Startup brasileira lança criptomoeda para impulsionar agro; vale investir?
O Brasil ganhou nesta semana a primeira criptomoeda do país ligada ao agronegócio, a cultecoin. A iniciativa foi da startup brasileira Culte. A moeda digital estreou cotada em US$ 0,05 por unidade. Foram colocadas à venda 21 milhões de unidades, mas a meta é atingir 210 milhões de tokens em cinco anos. No primeiro dia foram vendidas 2 milhões de unidades, somando US$ 100 mil.
A estratégia envolve mais duas fases de valorização estimulada: no próximo sábado (18), a cultecoin será comercializada a US$ 0,07. Em 12 de outubro, sobe para US$ 0,10. A partir daí, o valor será flutuante, conforme a movimentação do mercado. Como essa moeda incentiva o agro? Será que vale mesmo a pena investir? Veja abaixo o que disseram especialistas ouvidos pelo UOL.
Como a criptomoeda incentiva o agro?
Segundo os criadores da moeda, os empresários Bianca Ticiana e Cláudio Rugeri, a cultecoin pretende incentivar o pequeno agronegócio.
O governo federal destinou R$ 251 bilhões para financiamento da safra de 2020/2021, reservando R$ 39,3 bilhões para a agricultura familiar. Para os empreendedores, esse valor não é suficiente para esse setor, que emprega 10 milhões de pessoas e representa cerca de 20% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), que neste ano é estimado pelo Ministério da Agricultura em R$ 1 trilhão.
Em 2018, o casal decidiu procurar o escritório Pinheiro Neto Advogados para estruturar um plano de criação de uma plataforma de marketplace vinculada a uma criptomoeda. A ideia era facilitar o acesso ao microfinanciamento para os pequenos produtores.
No marketplace, os agricultores vendem sua produção sem intermediários e também compram insumos de fornecedores, com vantagens, como descontos. São cerca de 2.000 agricultores cadastrados na plataforma. Mas os empreendedores descobriram no meio do caminho que muitos deles não tinham sequer conta bancária.
A empresa lançou um modelo de conta digital e cartão de crédito para financiamento. Até o momento, cerca de R$ 15 milhões foram concedidos em crédito, sendo que 70% dos solicitantes receberam algum empréstimo. A startup está presente em 20 estados brasileiros, reunindo mais de 2.000 pequenos agricultores; destes, mais de 30% são mulheres.
Como a criptomoeda financia o pequeno produtor?
Segundo a startup, a critpmoeda funciona como uma moeda de troca no marketplace. Para ter a cripto, o agricultor compromete parte da sua produção antes mesmo de plantar. Com a moeda, ele compra insumos de fornecedores na plataforma.
Na prática, é como se fosse uma venda antecipada de parte da sua produção e a cultecoin como se fosse o pagamento; ou como se fosse um empréstimo, sem juros, com parte da produção como garantia.
"O agricultor vai poder plantar sem pagar nenhum tipo de juros. Só devolvendo depois parte da produção dele como pagamento", diz Rugeri, que é CEO da Culte.
Bianca Ticiana, que atua como CFO, afirma ser um dos objetivos levar o pequeno produtor para o mercado internacional —incluindo fornecedores e empresas estrangeiras no marketplace.
"Nosso intuito é trabalhar para que possamos conectar o mercado externo com o interno. É dar oportunidade para que o pequeno agricultor exporte, o que hoje ele não consegue."
Como operar e quanto já vendeu?
Segundo a CFO, os agricultores podem trocar cultecoin entre si e com parceiros comerciais no marketplace da startup. Além de formar grupos para comprar insumos pagando com o dinheiro digital.
Mas o investidor individual pode aplicar na moeda também, e lucrar com a valorização da cripto no mercado, se ocorrer, como qualquer outra criptomoeda.
A empresa afirma ter vendido 11 milhões de tokens, que são códigos individuais criados para cada comprador.
"Em apenas um dia, vendemos 5% do total disponibilizado", afirma o CEO. "A gente não pode prometer valorização de nada. Mas o potencial é muito grande", diz.
Rugeri observa que a cultecoin pode ser comprada utilizando outras moedas digitais, que devem ser trocadas na plataforma da Culte. A reversão do token por outra criptomoeda pode ser feita por uma exchange —uma espécie de corretora especializada em criptomoeda.
É como uma troca de ativos: o investidor compra um bitcoin e depois o utiliza para adquirir a cultecoin. Caso a moeda digital do agronegócio valorize e ele deseje vender, basta trocar uma pela outra e comercializá-la na sua carteira para receber o lucro.
O projeto é consistente?
Rodrigo Borges, especialista em criptomoedas da Ohmresearch e CEO da PDA Swiss AG, analisou o prospecto da cultecoin a pedido do UOL.
"Achei o projeto da Culte interessante por ser uma evolução de algo já existente em microfinanciamento de pequenos agricultores. É uma evolução que eu acho positiva", afirma.
Ele aponta como outro fator positivo a base tecnológica ser da Binance, a principal exchange (espécie de corretora) de moedas digitais. "Isso traz um suporte tecnológico e de negócios interessante", diz.
A vantagem de ser uma cripto global também é listada como vantagem. Mas Borges vê como ponto negativo o fato de a equipe da Culte ter pouca experiência técnica em criptomoedas.
Quais os riscos envolvidos? Vale a pena investir?
Borges não recomenda nem desabona investir na cripto. Ele sugere ao investidor sempre estudar os aspectos jurídicos e reunir o máximo de informação para balizar a decisão.
"Não adianta ter um token se não entender o negócio, entender se o ativo por trás dele faz sentido para o investidor ou não", diz.
Fernanda Guardian, analista da Levante, não recomenda a compra. Ela diz haver mais de 8 mil altcoins — como são chamadas as criptomoedas alternativas ao bitcoin. "A concorrência é muito maior e a chance de aparecer outra moeda com a mesma aplicação [da cultecoin] é enorme", afirma.
Ela observa que diversas altcoins já saíram de circulação, a maioria por ter aplicação específica e por não apresentar "soluções úteis para a sociedade".
Já o CEO da Culte sustenta que a sua criptomoeda tem como foco o social, visando garantir renda ao agricultor familiar. Isso explicaria, de acordo com Rugeri, o salto em poucos dias de 1 mil para 10 mil interessados em receber informações no grupo de mensagens instantâneas criado como parte da estratégia de marketing para o lançamento da moeda.
"A maioria das pessoas está comprando pelo projeto social e o ecossistema. Claro que tem os que acham que vão ganhar muito. Mas o nosso foco é a questão social, que é mudar a realidade dos pequenos agricultores do país", afirma o executivo.
Fabiana Guardian lista como risco o fato de a cultecoin ser centralizada em uma empresa e sujeita aos solavancos típicos da volatilidade do mercado de criptomoedas.
A analista da Levante avalia a criptomoeda vinculada ao agronegócio como parte do "amadurecimento do mercado cripto como um todo, uma vez que muitas aplicações estão sendo pensadas para diversos setores".
Borges conta já ter participado de projetos de criação de criptomoedas vinculadas ao agronegócio que não avançaram.
Ele avalia que o avanço da tecnologia no campo pode ser um diferencial competitivo do país. "Acho o agronegócio uma das áreas mais importantes da economia e com maior viabilidade para o mundo cripto."
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