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Crise do Credit Suisse e dos bancos nos EUA pode se espalhar para o Brasil?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/03/2023 16h00

Ações de bancos do mundo todo estão em queda, depois da quebra de dois bancos americanos e das dificuldades divulgadas pelo Credit Suisse. Mas especialistas dizem que essa crise não deve afetar os bancos brasileiros

O que está acontecendo?

  • O maior investidor do Credit Suisse - o Saudi National Bank - afirmou que não poderia fornecer ao banco mais socorro financeiro por questões regulatórias.
  • Mas a Suíça pode disponibilizar quase R$ 1,5 trilhão (US$ 280 bilhões) para estancar a crise financeira e permitir que a fusão entre o UBS e o Credit Suisse ocorra, sem novos riscos para o mercado.
  • O Credit Suisse disse que identificou "fraquezas materiais" nos controles sobre relatórios financeiros.

De onde vem o problema do Credit Suisse?

  • A crise no Credit não é de hoje. O segundo maior banco da Suíça está tentando se recuperar de escândalos desde o ano passado.
  • O grupo do Credit Suisse e uma ex-funcionária foram considerados culpados em junho do ano passado, em um tribunal criminal federal suíço, por ajudar uma quadrilha búlgara a lavar dinheiro relacionado ao tráfico de cocaína.
  • Os clientes já estavam desconfiados e tiravam seu dinheiro do banco. Os saques no quarto trimestre aumentaram para mais de 110 bilhões de francos suíços (US$ 120 bilhões).

E qual foi o problema do Silicon Valley Bank?

  • A onda de saques gerou a quebra do banco. Ele teve a falência decretada por autoridades americanas no dia 10.
  • O SVB é um banco regional, com patrimônio menor que US$ 250 bilhões. Desde a administração de Donald Trump, esses bancos pequenos não precisam oferecer garantias como os maiores. Parte de suas garantias estava no valor de startups.
  • Aumento de juros levou startups a ficarem sem dinheiro. Elas começaram a sacar recursos que estavam no SVB.
  • O SVB contabilizava em seu balanço o que ele deveria ganhar em aplicações de longo prazo. Esse total era sete vezes o seu patrimônio e fazia parecer aos clientes que tudo estava bem.
  • Com um balanço mais detalhado, os clientes ficaram desconfiados e sacaram seu dinheiro.
  • O banco ficou sem recursos para bancar todos os resgates.
  • O banco precisou tirar dinheiro dessas aplicações e saiu perdendo. É o que acontece com pessoas físicas que resgatam títulos de renda fixa antes do vencimento, explica Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.
  • Na esteira do SVB, o Signature Bank, de Nova York, também foi fechado pelos reguladores há alguns dias.
  • No caso dos dois bancos, os clientes também terão o resgate do dinheiro garantido pelas autoridades americanas.

Isso pode acontecer com outros bancos?

  • Ainda é cedo para saber se essa crise tem potencial para se espalhar. A avaliação é de Rafael Schmidt, operador de renda variável da One Investimentos.
  • Oliveira, da Quantzed, também acredita que os problemas enfrentados pelos bancos brasileiros são diferentes das crises dos bancos internacionais. Por isso, a crise não deve se espalhar.
  • Risco é efeito cascata. O sistema financeiro é todo interligado, diz William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue. "Se você deposita em um banco, esse banco pode estar securitizado (segurado) por fundos ou títulos emitidos por outros bancos", declara ele.
  • Os bancos que podem ser afetados pelo mundo são aqueles que já vinham tendo problemas, como o Credit, diz Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo.
  • No Brasil, o nível de regulação dos bancos é mais rigoroso que o dos bancos regionais americanos, até para os bancos menores e digitais.
  • Por aqui, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) garante o pagamento de R$ 250 mil a cada cliente em cada banco em caso de problemas.
  • Se o Credit quebrar, outros bancos podem ser afetados e a crise pode arrastar instituições maiores do mundo todo, que tenham negócios com o Credit, diz Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.

O que pode acontecer com os juros?

  • O que assusta os investidores é que o nível de inadimplência dos bancos por aqui anda crescendo.
  • Os juros altos também prejudicam os bancos. Eles ganham numa ponta, recebendo mais por seus empréstimos. Mas os clientes têm mais dificuldade de pagar suas dívidas. Por isso, a inadimplência sobe.
  • Nos Estados Unidos, a pressão sobre os bancos regionais americanos pode fazer o Federal Reserve, o banco central dos EUA, dar uma pausa na alta de juros, diz Rafael Schmidt, da One.
  • Já a Selic, a taxa de juros básica no Brasil, ainda está alta por causa da inflação, diz Medina.
  • Por outro lado, Gala diz que a crise do Credit é bem mais séria que a do SVB e por isso os bancos centrais do mundo todo devem, sim, rever sua política de juros.
  • O Banco Central do Brasil deve começar a rever a alta dos juros. "Muitas empresas estão com dificuldade de vendas, com os lucros caindo e com dificuldade de conseguir financiamento. A gente já vem vendo algumas com dificuldades", diz ele.

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