Qual é o dress code do pós-pandemia? Empresas apostam no "seja você mesmo"
Depois de mais de dois anos trabalhando de casa e vestindo roupas confortáveis - para muitos, a calça de moletom virou o uniforme da pandemia -, trabalhadores de todo o país entram novamente na rotina de decidir o que usar no escritório.
A boa notícia é que o modelo remoto confirmou a tendência de flexibilização do dress code (termo em inglês usado para se referir ao código de vestimenta) que muitas empresas já haviam adotado na esteira das iniciativas para tornar seus ambientes mais acolhedores. Especialistas garantem que não há mais volta para esse processo.
"Hoje temos no mercado de trabalho diversas gerações (baby boomers e gerações X, Y e Z) atuando juntas, e especialmente as mais novas valorizam o conforto e o relacionam com a possibilidade de mostrar sua essência", afirma Dani Amorim, sócia da consultoria KD Imagem e Marca Pessoal. "A pandemia não foi o start dessa onda, mas ela deu aquele empurrão a mais porque muitas empresas viram, na prática, que o dress code informal pode funcionar."
A ideia é dar aos funcionários a liberdade de serem eles mesmos e remover da equação o estresse de não se enquadrar em um perfil imposto. No final do dia, quem trabalha à vontade e sente que é respeitado por isso se engaja mais e produz mais.
"Quando você se sente à vontade, trabalha melhor - por isso, acredito que uma política de dress code flexível contribui para o engajamento e produtividade dos times, que ficam livres para se expressarem e confortáveis para performar melhor no ambiente de trabalho", resume Izabel Branco, vice-presidente de Relações Humanas da TOTVS, onde é permitido o uso de bermudas, camisetas, vestidos, rasteirinhas e tênis.
"Nosso foco é em performance e em resultado, não na aparência do colaborador ou em como ele está vestido", reforça Claudia de Souza, head de people da Sympla, empresa adepta do no dress code (ausência de regras sobre o que vestir em seu ambiente). No QG de Belo Horizonte, por exemplo, tirar os sapatos e caminhar de meias pelo escritório é algo comum. "Ser uma única pessoa na vida pessoal e na vida corporativa traz mais transparência e clareza em todos os níveis."
"Já está provado por estudos que ser você mesmo é um combustível para inovação", concorda Bernardo Marinho, diretor de recursos humanos da IBM no Brasil. "Para nós, como empresa de tecnologia, isso é vital - e uma coisa a menos com que os funcionários têm que se preocupar."
Veterana nessa jornada, a IBM completou, em fevereiro deste ano, cinco anos de no dress code. Apesar da flexibilização interna, a empresa sempre manteve o cuidado no relacionamento com clientes, incentivando os funcionários a se vestirem de maneira condizente com as regras de cada um e respeitando os mais formais. "Agora percebemos que, nos últimos dois anos, os clientes também estão mudando", conta Marinho.
O banco Bmg é um exemplo de empresa que, apesar de atuar em um setor mais conservador, vem promovendo mudanças no código de vestimenta. Em fevereiro de 2020, aderiu ao no dress code como parte da estruturação de sua diretoria de transformação organizacional, que implementou ainda outras ações como licença-paternidade estendida e home office.
"No passado, a palavra 'banco' tinha um peso e uma história de tradição que envolviam terno, gravata e terninho, mas não somos mais esse banco da década de 1980: o Bmg é moderno e personalizado e precisamos trabalhar essa mensagem de constante evolução", diz Daniel Pavelec, diretor de transformação organizacional. "Queremos que nossos colaboradores tenham autonomia, empoderamento e engajamento e isso passa por respeitar o conforto de cada um."
Não deu tempo para aproveitar direito a novidade in loco antes de a pandemia fechar tudo no ano de inauguração das novidades. O banco se adaptou e distribuiu camisetas de seus programas para que os colaboradores vestissem durante as reuniões virtuais. "Isso ajudou a dar o gancho: 'Será que eu vou de camiseta? Sim, vou, inclusive com a do próprio banco'", conta Pavelec.
Há poucos meses, desde que os funcionários voltaram ao escritório, é comum ver pessoas vestindo camisas de times de futebol ou de bandas de rock, bermudas e chinelos.
Dress code e diversidade
Abrir mão de regras rígidas sobre como se vestir também tem a ver com diversidade e inclusão, temas cada vez mais valorizados no mercado de trabalho e que influenciam na atração e na fuga de talentos.
"A forma como nos vestimos está relacionada à nossa identidade e acomodar todas elas permite, por exemplo, que pessoas transgênero se vistam e sejam reconhecidas da maneira como desejam", diz Caroline Zilinski, diretora de pessoas e organização da Siemens, que acredita ainda que o fato de a empresa estar aberta a essas conversas reforce o caráter genuíno de sua cultura de inclusão.
"Em termos de marca empregadora, o no dress code é um no brainer, especialmente em momentos de mercado aquecido", acredita Pavelec, do Bmg. "Eu não vejo um talento hoje, depois da pandemia, aceitar permanecer em uma empresa onde não se sente à vontade para se expressar ou estar confortável."
Exemplo que vem de cima
Para que toda a estratégia por trás da eliminação das regras de dress code não se torne algo de fachada, apenas para impressionar o mercado, as empresas precisam comunicá-la e explicá-la em detalhes aos funcionários, de acordo com Karla Giacomet. "Rasgar a cartilha foi incrível e agora é hora de fazer os ajustes necessários para que tudo siga da melhor forma possível."
É preciso, por exemplo, estabelecer uma relação de confiança para que os funcionários tenham a certeza de que não serão levados menos a sério e não perderão oportunidades de crescimento por se vestirem de maneira informal. "Também é importante deixar claro que um ambiente sem dress code permite, inclusive, o uso de ternos e blazers e está tudo bem", acredita Karla.
A empresa de software TOTVS faz questão de deixar isso claro para seus colaboradores: quem prefere adotar um visual mais formal também é bem-vindo. Para a vice-presidente de Relações Humanas Izabel Branco, inclusive, os diferentes estilos estimulam mais diálogos e trocas de ideias e ampliam o senso de comunidade dentro da companhia.
Mostrar que a alta liderança segue o código é outra estratégia que costuma funcionar, e o trabalho remoto durante a pandemia contribuiu para isso. Tornou-se mais comum, por exemplo, ver a alta cúpula vestindo camisetas, sinalizando aprovação aos outros funcionários.
Deu certo na Siemens, que já teve um passado mais formal. O incentivo para que cada funcionário se vestisse como gostaria de ser visto veio em 2019, com uma campanha que incluiu vídeo e perguntas e respostas. Mas, antes disso, os executivos começaram a dar pistas de que o cenário estava mudando. "Nossa flexibilização começou mesmo com a alta liderança, que retirou a gravata e o terno e trouxe o jeans para o dia a dia", lembra Caroline Zilinski.
"Nossos diretores passaram fazer reuniões de bermuda e eu mesmo uso a peça para reforçar o comprometimento", conta Pavelec, do Bmg. "No começo, o no dress code pode parecer mesmo uma mensagem mais institucional, por isso é preciso deixar o exemplo falar mais alto."
Lugares Incríveis para Trabalhar
O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e as empresas vencedoras devem ser anunciadas em agosto.
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