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Auxílio emergencial pode afetar desempenho do comércio na Bolsa? Entenda

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/04/2021 04h00

A nova rodada do auxílio emergencial, que começou a ser distribuída em abril, aumentou a expectativa dos investidores sobre o desempenho das empresas de comércio de bens e serviços na Bolsa de Valores. Dos quase R$ 45 bilhões destinados ao programa, R$ 12,75 bilhões serão gastos no setor, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Apesar dos últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrarem um aumento de 0,6% nas vendas do setor, após dois meses seguidos de queda, os analistas ouvidos pelo UOL afirmam que, diante da redução de dois terços no valor do auxílio com relação ao que foi distribuído em 2020, o montante será insuficiente para assegurar uma retomada.

Esse cenário afeta o desempenho das companhias do setor listadas na Bolsa de Valores? É o momento de investir? Confira o que dizem os analistas.

Reaquecimento depende do ritmo da vacinação

Para os especialistas, mais do que o auxílio emergencial, a retomada do setor do comércio depende do ritmo de vacinação. Vitor Carvalho, analista de equities da InvestMind, plataforma de análise de investimentos, afirma que as empresas que acelerarem a retomada assim que a economia reabrir tendem a ocupar mercado.

O auxílio por si só não parece suficiente para determinar uma plena recuperação das empresas. O máximo que ele pode representar é um repique [movimento rápido de alta nos preços] das ações de varejo nos próximos meses frente às quedas recentes.
Vitor Carvalho, da InvestMind

Enquanto o auxílio for distribuído, o comércio de alimentos deve ser o principal beneficiado. "As empresas de comércio alimentício como Pão de Açúcar, Assaí e Atacadão podem apresentar um bom desempenho", diz. Com o avanço da vacinação, a aposta está em empresas do comércio digital. "Visualizo empresas de e-commerce, como B2W, Americanas, Via Varejo e Magalu desempenhando melhor".

Confira o lucro líquido das principais empresas de comércio listadas na Bolsa de Valores.

Comércio online pode ser o mais beneficiado

A adesão em massa às compras online tende a ser duradoura e ampla, estimulando o desempenho do segmento mesmo depois da reabertura. É o que pensa Renato Meirelles, presidente da consultoria de negócios Locomotiva e fundador do Data Favela, que tem estudado o comportamento de consumo do brasileiro diante da distribuição do auxílio emergencial.

Meirelles destaca que muitos brasileiros de menor renda iniciaram sua experiência de consumo no mundo digital durante a pandemia por conta do pagamento via aplicativo do auxílio. Para ele, a entrada dos serviços digitais na vida dessas pessoas é definitiva. "É um movimento sem volta. A pandemia acelerou em uma década (a digitalização do consumo)", avalia.

Esse movimento beneficia as empresas que já estavam digitalizadas. Não à toa, companhias como Magazine Luiza continuam em alta na Bolsa de Valores, apesar da pandemia.

Uma análise da XP Investimentos dá conta de que, até o fim do primeiro semestre, o comércio online deve levar vantagem com relação às concorrentes do mundo físico por conta das medidas de restrição de circulação. Com a perspectiva de uma abertura no segundo semestre, o quadro pode mudar, com as empresas de operação física retomando a dianteira.

Comércio de roupas e entretenimento também ganham espaço

Beto Assad, analista técnico de ações e consultor financeiro da startup de investimentos Kinvo, afirma que o auxílio deve incrementar o faturamento de empresas de alguns segmentos específicos, como alimentação e saúde.

Os setores de vestuário, entretenimento e turismo serão pouco impactados. O quanto antes vacinarmos a população, antes retomaremos nossa rotina econômica e poderemos ver uma recuperação mais consistente e saudável das empresas.
Beto Assad

Na Bolsa, comércio ainda é promissor para investidor

Segundo análise da XP Investimentos, mesmo diante de um auxílio emergencial enxuto, os gestores de investimento parecem animados com o desempenho para este ano.

Uma pesquisa realizada pela corretora no começo de abril, com 32 gestoras de investimento, mostrou que o comércio de bens e serviços é visto como o setor mais promissor na Bolsa para os próximos 12 meses, com 58% dos gestores apostando que as ações das empresas de comércio serão as de maior destaque.

Confira os setores mencionados.

Porém, o bom desempenho do setor pode não ser convertido em dividendos mais atrativos, segundo projeção da Guide Investimentos. Das 10 ações que mais podem dar retorno a seus acionistas ao longo do ano, nenhuma delas é do comércio. Isso porque o setor geralmente paga menos aos investidores, mas também por questões estruturais.

Luis Sales, estrategista-chefe da Guide, reforça que a desidratação do auxílio emergencial, a inflação de alimentos e combustíveis e a redução do poder de compra dos consumidores, trazem perspectivas menos animadoras.

Mas uma abertura comercial tende a estabelecer um rápido crescimento para as empresas do setor. Acho vai depender de um cenário de vacinação.
Luís Sales, da Guide

Davi Fontenele, analista de fundos da XP, também acredita que a depreciação acentuada das empresas do setor ao longo do último ano abra espaço para crescimento em 2021, a despeito do auxílio emergencial pouco relevante.

À medida que a vacinação avance, as empresas bem geridas e que possuem melhor situação financeira devem ganhar espaço no mercado, que são as empresas listadas na Bolsa.
Davi Fontenele

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