TCC sobre reciclagem de lâmpada rende R$ 60 mil por mês a engenheiro
Um TCC (trabalho de conclusão de curso) para a pós-graduação em gestão de negócios foi transformado na empresa que hoje é fonte de renda do engenheiro eletrônico Rodolfo Ferraz, 42.
Rodolfo Ferraz trabalha com reciclagem de lâmpadas
O trabalho, apresentado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, era um plano de negócios para a criação da companhia fictícia Green Company, de reciclagem de lâmpadas. A tese foi elogiada pelo professor, que recomendou que o projeto saísse do papel. E foi o que fez Ferraz em 2009.
A ideia de tirar o trabalho acadêmico do papel surgiu depois que o engenheiro fez uma análise detalhada de mercado e viu que poucas empresas atuavam na área de descarte e destinação correta dos componentes de lâmpadas.
Hoje, a empresa que é de São Paulo fatura R$ 60 mil por mês. Entre os clientes da companhia estão universidades, hospitais, hotéis, shopping centers e grandes redes varejistas. A companhia atua somente na capital e na grande São Paulo.
A empresa processa a média de 80 mil lâmpadas por mês. O custo do serviço é de R$ 0,75 por unidade. As grandes companhias pagam por esse serviço porque são obrigadas, por lei, a descartar de forma correta todo o tipo de resíduo (industrial, eletroeletrônico, lâmpadas de vapores de mercúrio etc.).
A coleta das lâmpadas é feita quando o cliente tem, no mínimo, 500 unidades para descartar, segundo Ferraz. "Mas geralmente eles pedem para retirarmos quando acumulam aproximadamente 2.000", diz.
O serviço é feito com um equipamento móvel, que é levado até o cliente e faz a trituração do vidro e a separação do alumínio, do fósforo e do mercúrio, substância tóxica presente nas lâmpadas. Cada componente é enviado para a destinação correta, diz Ferraz.
“O alumínio vai para cooperativas de reciclagem, o fósforo e o mercúrio vão para aterros sanitários classe 1 (específico para o descarte de resíduos perigosos) e o vidro vai para uma empresa que o utiliza na fabricação de tinta reflexiva, usada no asfalto para refletir as luzes dos veículos”, explica o engenheiro.
De acordo com a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), órgão vinculado à Secretaria do Meio de São Paulo, que regulamenta e fiscaliza o setor, os aterros sanitários de classe 1, para resíduos industriais perigosos, são totalmente diferentes dos aterros sanitários de lixo orgânico comum e não contaminam o ambiente.
Atualmente, o equipamento utilizado pela Green Company tem capacidade para processar 3.000 lâmpadas por dia. Mas a companhia já tem planos para adquirir outro e dobrar sua operação em breve.
Além de Ferraz, a empresa possui uma secretaria, um vendedor interno e outro externo, um motorista de caminhão para o transporte do equipamento, um profissional que faz o processamento do material e um que cuida do faturamento. Dois engenheiros ambientais atuam como consultores do negócio.
O investimento inicial foi de R$ 150 mil, incluindo o equipamento, o escritório, o caminhão e a licença da Cetesb. O retorno do investimento ocorreu depois de dois anos.
Em quatro anos, a Green Company já prestou serviço para 1.100 empresas, segundo Ferraz. Atualmente, conta o engenheiro eletrônico, a empresa tem 250 clientes fixos e, por conta do grande volume de trabalho, há uma média de 40 dias de espera para marcar o serviço.
Setor oferece oportunidade para micros e pequenas empresas
Há oportunidade de negócio para as micros e pequenas empresas no ramo da reciclagem, segundo Ferraz. "Para se dar bem nesse mercado, no entanto, é preciso oferecer um serviço especializado, atuar em um nicho específico. Só assim o empreendedor terá um diferencial", diz.
Trabalhar diretamente com as grandes empresas pode ser uma chance de entrar nesse mercado, na opinião de Maurício Mirra, consultor de projetos em sustentabilidade da Machado Design e Consultoria.
"A cadeia é muito grande porque essas companhias são obrigadas a descartar corretamente cada resíduo que viraria lixo. Por isso, precisam contratar uma empresa especializada na reciclagem de cada componente."
Um hospital, por exemplo, precisa contratar empresas especializadas no processamento de diferentes componentes: lixo infectado, lâmpadas, vidros, alumínio, papéis etc.
O consultor diz que a reciclagem de lâmpadas é uma pequena ponta de um segmento ainda pouco explorado: a logística reversa de eletroeletrônicos, ou seja, devolver ao processo produtivo um item descartado, dando uma nova finalidade para cada um de seus componentes.
Segundo Mirra, a gestão de resíduos tende a crescer e as micros e pequenas empresas têm vantagem diante das grandes.
“As inovações na área de reciclagem e gestão ambiental exigem agilidade, o que dá vantagem às pequenas empresas, que são mais flexíveis”, declara.
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