Dá para pagar por cerveja e surfe na praia de Jericoacoara com bitcoin
É possível pagar por cerveja, escola de surfe e pelo almoço com bitcoin em Jericoacoara, vila turística no Ceará. Esses comércios fazem parte do Praia Bitcoin, projeto de economia circular baseado na principal criptomoeda do mercado.
Atualmente, cerca de 25 estabelecimentos comerciais aceitam bitcoin na vila, entre restaurantes, barbearias, docerias, mercadinhos e escolas de surfe. As transações acontecem na Lightning Network. Essa é uma rede descentralizada de blockchain, que permite pagamentos instantâneos entre uma rede de participantes.
O projeto foi criado por Fernando Motolese, 40, empresário e produtor audiovisual. Ele criou a rede de pagamentos em outubro de 2021, depois que a pandemia da covid-19 tirou suas principais fontes de renda.
Como funciona o pagamento com bitcoin
Os preços são medidos por satoshis. O satoshi nada mais é do que uma fração do bitcoin. O nome vem de Satoshi Nakamoto, o pseudônimo utilizado pela pessoa ou pessoas que criaram a moeda virtual. Na última sexta-feira (16), um satoshi custava R$ 0,001234. No mesmo horário, a cotação do bitcoin era de US$ 26,213.
Uma água sem gás custa 3.250 satoshis, ou R$ 4. Uma cerveja custa 12.155 satoshis, ou R$ 15. Um prato feito sai por 20.000 satoshis, R$ 24,68. Como os preços são fixos em satoshis, a variação do bitcoin não afeta a economia local.
Como pagar usando a criptomoeda? A maioria dos estabelecimentos comerciais que aceitam bitcoin usa a PraiaPay, uma maquininha preparada para receber pagamentos pelo sistema escolhido, o Lightning.
A ideia é que os moradores locais usem a moeda. Mas turistas também podem fazer pagamentos, basta baixar uma carteira bitcoin que funcione com o sistema Lightning.
A maquininha é usada até por crianças na compra das frutas nas escolas. A venda de frutas é realizada por 10 satoshis, pouco mais R$ 0,01 por fruta, diariamente durante o recreio. Elas usam um cartão pré-pago, sem a necessidade de um smartphone. O Praia Bitcoin apoia, com doações, a Escola Municipal Nossa Senhora da Consolação, que tem 370 estudantes e 20 professores.
Fornecer frutas para as crianças e ensiná-las a usar bitcoin é a melhor forma de trazer a ideia para o mundo real, causando um impacto extremamente positivo para comunidade e todos envolvidos.
Fernando Motolese, fundador do Praia Bitcoin
Instabilidade pode ser problema. Em tempos de instabilidade econômica e inflação elevada, a grande barreira para o bitcoin é a forte oscilação —a criptomoeda pode variar seu preço em mais de 10% em um mesmo dia. Mas, como o bitcoin é usado como moeda de troca na cidade de Jericoacoara, essa instabilidade não tem tanta relevância.
Treinamento com os moradores
Para começar o projeto, fundadores precisaram investir bitcoins. "Precisamos gastar bitcoin com pessoas locais que nunca entraram em contato com o bitcoin antes, fazendo pequenas transações reais para ensinar como usar esse novo tipo de dinheiro. Caso contrário, seria impossível", diz o fundador.
Houve treinamento com os moradores da região. Eles também buscam doações da moeda, para fortalecer a economia circular da região. Entre os objetivos concretos, está o fornecimento de frutas para os alunos e funcionários da escola local, produção de materiais e workshops junto a comunidade local e publicação do livro "Economias Circulares Padrão Bitcoin", de autoria do próprio Fernando Motolese.
Alpem de Motolese, amigos ajudaram no projeto. O advogado Éric Linhas ajudou a fazer a estruturação legal do Praia Bitcoin. Já Vinicius Kinczel é um YouTuber que tem um canal, o Palavra de Satoshi, e foi um doador importante do Praia Bitcoin.
Inspiração veio de fora
El Salvador inspirou a iniciativa. Um pouco depois do surgimento da pandemia, em setembro de 2021, o país da América Central anunciava o bitcoin como a sua moeda oficial, substituindo o dólar.
País também tem projeto similar. O Bitcoin Beach é um projeto fundado em 2019, que conta com 120 negócios e diz ter auxiliado cerca de 500 famílias em El Salvador. A criação é do americano Mike Peterson.
Minha motivação inicial foi poder utilizar o bitcoin como meio de troca. Este objetivo foi rapidamente alcançado, e o primeiro ganho foi minha soberania financeira individual. A partir daí, comecei a entender como funcionava a economia e o sistema bancário tradicional, até concluir que o bitcoin é um sistema mais barato, rápido e eficiente que pode devolver o poder ao indivíduo.
Fernando Motolese, fundador do Praia Bitcoin
Novo projeto em São Thomé das Letras, MG. Motolese diz que treinou Lucas Leiva para replicar o experimento em São Thomé das Letras (MG) para estruturar o Montanha Bitcoin,. O objetivo é promover atividades educacionais na cidade mineira em breve.
Sempre compensa mais pagar em bitcoin, pois isso carrega consigo uma mensagem, um protesto pacífico e silencioso de um tipo de meio de troca que é livre, que não pode ser diluído ou inflacionado, com uma política econômica previsível.
Fernando Motolese, fundador do Praia Bitcoin
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