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Poupança tem o pior resultado dos últimos 30 anos; é hora de sair dela?

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/09/2021 04h00

Ao longo dos últimos 12 meses, a poupança registrou o pior resultado desde 1991, quando o Brasil vivia um cenário de inflação descontrolada. Entre setembro de 2020 e agosto deste ano, a rentabilidade da poupança, descontando a inflação, foi de -7,15%. Isso quer dizer que o investidor que manteve seu dinheiro nessa opção viu seu poder de compra diminuir de maneira considerável.

Mas a poupança não sofreu sozinha. Investimentos que pagam 100% do CDI — taxa que acompanha a Selic — renderam -6,35%, descontando a inflação. Diante desse cenário de perda acentuada, saiba abaixo se a poupança tem chance de se recuperar, se é hora de tirar o dinheiro de lá ou se é preciso correr para outros investimentos, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Já passou da hora de sair da poupança, diz especialista da XP

Clara Sodré, educadora da Xpeed School e assessora de investimentos da XP, é categórica: "já passou da hora de sair da poupança".

"O investidor precisa olhar para a poupança como um investimento do passado. Há muito tempo ela vem mostrando uma rentabilidade abaixo da inflação, e isso se agravou neste ano", diz a especialista.

Um levantamento produzido pela XP mostra que essa gradual perda da poupança para a inflação vem acontecendo aceleradamente nos últimos três anos, terminados em julho de 2021. No período, a inflação, medida pelo IPCA, subiu 16,51%, enquanto a rentabilidade da poupança foi quase a metade disso, 9,48%.

O desempenho entre 2020 e 2021 piorou. Uma comparação feita pela Economatica, plataforma de informações financeiras, apontou que não se via um desempenho tão ruim da poupança desde o mês de outubro de 1991, quando ela rendeu -9,72% em 12 meses, descontando a inflação.

Porém, o levantamento da Economatica mostra que a poupança não sofreu sozinha, ao contrário. Quase todos os principais investimentos tiveram rentabilidade negativa desde setembro de 2020, com apenas duas exceções, o bitcoin e a Bolsa. Descontando a inflação, a criptomoeda teve uma valorização de 248%, e foi acompanhada de longe pelo Ibovespa, que subiu 8,99%.

Neste ano, apenas o bitcoin se mantém rentável. O Ibovespa tem tido desempenho abaixo da poupança, com perda de 5,56% entre janeiro e agosto. A poupança perdeu 4,08% no período.

Apenas um velho hábito

Chamar a poupança de investimento já não faz mais sentido, e ela existe apenas como "um velho hábito do brasileiro", segundo Fabrizio Gueratto, educador financeiro do Canal 1Bilhão.

Para ele, o dinheiro investido nessa modalidade já deveria ter sido sacado há algum tempo. "Com tanta informação financeira disponível, não tem mais como as pessoas continuarem insistindo na poupança", diz Gueratto.

Ele se refere principalmente à nova poupança, que surgiu depois de 2012 e está sujeita a um cálculo diferente da chamada "velha poupança".

Desde 2012, o rendimento da poupança passou a depender da taxa de juros, a Selic. Quando a Selic for igual ou menor que 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da taxa de juros. Ou seja, hoje, com a Selic a 5,25% ao ano, a poupança rende 3,68%.

Esse rendimento pode mudar se a Selic for superior a 8,5% ao ano. Nesse caso, a poupança passa a render de forma fixa, em 6,17% ao ano.

Sem chance de rentabilidade no curto prazo

Para Gueratto, a nova versão da poupança não voltará a apresentar resultados atrativos que justifiquem mantê-la na carteira, já a poupança velha ainda pode ser útil, principalmente no momento atual, de queda generalizada na rentabilidade dos ativos.

"Quem tem a aplicação antiga, não está sendo tão prejudicado", diz o especialista.

O "tão" prejudicado é porque há perdas, mesmo na velha poupança, embora menores em relação à nova poupança. A rentabilidade anual, de 6%, não vence os quase 10% de inflação acumulada nos últimos 12 meses, segundo os últimos dados do IBGE.

Henrique Garcia, chefe de mercado de capitais do Grupo Eu Me Banco, afirma que as chances de a poupança nova reverter essa queda de rentabilidade no curto e médio prazo são mínimas porque a perspectiva para a inflação segue em alta e os juros não devem alcançar um patamar suficiente para ultrapassar o aumento dos preços.

Há chances para a poupança no longo prazo

Para o longo prazo, Garcia avalia que há chances de a poupança nova se recuperar, caso a taxa de juros supere a inflação. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, a projeção do mercado é de que a Selic alcance os 8% este ano.

Garcia afirma que um patamar acima dos 8,5% dos juros daria um novo gás para a poupança.

Apesar disso, o especialista pondera: mesmo com uma melhora na atratividade da poupança, já há no mercado opções de investimentos melhores e que também se beneficiam da alta dos juros.

"Os títulos públicos federais [Tesouro Direto] e os títulos privados tendem a ser mais atrativos por terem rentabilidade superior ao da poupança, com grau de risco parecido", afirma.

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