tende a aumentar seus custos mensais, já que o preço do veículo impacta diretamente os custos do seguro, do IPVA, da depreciação e de oportunidade.

É óbvio também que um carro mais novo traz consigo a alegria de uma conquista e o prazer de dirigir um equipamento melhor, mais novo, mais moderno e com mais recursos. É praticamente impossível colocar preço nessas questões e, por esse motivo, não existe uma decisão certa ou errada, mas, sim, aquela que faz você se sentir bem, desde que não tenha impacto negativo em outros objetivos de vida.

Agora, se você decidiu pela compra, qual o melhor formato? À vista, financiado ou com o uso de consórcio? Vamos analisar os prós e contras.

À vista: É quase sempre melhor, mas para isso você precisa ter os recursos, o que nem sempre é o caso. Ah, não acredite nas propagandas de financiamento com juro zero. Isso não existe e é apenas uma ação de marketing. Se esse "benefício" está na propaganda, pode ter certeza de que se não for utilizado irá gerar desconto para a compra à vista.

Financiado: Normalmente é a opção mais cara, embora muitas vezes seja a única que o comprador consegue para conquistar seu sonho ou atender à sua necessidade. Com os juros no nível atual, essa opção se torna ainda menos atrativa, e a decisão precisa pesar muito bem se realmente vale a pena. Faça as contas para não se arrepender depois.

Consórcio: Esse modelo brasileiro de "compra programada" é indicado para aquelas pessoas que não possuem pressa para adquirir o veículo, mas também não têm a disciplina de poupar.

E tudo isso fica ainda mais complexo, porque essa queda de preços, pelo que tem sido noticiado, não vai durar muito tempo —coisa de um a dois meses. Em resumo, se tiver o dinheiro, faça a compra à vista. Se não tiver o dinheiro, mas tiver disciplina e tempo, guarde o dinheiro e use os juros a seu favor. Se não tiver o dinheiro nem o tempo, talvez tenha que ir pelo financiamento, mesmo pagando bem mais caro. E se não tiver o dinheiro, tiver tempo, mas não a disciplina, talvez o consórcio seja para você.

De toda forma, em uma decisão como essa, o que vale a pena mesmo é refletir sobre as opções, fazer as contas e escolher o que faz mais sentido para você hoje, sem esquecer dos impactos futuros dessa decisão. Boa escolha!

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