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Como a crise da Evergrande afeta a Bolsa e o que muda para o investidor?

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/09/2021 18h01

A incorporadora imobiliária Evergrande pode dar um calote bilionário em sua dívida nesta semana, o que jogou as bolsas globais para baixo nesta segunda-feira (20). Os analistas do mercado apontam para um risco considerável de a gigante chinesa deixar de pagar ao menos parte dos US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão), que vencem na próxima quinta-feira.

Entenda o que pode acontecer na Bolsa brasileira caso o calote aconteça, e se a Evergrande pode iniciar uma crise como a do Lehman Brothers, de 2008, e o que os investidores brasileiros podem fazer agora. Veja abaixo o que disseram analistas ouvidos pelo UOL.

O que está acontecendo com a Evergrande?

O mercado imobiliário chinês passou por uma grande expansão nos últimos anos, impulsionado principalmente pelo crédito barato fornecido pelos bancos estatais. Algumas estimativas apontam que o setor pode responder por até 25% do PIB chinês.

É nesse setor em que atua a Evergrande. Em um comunicado divulgado no último sábado (18), a empresa disse que "os investidores interessados em resgatar produtos de gestão de fortunas com ativos físicos devem entrar em contato com seus consultores de investimento ou visitar escritórios locais". A empresa informou que não conseguirá arcar com o pagamento de juros de dívidas.

Além da queda no preço das ações, a Evergrande também teve a negociação de seus títulos suspensa. Investidores estão sob alerta de uma possível crise semelhante à do Lehman Brothers, de 2008, nos Estados Unidos.

Bolsas caem no mundo todo

Os efeitos da crise da Evergrande ainda não podem ser observados com detalhes porque as bolsas de Xangai, Tóquio, Seul e Taiwan não abriram por conta de feriados locais nesta segunda.

O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, chegou a cair 6% e fechou o pregão com queda de 3,3% nesta segunda-feira (20). As ações da empresa chinesa tiveram desvalorização de 19%, chegando ao menor nível em 11 anos, e fecharam com queda de mais de 10%.

As Bolsas no Ocidente também sentiram.

O S&P 500, índice das principais ações da Bolsa norte-americana, caiu 2,65% na tarde desta segunda (20). Já a Bolsa brasileira chegou a registrar queda de quase 3,50% e fechou a sessão com recuo de 2,33%.

"O Brasil, em especial, é uma economia bastante atrelada à da China. Suas taxas de crescimento têm sido bastante sincronizadas nas últimas décadas. E é por isso que os mercados domésticos sentem os reflexos adversos da Evergrande. Ainda assim, notamos que o governo chinês tende a evitar que este evento se espalhe de forma relevante", afirma Daniel Xavier, economista sênior do Banco ABC Brasil.

Evergrande pode ser o novo Lehman Brothers?

O jornal britânico The Guardian chamou a crise da Evergrande de "momento Lehman Brothers da China", em referência à crise do banco norte-americano, de 2008.

Se ocorrer o calote, a reposta do mercado vai ser igual a de 2008, com uma debandada de investidores, diz Flávio Conde, coordenador de análises na Levante.

"Enquanto o governo não resgatar a empresa, essa queda da Evergrande vai continuar afetando os mercados. O governo precisa assumir e pagar a dívida, e é perfeitamente suportável [pagar a dívida] para um país que tem reservas internacionais 10 vezes maiores que a dívida da empresa", afirma.

Governo chinês deve pagar a dívida, acreditam especialistas

Por acreditar que essa intervenção se dará logo, Conde avalia que não haverá um segundo efeito Lehman Brothers. Além disso, diz, o problema da China se resume à Evergrande, enquanto nos Estados Unidos a questão era com vários bancos e numa dimensão de trilhões de dólares.

A Bocom International Holdings, corretora de investimentos que atende em Hong Kong, espera mais perdas nas bolsas asiáticas se não houver uma clara demonstração do governo chinês de que a crise será contida com a interferência estatal.

Segundo a casa de análise de dados Reorg, de Hong Kong, a prioridade para o governo chinês deve ser salvar a empresa da falência ao menos até que sejam concluídas as cerca de 1,4 milhões de casas que a empresa precisa entregar para quem já pagou por elas.

Para João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, a queda da Evergrande pode gerar uma crise de crédito em todo o mercado chinês, e caso a intervenção não aconteça, a expectativa é de que haja um efeito no mundo todo.

"Isso traz um grau de cautela maior, especialmente para o Brasil", diz.

O que o investidor brasileiro deve fazer agora?

Conde estimula o investidor brasileiro a não abrir mão dos seus investimentos agora.

"A gente sabe que as pessoas que se desfazem de posições em momentos de estresse como esse são as pessoas que daqui a um ano estarão arrependidas. Aqueles que vão comprando aos poucos, supondo que tenham dinheiro para isso, são os que ganham mais daqui a um ano", afirma.

Leal, da Rio Bravo, avalia que um eventual impacto negativo sobre o mercado imobiliário chinês para além da Evergrande, atingindo fornecedores e outras empresas, pode impactar o preço dos minérios brasileiros, uma das commodities mais exportadas pelo Brasil para o país asiático.

"O que acaba refletindo negativamente no preço das ações de Vale e Petrobras. O investidor tem que se preocupar. A palavra da vez é ter cautela em nossas posições na Bolsa até avaliar como a China vai se comportar", diz.

O sócio da Nau Capital, Evandro Bertho, também diz que agora é momento para o investidor manter sua posição na Bolsa e não abrir mão de seus ativos.

"Não tem só a empresa, tem toda uma cadeia sendo afetada. O mercado está tentando responder quantas outras companhias têm uma estrutura de crédito que podem estar comprometidas? As de pequeno e médio porte também podem passar por problemas importantes", afirma Bertho.

Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, avalia que o impacto no Brasil deve ser de um aumento da aversão ao risco e um sinal vermelho do investidor para empresas com alto nível de endividamento.

"Fora isso, é entender que quem tem exposição na Evergrande via bancos americanos ou asiáticos, pode vir a sofrer caso a empresa venha a decretar falência, mas o mercado como um todo ainda espera uma ação do governo chinês", diz.

Ele afirma que essa ação pode demorar a acontecer, o que tende a estender o prazo de instabilidade do mercado.

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