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ANÁLISE

Real digital é concorrente do bitcoin?

Pollyana Ventura/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Pollyana Ventura/Getty Images/iStockphoto

Nicolas Meireles Nogueira

01/03/2023 04h00

O real digital entrará em fase de testes já em março e deve ser implementado de forma definitiva até 2024, segundo discurso de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em um evento recente promovido pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa).

Segundo Campos Neto, o objetivo do projeto é "fomentar novos negócios" no setor financeiro. Porém, alguns podem estar se perguntando: Há alguma relação entre a versão digital da moeda brasileira e o bitcoin e os demais criptoativos? Se você quer saber mais sobre o tema, vem com a gente!

O que é o real digital?

O real digital é uma "CBDC", ou moeda digital emitida por Banco Central, na sigla em inglês. Na prática, as CBDCs são as moedas nacionais inseridas de forma oficial na tecnologia blockchain.

Atualmente, vários países estão estudando ou desenvolvendo as suas próprias moedas, como é o caso dos Estados Unidos, Inglaterra e México. A China, por sua vez, está em testes avançados com o iuan digital, enquanto Bahamas e Jamaica já lançaram as suas moedas.

Do ponto de vista do uso, pouca coisa muda para os cidadãos brasileiros que já estão acostumados ao uso de pagamentos eletrônicos; uma das poucas mudanças pode ser nas carteiras digitais, que deverão ser robustas para evitar hackeamento ou vazamento de dados.

Porém, o fator que pode ser drasticamente alterado pela chegada das CBDCs e que não costuma ser comentado pelos burocratas é o aumento do poder de fiscalização e atuação do governo sobre o dinheiro dos cidadãos.

O fim da privacidade financeira

Uma das principais características da blockchain, tecnologia-base do bitcoin, é a transparência dos registros: todas as transações e saldos das carteiras são públicas, embora não se saiba quem são as pessoas que estão utilizando a rede.

Com isso, é possível verificar a validade das transações com extrema facilidade. Ao mesmo tempo, a blockchain do bitcoin é descentralizada, ou seja, não há um dono ou "CEO" da rede, mas, sim, uma rede de milhares de participantes que a mantém viva e operacional.

Apesar disso, várias empresas criaram versões privadas da blockchain, como a Ripple, do token XRP, e a Hedera, do token HBAR, entre outras. Embora estas redes permitam a participação de terceiros, elas concentram as decisões sobre economia dos tokens e desenvolvimento de forma centralizada.

Logo, as CBDCs se assemelham mais às blockchains privadas do que ao bitcoin ou ethereum, já que são completamente controladas pelo governo, que regula a emissão dos "tokens", ou reais digitais, funcionamento das carteiras, limites de transações e outras características.

Por um lado, as CBDCs podem ser positivas. Com elas, a distribuição de benefícios é facilitada, e o governo pode injetar dinheiro diretamente na carteira de quem precisa, por exemplo. Além disso, os bancos públicos podem "premiar" cidadãos que possuem bom controle financeiro com taxas menores de empréstimo e financiamento.

Contudo, o lado negativo das CBDCs é a vigilância. Dependendo de como o real digital for desenvolvido, ele pode permitir a supervisão total do governo sobre o dinheiro das pessoas e, em um cenário limite, permitir o bloqueio das contas de cidadãos, retirando o seu acesso ao próprio dinheiro.

O real digital compete com o bitcoin?

Como o bitcoin é uma tecnologia completamente descentralizada e resistente à censura, ninguém consegue controlar as pessoas que utilizam a rede, ao contrário do que pode ocorrer com o real digital. Por esse motivo, as tecnologias não competem entre si.

Ainda assim, o real digital pode competir diretamente com as stablecoins pareadas ao real, como é o caso dos tokens BRZ, MBRL e cREAL. Cada uma dessas moedas tem o valor equiparado ao real, ou seja, 1 token = R$ 1. Porém, com a chegada do real digital, a sua importância pode diminuir no mercado de criptoativos.

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