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Ação da Eletrobras privatizada estreia em queda, em momento ruim da Bolsa

Ações vendidas no processo que privatizou a Eletrobras fecham em queda no primeiro dia de negócios - Amanda Perobelli/Reuters
Ações vendidas no processo que privatizou a Eletrobras fecham em queda no primeiro dia de negócios Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

13/06/2022 13h51Atualizada em 13/06/2022 18h02

As ações da Eletrobras vendidas no processo de capitalização que privatizou a companhia estrearam com baixa na Bolsa nesta segunda-feira (13), fechando o dia com perda de 2,2%, cotadas a R$ 40,10, em um dia marcado pela queda do Ibovespa, que recuou 2,73%, a 102.598 pontos.

Mas a desvalorização não deve ser usada como parâmetro para decisões por parte dos investidores, em especial por quem usou recursos do FGTS para comprar o papel, dizem profissionais de mercado ouvidos pelo UOL. Por dois motivos: essa aplicação é de longo prazo, e a empresa está sendo afetada hoje por fatores que atingem toda a Bolsa. Veja abaixo o que dizem analistas.

Timing ruim para Eletrobras estrear

A estreia das ações da Eletrobras vendidas na capitalização acontece em um momento negativo para as Bolsas no Brasil e no mundo. Desde a semana passada, alguns dos principais índices acionários vêm registrando perdas em meio à saída de investidores da renda variável.

Só na semana passada, o Ibovespa caiu 5%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones 30, da Bolsa de Nova York, recuou 4,6%, o S&P 500, da mesma Bolsa, cedeu 5,1%, e o Nasdaq, da Bolsa eletrônica norte-americana, perdeu 5,6%.

Os mercados estão preocupados com dados recentes da inflação no mundo, em especial nos EUA, onde o indicador atingiu 8,6% nos 12 meses encerrados em maio — o maior patamar dos últimos 40 anos.

Inflação alta significa maior possibilidade de os bancos centrais elevarem juros de forma mais acelerada nos EUA e Europa, o que estimula busca pela renda fixa e atrapalha aplicações em renda variável.

E, justamente nesta semana, haverá reuniões dos bancos centrais do Brasil, amanhã e quarta-feira, e dos Estados Unidos, o que aumenta o grau de incerteza nos mercados.

Além disso, aumentou a preocupação dos investidores brasileiros com os gastos do governo. O temor é o de que a dívida pública volte a crescer mais rapidamente por causa com medidas em estudo para reduzir os preços dos combustíveis por meio de redução de impostos, como a proposta de zerar o ICMS.

Nosso principal índice de ações cai fortemente puxado pelos efeitos negativos de fatores domésticos, como o risco fiscal que vem junto com a medida para baratear combustíveis apresentada pelo governo, e também internacionais, como as medidas para conter a inflação ao redor do mundo.
Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico Investimentos

Venda de ações após alta para embolsar lucros

Além disso, dizem profissionais de mercado, as ações da Eletrobras estão passando por um movimento de realização de lucros de curto prazo. O papel chegou a acumular alta de 14% ao longo de maio, à medida que o processo de privatização foi avançando.

Parte dessas variações da ação no curto prazo é motivada por investidores que tinham comprado ações da Eletrobras antes, logo quando foi anunciada a privatização e, agora, aproveitam para liquidar a posição e apurar o ganho desse período.
Rafael Marques, especialista em finanças e CEO da Philos Invest

Investimento com FGTS é de longo prazo

Analistas dizem que o aplicador que usou recursos do FGTS para aplicar nos Fundos Mútuos de Privatização Eletrobras (FMP Eletrobras) não deve se desesperar com a desvalorização do papel hoje, nem com as oscilações que ainda vão ocorrer ao longo dos próximos dias, semanas e meses. Eles citam alguns motivos para manter a calma.

Investimento travado: O aplicador não pode resgatar o dinheiro antes de completar um ano, de acordo com as regras da oferta. Após esse período, o investidor pode pedir resgate do fundo FPM, mas o capital volta para a conta do FGTS.

Antes disso, a pessoa pode pedir resgate, seguindo as regras para uso do FGTS: nos casos de demissão, aposentadoria, falecimento, uso para moradia, três anos sem registro em carteira, doenças graves, quando o trabalhador completa 70 anos, ou em caso de calamidade pública.

Ganhos aparecem no longo prazo: O investidor trocou um produto de renda fixa por uma aplicação de renda variável. E, nesse caso, o desempenho não aparece no curto prazo, dizem analistas.

É com o passar dos anos que as mudanças feitas na Eletrobras privatizada devem se converter em ganhos de eficiência, aumento de receitas e de lucros, dizem analistas. Por isso, esse investimento deve ser avaliado após alguns anos e não depois de alguns dias.
O aplicador não pode ter nem arrependimento, se a ação cair por uns dias, nem euforia, se a ação começar a subir rapidamente.

Investimento em Bolsa é uma aplicação de longo prazo, de cinco anos, pelo menos. Tem que acreditar nas mudanças da empresa ao longo dos próximos anos, que vão representar ganhos de resultados.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos

Fundos têm desempenho superior ao do FGTS

Profissionais de mercado destacam ainda que o histórico dos Fundos Mútuos de Privatização é positivo, considerando os desempenhos apurados pelas carteiras que aplicaram em Vale e Petrobras.

Veja abaixo o desempenho de alguns deles, considerando os períodos em que foram lançados, segundo dados apurados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Vale (27/3/2002 a 24/5/2022)

  • FMP-FGTS Vale I: +2.812%
  • Ibovespa: +724%
  • FGTS: +133%

Petrobras (17/8/2000/ a 24/5/2022)

  • FMP-FGTS Petrobras II: +1.359%
  • Ibovespa: +524,7%
  • FGTS: +152,6%

A decisão de usar parte do FGTS para investir em ação é bastante tranquila, porque FGTS rende pouco. O fundo Eletrobras pode até perder do Ibovespa, mas a comparação que vale é aquele com o FGTS que, no longo prazo, vai render menos.
Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo Investimentos

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