Renda fixa dando 1% ao mês e com pouco risco é o que se prevê para 2022
Aplicações mais conservadoras de renda fixa, com pouco risco, como Tesouro Selic, fundos DI e CDBs de liquidez diária, podem voltar a dar um ganho nominal (sem descontar a inflação) de 1% ao mês em 2022 -o que não acontece desde fevereiro de 2017. A taxa básica de juros (Selic) fechou este ano em 9,25% e deve continuar subindo em 2022, segundo projeções de mercado. Essa alta é o combustível da situação positiva para a renda fixa.
Mas os mesmos profissionais de mercado que preveem um 2022 de ganhos maiores para a renda fixa afirmam que essa onda não veio para ficar, e que essas aplicações devem perder fôlego a partir de 2023. Veja abaixo por que a renda fixa pode voltar a entregar 1% mensal de rendimento ano que vem, por que não vai ficar assim sempre e qual a orientação para o aplicador nesse cenário.
Para 2022, a gente vê a renda fixa ganhando força. Então, de forma geral, em nossas carteiras, temos alocação mais relevante em renda fixa.
Camilla Dolle, chefe de Renda Fixa da XP Investimentos
Inflação em alta atrai juros elevados
A inflação global contaminou a economia brasileira, onde o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) voltou a beirar os 11% este ano. Aqui, os preços são puxados por dólar inflado por culpa do governo, por alimentos mais caros e por reajustes de energia elétrica e de combustíveis.
Para tentar desacelerar a inflação brasileira mais elevada desde 2003, o Banco Central, órgão do governo responsável por proteger o poder de compra da moeda do país, começou a usar a arma que tem: subir juros.
A taxa básica, a famosa Selic, saiu de 2%, no começo do ano, para os atuais 9,25%, a mais elevada desde junho de 2017.
Segundo as projeções feitas por mais de cem instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Banco Central por meio da pesquisa semanal Boletim Focus, a Selic vai subir ainda mais, até 11,25%.
Mas há banco já vendo a Selic em quase 12%, como o americano Goldman Sachs.
Juros elevados puxam CDI e aplicações
Quando a Selic sobe, leva junto com ela o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que por sua vez é o índice de referência de vários investimentos como CDB, LCI e LCA, por exemplo, que usam percentuais do CDI para determinar seu rendimento. Por isso, é comum ver informações como "rendimento de 100% do CDI".
O Tesouro Selic, título do governo federal vendido na plataforma do Tesouro Direto, também acompanha a Selic.
Poupança barrada na festa
A poupança também acompanha a Selic, mas até uma parte do percurso. Quando a Selic ultrapassa os 8,5%, a caderneta desce desse bonde e passa a render 0,5% ao mês, mais a TR (Taxa Referencial).
Como explicamos aqui, a poupança não vai conseguir aproveitar a alta da Selic prevista para o ano que vem.
Juros em alta e inflação desacelerando
Profissionais de mercado afirmam que 2022 vai ser melhor para as aplicações de renda fixa porque os juros vão continuar subindo, enquanto a inflação deve começar a desacelerar a partir do segundo semestre.
Isso, claro, se o cenário de estabilização do dólar e recuo dos preços dos alimentos, da energia e dos combustíveis se confirmar, destacam economistas.
Assim, a Selic acima dos 11% vai entregar ao aplicador um ganho mensal bem perto de 1%. Esse é o rendimento nominal, ou seja, sem descontar a parte que a inflação corrói.
Em 2021, por exemplo, a inflação comeu o ganho da maioria das aplicações de renda fixa mais conservadoras, aquelas em que é mais fácil sacar ou que são de curto prazo.
Depois de um período de vacas magras para a renda fixa, a gente vai viver um tempo de vacas gordas, pelo menos ao longo de 2022. Se a Selic for a mais de 11%, com inflação caindo para 5%, pode ir a 6% acima de inflação, um retorno interessante para uma parte da carteira.
Paulo Clini, diretor de Investimentos da Western Asset
Maré pode mudar
Profissionais de mercado destacam entretanto que essa maré favorável para o aplicador de renda fixa conservadora e de baixo risco não vai durar para sempre.
À medida que a inflação começar a perder aceleração, e o Banco Central avaliar que o pior momento de descontrole de preços passou, a Selic começará a recuar.
Para 2023, por exemplo, as instituições financeiras e consultorias estimam que a taxa básica de juros vai fechar o ano em 8%, cedendo mais um pouco em 2024, para 7%. Ainda de acordo com essas projeções, a inflação medida pelo IPCA vai ficar ao redor de 3,5%.
Se confirmado esse cenário, a Selic ainda vai permitir um CDI maior que a inflação, mas com uma vantagem menor que a alcançada em 2022.
Não vejo a renda fixa tradicional conservadora voltando a dar ganhos reais muito elevados de forma estrutural, ou seja, para sempre. Devemos ter um retorno médio real na casa de 3% a 4% ao ano.
Felipe Guerra, sócio da Messem Investimentos
O que fazer com a renda fixa
Consultores financeiros apontam que o aplicador pode ampliar a fatia da carteira em renda fixa entre o fim deste ano e o decorrer de 2022. Isso pode ser feito até para reduzir o risco de sobe e desce que deve afetar a renda variável.
Afinal, a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos e as eleições presidenciais no Brasil são dois fatores que devem manter a Bolsa, por exemplo, com trajetória incerta ao longo do ano que vem.
Cuidados ao mexer na carteira
Mas esse ajuste, dizem profissionais de mercado ouvidos pelo UOL, precisam ser feitos com alguns cuidados.
Primeiro, essa movimentação depende de cada caso de aplicador porque precisa levar em conta diversas condições, como o objetivo da aplicação, o prazo pensado para o resgate e a fonte de onde vai sair o dinheiro para fazer esse reforço na carteira de renda fixa.
Quem pensa em resgatar da Bolsa para aplicar em renda fixa, por exemplo, precisa checar antes se ao fazer isso neste momento não estará perdendo dinheiro, já que o Ibovespa está fechando 2022 no vermelho.
A renda fixa pode ser vista como opção atrativa de investimento para 2022, mas não como estratégia permanente, porque os juros vão voltar a cair em 2023. O aplicador não pode cometer o erro de achar que vai conseguir viver o resto da vida só com essa renda fixa sem risco.
Paulo Clini, Western Asset
Além disso, é desaconselhável fazer movimentações radicais da carteira, daquelas em que o aplicador simplesmente zera tudo em uma classe de ativos para ficar 100% em outro investimento.
Camilla Dolle diz, por exemplo, que dentro da própria renda fixa há alternativas além das aplicações que seguem a Selic. Assim o investidor precisa ter também investimentos de longo prazo que acompanhem a inflação e outros prefixados.
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