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Crise da chinesa Evergrande afeta as ações da Vale; veja antes de investir

22/09/2021 04h00

A gigante chinesa do setor imobiliário, a Evergrande, trouxe caos aos mercados ao acumular uma dívida de US$ 300 bilhões e não ter dinheiro em caixa para pagá-la. Bolsas de todo o mundo caíram com a notícia do possível calote. Com essa tensão externa, na última segunda (20), o Ibovespa caiu 2,33%.O caso está sendo comparado ao episódio do banco norte-americano Lehman Brothers, que faliu na crise de 2008.

Os desajustes da Evergrande começaram em meados de 2020. A empresa chegou a elaborar um plano para cortar um terço da dívida até 2023, porém, até o momento ela conseguiu limar apenas 8% do montante. Pode não parecer, mas uma crise gerada pela empresa chinesa pode afetar diretamente as ações da Vale. Felipe Bevilacqua, economista e analista da Levante, explica abaixo essa relação.

O que acontece na China afeta o minério

Segundo o analista, a Evergrande acumula perdas de quase 85% de valor de mercado, com um risco de calote que pode impactar não só a economia chinesa como também os mercados internacionais.

Somente o governo chinês pode conter a falência da empresa, segundo Bevilacqua. "Mesmo que o socorro esperado não venha, a expectativa é de que as autoridades optem por uma quebra 'controlada'", diz.

Como a China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, o que acontece por lá afeta o mercado aqui, principalmente o de commodities.

"O país é responsável por boa parte das commodities exportadas, inclusive o minério de ferro, e caso a Evergrande não consiga honrar suas dívidas isso tende a desencadear uma redução do consumo de minério que impactará diretamente o Ibovespa", afirma Bevilacqua.

A Vale seria uma das primeiras a sentir, uma vez que é grande exportadora de minério para o país.

"Neste caso nos parece uma possibilidade remota de que o governo chinês abandone a empresa e deixe acontecer um efeito cascata, que seria negativo para os mercados ao redor do mundo", diz o analista.

Para ele, a forte queda da Bolsa brasileira na última segunda foi um ajuste em resposta ao problema da empresa.

"Existe uma probabilidade maior de que seja uma adequação de preços e ajuste dos riscos, ao invés de um sinal que indica parar a diversificação dos investimentos em renda variável", diz.

Controle da alta dos preços do minério de ferro

Para além da Evergrande, há outro fator que vem da China e afeta diretamente as ações da empresa brasileira: o preço do minério de ferro.

"Já é de conhecimento público que a China vem tomando medidas mais duras em relação à alta dos preços do minério de ferro nas principais bolsas chinesas", afirma Bevilacqua.

O minério, que chegou a ser negociado na casa dos US$ 200 a tonelada, hoje está cotado abaixo dos US$ 100 a tonelada, uma queda de 50%.

A pandemia gerou um problema grave de restrição de oferta, por conta da paralisação das atividades no mundo todo, e também de demanda, pelo mesmo motivo. Com a retomada da economia em muitos países, como da própria China e dos EUA, o retorno da oferta de minério de ferro não acompanhou o ritmo da volta da demanda, que foi bem intensa, impossibilitando a recomposição desses estoques em níveis normais.

"O choque entre oferta e demanda vem gerando um ciclo de alta, sobretudo, nas commodities —movimento natural de mercado", afirma o analista.

A própria China, contudo, criou um plano de dobrar o PIB até 2035, investindo principalmente em infraestrutura —o que elevou ainda mais a busca pelo minério.

"Com esse cenário, uma medida mais restritiva contra os monopólios e possíveis movimentos especulativos foi anunciada pela Comissão Nacional de Reformas e Desenvolvimento da China (CNRD), e vem desencadeando uma onda de vendas de aço e minério de ferro, com o mercado já mirando um arrefecimento e maior controle no fluxo produtivo do aço pelas autoridades chinesas", diz o analista.

Além disso, a China vem apresentando dados de sua economia abaixo do esperado pelos mercados, gerando dúvidas quanto a velocidade da recuperação do país.

"Tudo isso impacta forte e diretamente na cotação do minério de ferro", afirma. E, por consequência afeta a Bolsa brasileira. Com participação de 16,52%, mineração e siderurgia é o setor de maior peso na composição do Ibovespa.

"Isso quer dizer que, quando as ações do setor, principalmente da Vale, que representam 13,13% do Ibovespa, sofrem perdas, o impacto no índice é mais severo. E com o minério de ferro em baixa, é normal que essas empresas tenham suas cotações atingidas", afirma o especialista.

Com minério em queda, como fica a Vale?

Para o especialista, a China pode até crescer menos que o "esperado", mas ela vai crescer —aumentando a demanda por minério. Sem contar no pacote de trilhões de dólares de infraestrutura dos Estados Unidos, que também deve aumentar a busca pela commodity e, por consequência, o preço —beneficiando a Vale.

E se a cotação do minério de ferro não se ajustar?

"Mesmo com o minério de ferro cotado a US$ 100 a tonelada, a rentabilidade da Vale cresce de forma exponencial. Isso porque o custo de produção e entrega do minério de ferro da Vale gira em torno de US$ 15 por tonelada de minério, o que deve baixar ainda mais com o aumento da capacidade de produção das plantas em Carajás, já contratado para 2022", afirma o analista.

"O que ninguém fala é que, se a queda na cotação continuar, pode tirar do jogo muitas outras empresas inseridas no mesmo mercado, que não se sustentam em níveis de preço tão baixos do minério. Com isso haverá um ajuste de oferta e demanda, beneficiando as empresas que resistirem, que é o caso da Vale", diz.

Quer entender mais sobre como a China afeta empresas como a Vale? Acesse aqui o relatório completo e didático preparado por Bevilacqua para você entender em detalhes os efeitos da China nas ações da Vale.

O analista reforça as empresas recomendadas aos assinantes do UOL. Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão aqui. O investidor deve considerar que Magalu sai das carteiras e é substituída pela Via —ex-Via Varejo. Além disso, agora, a Raízen entra na lista das indicações.

- Carteira quem não aceita risco algum;

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco;

- Carteira para quem é mais moderado;

- Carteira para quem aceita mais risco;

- Carteira para quem aceita alto risco.

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.