Caso Scarpa: Dá para ter rendimento garantido de 5% ao mês?
Mayke e Gustavo Scarpa alegam ter sido vítimas de um golpe após terem investido R$ 11 milhões em criptomoedas. Eles esperavam receber um retorno de até 5% ao mês com seus investimentos.
Mas especialistas dizem que esse tipo de ganho é muito fora da curva. Além disso, não há como garantir um rendimento em ativos na renda variável, ainda mais em um investimento tão instável como criptomoedas.
O que aconteceu no caso Scarpa?
Os jogadores de futebol acusam três empresas de terem aplicado um golpe milionário neles. São elas: Xland, WLJC Consultoria e Soluções Tecnologia Eireli.
A Xland havia prometido retorno entre 3,5% e 5% ao mês, de acordo com boletim de ocorrência aberto pelos jogadores Gustavo Henrique Furtado Scarpa e Mayke Rocha de Oliveira. Eles investiam a partir da consultoria WLJC, em que o também jogador de futebol Willian Bigode é sócio.
Eles solicitaram o resgate do dinheiro, o que não aconteceu.
O empresário Gabriel Nascimento, um dos sócios da Xland, afirmou que ela foi vítima da FTX. A plataforma de compra e venda de criptomoedas FTX tinha sede nos EUA. Encerrou as atividades em novembro do ano passado em meio a acusações de fraude.
Quanto eles investiram?
Gustavo Scarpa colocou R$ 6,3 milhões e Mayke, R$ 4,08 milhões. Eles investiam pela consultoria WLCJ.
A sócia da WLCJ, Camila Moreira, indicou o investimento na empresa Xland Holding Ltda para os jogadores, que atuava com criptomoedas.
Em uma conversa pelo WhatsApp, Camila diz que o investimento em criptomoedas "é considerado de risco", e disse que a rentabilidade garantida era de 2% ao mês. Ela ainda indicou colocar até R$ 100 mil, de acordo com os prints da conversa, anexados ao processo aberto pelos jogadores.
É possível conseguir um retorno de 5% ao mês?
Possível é, porém com um alto grau de risco e sem nenhuma garantia.
Rodrigo Bernardo, educador financeiro da Barkus.
O investimento em criptomoedas é considerado de renda variável e de alto risco.
Não dá para garantir essa rentabilidade. Ele ressalta que não pode existir nenhuma promessa de rentabilidade, ainda mais uma rentabilidade tão alta. Na renda variável, existem variações que gestor nenhum é capaz de prever e controlar.
"Portanto, o alerta máximo ao qual precisamos estar atentos é este: se há promessa, em renda variável, de ganhos, suspeite. Se a promessa for de uma taxa extremamente acima do que o mercado costuma pagar, suspeite ainda mais", diz Bernardo.
Quanto rende o bitcoin?
Hoje, o bitcoin, a criptomoeda mais conhecida e estabelecida no mercado, está valendo US$ 25,9 mil. Desde o começo do ano, no entanto, já se valorizou mais de 45%.
Em doze meses, porém, o bitcoin caiu quase 39%. Há dois anos, o valor era de R$ 59,3 mil, ou seja, perdeu mais de metade do seu valor desde então.
E quanto rendem outros investimentos?
Em doze meses, a poupança subiu 8,18%. Já o CDI se valorizou 13,01% e os títulos do Tesouro Direto ganharam 10,51%. Por outro lado, o Ibovespa teve queda de 7,26% em 12 meses até fevereiro.
A Selic, taxa básica de juros, é o principal parâmetro para comparar investimentos. Hoje, ela está em 13,75% ao ano, cerca de 1,08% ao mês. Se um investimento tem uma rentabilidade muito acima disso, pode ser mais arriscado.
"Já podemos perceber que rentabilidade de 5% ao mês é bastante fora da curva", diz Rodrigo Bernardo, educador financeiro da Barkus.
"Muito provavelmente, esse investimento aumentará de risco na proporção em que aumentar de retorno", diz Ana Thereza Mantovanini Aguiar, advogada da área de Bancário, Meios de Pagamento e Fintechs do FAS Advogados.
Veja o que olhar antes de investir
Suspeite de ganhos muito altos. Para saber se o ganho é ilusório, basta usar como referência a taxa Selic.
Se um investimento promete algum retorno, pode ser fraude. Não existe enriquecimento fácil e, quando a gente está falando de criptomoedas, são ativos de alto risco e instabilidade que se encontram dentro do universo da renda variável. E a principal característica é justamente a falta de garantia de retorno, diz ele.
Desconfie mesmo se o investimento ou corretora for recomendado por amigos ou conhecidos. Eles também podem estar sofrendo um golpe e ainda não descobriram.
Fique de olho se alguém se oferecer para gerenciar o seu dinheiro. Esse tipo de atuação no mercado de criptomoedas não é autorizado nem regulamentado pelos órgãos competentes no Brasil.
Investimentos em criptomoedas são exceção
As corretoras de criptomoedas não precisam ser registradas.
Não há ainda uma central de registros para se verificar se uma corretora de criptomoedas de fato existe, diz Ana Thereza Aguiar.
A advogada diz que a esperança do mercado de moedas digitais é ter mais fiscalização depois do Marco Regulatório, que entrará em vigor a partir do meio deste ano. Veja aqui como se proteger de golpes com criptomoedas e como analisar a situação da corretora antes de investir.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
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