Como proteger seus investimentos do sobe e desce da Bolsa e do dólar?
O sobe e desce da Bolsa e do dólar que já fazia parte da rotina dos investidores brasileiros desde o início da pandemia, há mais de um ano e meio, ficou ainda mais intenso em setembro. Segundo dados da Bolsa de Valores, a volatilidade média, que era de 17,8% há seis meses, subiu para 20,3% nos últimos três meses e chegou a 26,1% no último mês.
Para o investidor que não gosta de tanta oscilação, a volatilidade incomoda. Então como se proteger dessa montanha-russa? Veja abaixo o que sugerem profissionais de mercado.
O que é volatilidade?
Volatilidade, no mercado financeiro, é o quanto o valor de um determinado ativo, como o preço de uma ação, varia em um determinado período. Essa variação pode ser positiva (valorização) ou negativa (desvalorização). Quanto mais esse ativo varia de preço, maior a volatilidade.
A volatilidade não é necessariamente um fator negativo para o investidor, destaca a economista comportamental Luciane Almeida, especialista em investimentos e educação financeira do PagBank. É a oscilação de valor que permite ao aplicador comprar algo por um preço e faturar vendendo por um preço maior.
O problema ocorre quando ele investe em algo que varia muito de preço e precisa resgatar o dinheiro justo naquele momento em que o ativo está na baixa.
Como usar a volatilidade a seu favor
O primeiro passo que o investidor deve dar para não ser prejudicado pela volatilidade é definir o objetivo da aplicação. É a partir disso que ele pode definir exatamente por quanto tempo o dinheiro poderá ficar aplicado.
Por exemplo: dinheiro guardado como reserva de emergência —ou seja, para cobrir despesas inesperadas ou não programadas— não deve ficar aplicado em um título do Tesouro que só vai vencer em 2040 e jamais numa ação.
Quem planeja com segurança o objetivo da aplicação consegue segurar a ansiedade que dá na hora que o mercado começa a oscilar muito e evitar o erro de se desfazer da aplicação justo quando ela está em baixa.
O investidor só vai concretizar uma perda por causa da volatilidade se resgatar o dinheiro antes do vencimento. Por isso é muito importante definir o objetivo e o prazo daquela aplicação. Se pessoa tiver claro quando vai precisar do dinheiro, ela não precisa resgatar antes do vencimento, então a volatilidade não vai afetar o investimento dela.
Luciane Almeida, PagBank
Volatilidade na renda fixa
Investimentos em renda fixa — como poupança, títulos do Tesouro Direto ou CDBs — apresentam menor volatilidade que as aplicações de renda variável, como Bolsa e fundos imobiliários. Mas ainda assim têm oscilações que podem afetar o aplicador.
Isso acontece por causa da chamada marcação a mercado. Todo dia, os investimentos têm o preço atualizado conforme o valor que os investidores estão pagando para comprar e vender esses ativos no mercado. Isso vale para quase todos os investimentos, com raríssimas exceções, como a poupança.
É por isso que se a pessoa vai investir no Tesouro Direto hoje, o preço de um título como o Tesouro Selic estará diferente do de era uma semana atrás. E sempre que o preço do título varia, a taxa de juros que ele paga também oscila, porque o rendimento é determinado por variação em relação ao preço do papel.
Quanto maior o prazo do título, maior a oscilação que ele terá. Assim, uma dica para quem não gosta de volatilidade é aplicar em títulos de renda fixa que tenham prazos mais curtos.
No Tesouro Direto hoje, por exemplo, os títulos com menor volatilidade são, por ordem, o Tesouro Selic 2024 e o Tesouro Selic 2027.
Esses dois títulos são os mais indicados para aquela aplicação dedicada à reserva de emergência, destaca o gestor de investimentos da ParMais, Alexandre Amorim.
Para investimentos de mais longo prazo —ou seja, para um objetivo e que não precisarão ser sacados antes do programado—, a recomendação é casar o prazo do papel com a meta.
Por exemplo, se a pessoa pretende comprar um imóvel daqui a cinco anos, pode optar por um título do Tesouro Prefixado com vencimento em 2026 ou um Tesouro IPCA+ 2026.
No caso do título Tesouro IPCA, há a vantagem de proteger a aplicação da inflação, pois esse papel garante um rendimento além do índice oficial de preços do governo, afirma Amorim.
Títulos privados
O especialista da ParMais aponta que há também opções de títulos de renda fixa privados, emitidos por bancos, como CDBs, e por empresas, como debêntures. Esses papéis costumam oferecer retornos maiores que os títulos do Tesouro.
Mas esse maior retorno tem um custo, que é o maior risco. Isso porque a possibilidade de calote por parte de uma empresa ou banco, por menor que seja, ainda é superior ao risco de calote por parte do governo — que é afinal quem imprime dinheiro no país.
Títulos privados podem apresentar maior volatilidade que os títulos públicos, pois têm taxa maior, por terem maior risco que os papéis do governo.
Alexandre Amorim, ParMais
Volatilidade na renda variável
O mercado de ações, de fundos imobiliários e outros ativos de renda variável apresentam maior volatilidade que a renda fixa. Por isso, exigem ainda mais atenção do aplicador ao definir objetivos e prazos para aquele dinheiro.
O investidor conservador que não suporta volatilidade já deverá ter uma fatia pequena da carteira em renda variável. Mas nesse percentual do capital dele é possível trabalhar com ativos que estão sujeitos à menor volatilidade, destaca a analista de investimentos da Rico Investimentos, Paula Zogbi.
Segundo ela, investidores moderados e arrojados, que dedicam uma parte da carteira à renda variável, podem colocar uma fatia das aplicações em ativos que oscilam menos e que vão funcionar como um colchão em momentos de maior turbulência dos mercados.
Empresas líderes e setores maduros
Segundo analistas de Bolsa, as empresas com menor volatilidade nos preços de suas ações são aquelas que apresentam desempenho previsível para receita e lucro. E isso é mais comum no caso das companhias que já têm um longo histórico de vida e que atuam em setores também tradicionais.
Veja alguns exemplos:
- Serviços públicos: concessionárias de serviços públicos, como empresas de energia elétrica, saneamento básico e operadoras de rodovias são tradicionalmente exemplos de ações que oscilam menos na Bolsa. As receitas dessas companhias não oscilam muito de um ano para o outro porque são resultados de negócios maduros da economia, já em funcionamento há décadas.
Além disso, essas companhias exploram concessões públicas por meio de contratos com governo de longo prazo, acima de dez anos, com condições de tarifas e reajustes definidos previamente.
- Líderes de setores: grandes líderes de setores tradicionais, como produtoras de alimentos, redes de varejo ou bancos percorreram um longo caminho para chegarem à posição de liderança que possuem no presente. Isso torna o desempenho de receitas e de lucros mais previsível, apontam analistas.
Por serem grandes nos setores em que atuam, essas empresas também influenciam preços finais aos consumidores e isso também ajuda a manter a estabilidade dos ganhos. Por tudo isso, essas companhias oscilam menos nos períodos de crise.
Essas companhias costumam apresentar menor oscilação, mas ciclos de crises também atingem segmentos mais estáveis, como vimos nessa pandemia. Por isso, o investidor deve sempre se informar ou buscar ajuda de analistas para checar como está o desempenho operacional e financeiro de uma empresa antes de investir.
Cuidado com a diversificação
Quanto mais concentrado estiver o dinheiro do investidor num único lugar, maior o risco de ele ser atingido pela volatilidade. Por isso, uma recomendação dada pela maioria de profissionais de mercado é diversificar.
Ao dividir o dinheiro em diferentes aplicações, o investidor consegue equilibrar os impactos da volatilidade sobre as aplicações. Assim, quando uma crise afeta mais um setor do que outro, os negócios que sofreram menos ajudam a reduzir ou até anular as perdas daquela instabilidade.
Diversificar é muito importante para reduzir a volatilidade, mesmo nos momentos positivos.
Paula Zogbi, Rico Investimentos
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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