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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prever o futuro é impossível: veja como lidar com investimentos em 2023

Você sabe como agir e tomar boas decisões na hora de investir sem saber o futuro? - damircudic/iStock
Você sabe como agir e tomar boas decisões na hora de investir sem saber o futuro? Imagem: damircudic/iStock
Valter Police

23/01/2023 04h00

É muito comum que, em todo início de ano, você veja no noticiário matérias que traçam perspectivas e previsões para as mais diversas áreas de negócios. No mercado financeiro, isso não é diferente.

Certamente, você terá uma grande variedade de previsões sobre o comportamento das taxas de juros, das expectativas de inflação, do crescimento da economia pelo PIB, entre muitas outras. No entanto, uma dessas previsões é a que mais me chama a atenção: Quantos pontos terá o Ibovespa no fim do ano?

Projetar esse dado dá ao investidor a ideia de que é possível saber quanto se valorizará a Bolsa de Valores brasileira. Se fosse assertiva, essa previsão também poderia balizar muitas estratégias de montagem, manutenção e balanceamento de carteiras de investimento. Com esse panorama, tudo ficaria mais fácil na hora de decidir sobre onde investir.

Mas, como quase tudo que parece bom demais, projetar como estarão as ações no mercado também pode levar o investidor a tomar ações equivocadas.

Isso acontece por um motivo simples: as previsões, em sua grande maioria, estão erradas. Isso não acontece porque os analistas são maus profissionais ou porque suas análises carecem de rigor formal. Isso acontece por uma questão bem mais simples: é impossível prever o futuro.

Não importa se a análise é sobre a Bolsa brasileira, americana ou qualquer outra. É inviável prever o comportamento dos ativos. Quanto menor o prazo, maior a chance de errar, e maior também o tamanho do erro.

Vou dar alguns exemplos:

  • De acordo com um estudo feito pelo Market Makers sobre a Bolsa brasileira entre 2005 e 2022, a diferença entre a previsão média dos analistas e a realidade foi menor do que 10 pontos percentuais em apenas cinco dos 18 anos.
  • A diferença foi menor do que 5 pontos em apenas em um dos 18 anos.
  • Houve um ano (2008) em que a diferença foi maior que 68 pontos.
  • E mesmo em um ano sem uma grande crise (2011), houve um erro acima de 48 pontos.
  • Durante o período de 18 anos, erro médio foi de mais de 23 pontos percentuais.

Eu me lembro que há alguns anos a revista americana "The Economist" publicou uma matéria cujo título foi "A precisão das análises sobre ações: consistentemente erradas". Se os dados de realidade são consistentes, então, por que ainda se fazem essas previsões e, mais importante, por que alguém ainda se baseia nisso para decidir onde investir?

A professora e consultora de psicologia econômica e finanças comportamentais Vera Rita de Mello Ferreira tem uma frase ótima que gosto de citar. De acordo com ela, "o ser humano não suporta não saber. Isso incomoda tanto, que as pessoas preferem se tapear, se iludir, fazer de conta que agora sabem".

Lidar com o fato de que não sabemos o que vai acontecer não é fácil, mas para bons investidores, é necessário. Caso não consigamos agir assim, investiremos sempre como em uma aposta, na qual as maiores chances são de estarmos errados e, assim, perdermos dinheiro.

Então, como agir e tomar boas decisões sem saber o futuro? Simples: usando a regra de ouro do bom investidor, a diversificação.

A própria professora Vera Rita diz: "Se você perder um pouco aqui, é bem possível que consiga ganhar acolá e vice-versa. Então, é melhor distribuir os recursos entre produtos de diferentes setores que sejam estruturados de maneira diferente também". Em resumo, a boa diversificação é o único almoço grátis em finanças, como o próprio Harry Markowitz (prêmio Nobel e "pai" da teoria moderna de carteiras) já disse.

Assim, deixe as previsões de lado e monte sua carteira de investimentos, que deve refletir muito mais o seu perfil e os seus objetivos, do que o cenário econômico previsto e mesmo atual. Ah, e se puder contar com o auxílio de um gestor profissional, melhor ainda.

Boas escolhas, ótimas decisões, um 2023 maravilhoso para você e suas finanças!

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.