Com Auxílio Brasil maior, papel de Guedes é conter danos, dizem analistas
O ministro da Cidadania, João Roma, anunciou nesta quarta (20), que o Auxílio Brasil, programa que substituirá o Bolsa Família, terá aumento de 20% em relação aos valores atuais, com valor mínimo de R$ 400. No anúncio, contudo, o ministro não detalhou de onde sairão os recursos para bancar o programa, e apenas prometeu responsabilidade fiscal —uma das grandes preocupações do mercado financeiro.
Na última terça (19), o governo anunciaria o novo valor do programa, mas recuou, diante da repercussão negativa do mercado de que a viabilização do projeto representaria uma quebra do teto de gastos —regra fiscal que limita a despesa pública ao Orçamento do ano anterior corrigido pela inflação.
O anúncio do aumento de valores do programa social, sem detalhes sobre a fonte de recursos, preocupa e abala a confiança do mercado no ministro da Economia, Paulo Guedes. Analistas ouvidos pelo UOL dizem que, agora, o papel do ministro é de conter danos, e que o mercado já está considerando em seus preços na Bolsa a possibilidade de o teto não ser respeitado. Veja abaixo o que eles disseram.
Mercado já considera furo do teto, diz economista
Segundo Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, parte dessa incerteza já está sendo considerada nos preços dos ativos na Bolsa.
"A princípio, o que a gente percebe é que os preços já trabalham em patamares de risco pré-teto de gastos. O teto já tem sua ruptura e isso não é de agora, é de desde o início do ano, quando vimos que esses gastos, que eram temporários, seriam permanentes", afirma.
Para o economista, é neste momento que a regra do teto vai se provar válida.
"Quando tem bola dividida é que a gente vê se a regra vale ou não. Este é o momento. São muitas vontades e poucos recursos", diz.
Guedes perde influência, mas tem papel de conter danos
Conrado Magalhães, cientista político da Guide Investimentos, afirma que a influência de Guedes no governo é menor, mas a defesa do ministro de uma agenda liberal, dentro do teto, não o faz perder totalmente a confiança do mercado.
"Não há dúvida de que ele foi contra, mas foi voto vencido. O mercado percebeu que os interesses do governo estão se sobrepondo à visão econômica. E o mercado entende que Guedes está fazendo um papel de redução de danos, diante da principal missão de Bolsonaro, que é tentar recuperar a aprovação para chegar nas eleições mais competitivo e tentar reduzir a distância, nas pesquisas, em relação ao Lula", afirma.
Frederico Nobre, analista de investimentos da corretora Warren, é mais taxativo.
"Guedes sempre foi a âncora fiscal para os investidores, agora ele realmente foi derrotado. Acabou essa fantasia. A equipe econômica está mais preocupada com a responsabilidade fiscal, mas outras alas do governo estão mais preocupadas com a reeleição", diz.
Programa é importante, mas fonte está no corte de gastos
Os analistas ouvidos pelo UOL afirmam que é possível criar um programa social, dentro do teto, olhando para cortes nos gastos.
"Não está sendo discutida a relevância de ajudar as pessoas, mas se esse é um objetivo, a gente precisa olhar outras despesas para bancar isso. Se existe uma preferência pelo Auxilio Brasil, existem outros gastos que podem ser cortados", afirma Caruso.
"O mercado tem muita pouca confiança tanto no governo como no Congresso, porque outros cortes poderiam ser feitos e que não estão nem sendo cogitados, como emendas parlamentares. Lembrando que estamos num contexto muito desfavorável, com projetos de ICMS e Imposto de Renda que vão reduzir a arrecadação", diz Magalhães.
O especialista não crê em melhora do cenário, diante da chegada do ano eleitoral. Apesar disso, ele ainda acredita que Guedes tem papel fundamental para evitar problemas maiores.
"Quanto mais a gente se aproxima da eleição, mais a agenda eleitoral fica enfraquecida. O mercado prefere o Paulo Guedes atuando para evitar esse tipo de iniciativa [mais populista] do que não ter ele lá, apesar da frustração com a incapacidade dele de conter esse apetite por gastos e não direcionar o presidente para uma postura mais responsável do ponto de vista fiscal", diz.
Momento pode ser de oportunidades, diz analista
Segundo levantamento interno feito pela Warren com cerca de 40 gestores de fundos, que movimentam em média de R$ 1 bilhão a R$ 5 bilhões, o momento é de oportunidades, apesar dos ruídos em Brasília.
Dos gestores ouvidos, 35% disseram que estão mantendo suas posições na Bolsa e outros 65% afirmaram que estão aumentando. Nenhum está tirando recursos.
"Existem oportunidades, porque as empresas da Bolsa são as melhores empresas, que passaram por vários governos e estão resilientes. Quando a gente fala em Bolsa, a gente precisa olhar mais para resultado do que para ruído. No curto prazo, essa volatilidade é esperada", afirma Nobre, da Warren.
Reação negativa
O anúncio de que Bolsonaro teria decidido subir o valor do auxílio para R$ 400 repercutiu negativamente no mercado financeiro na terça (19), com o dólar comercial disparando e a Bolsa tombando mais de 3%.
O Palácio do Planalto chegou a cancelar o evento em que faria o anúncio oficial.
"Parece que as coisas são feitas sem pensar, sem planejamento e que ninguém fez conta. O que aconteceu ontem é o fluxo dessa piora das condições da incerteza, porque o problema não é estourar um pouco o orçamento, mas é o fato de que isso dá margem para qualquer outra coisa no ano eleitoral", afirma Nobre.
Nesta quarta (20), em evento em Russas (CE), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o valor de R$ 400, mas disse que não vai furar o teto de gastos com a proposta, sem explicar de onde sairá o dinheiro para bancar o programa.
Após o anúncio oficial do programa nesta quarta, por volta das 16h50, a Bolsa operava em alta de 0,37%.
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