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Processos seletivos inovam com jogos de celular, teatro e "viagem espacial"

Processo de seleção lúdico - Brands&People/Unsplash
Processo de seleção lúdico Imagem: Brands&People/Unsplash

Felipe Floresti e Carol Castro

Do UOL, em São Paulo

24/05/2021 04h00

"Onde você se vê daqui a 15 anos?" Até pouco tempo, todo candidato a uma vaga de trabalho ensaiava uma resposta para essa e outras perguntas clássicas que certamente surgiriam na entrevista de emprego. Mas as regras do jogo começaram a mudar. Diversas empresas têm buscado maneiras criativas de conhecer melhor seus futuros funcionários, surpreendendo-os com situações inusitadas e lúdicas nos processos seletivos.

Essas mudanças não visam somente deixar os candidatos mais à vontade ou tornar o recrutamento menos burocrático. É que avaliar o currículo profissional e fazer uma entrevista formal normalmente não trazem à tona informações e características pessoais valiosas para a admissão de novos quadros.

Conheça, a seguir, cinco iniciativas que transformaram rotinas tradicionais em processos inovadores de seleção - e anote algumas dicas para se dar bem neles:

Teatro usado em processos seletivos - Antenna/Unsplash - Antenna/Unsplash
Teatro usado em processos de seleção
Imagem: Antenna/Unsplash

Teatro

Empresa: EPPO Cidades Inteligentes

Uma reunião se desenrola para lançar uma nova campanha publicitária da empresa. E um dos colegas sugere algo em tom machista - que pegaria mal para a imagem da empresa. Ele insiste nos argumentos enquanto os demais participantes apenas observam. Como você agiria nessa situação?

A cena é fictícia, mas poderia ser uma das etapas de seleção da EPPO, empresa de consultoria sobre cidades inteligentes, que inclui encenações do ambiente de trabalho. "O processo seletivo é um momento de tensão e nervosismo. O teatro leva os candidatos a outro nível de consciência e, a partir daí, fazemos uma avaliação mais assertiva das competências socioemocionais", conta Talita Souza, do setor de Desenvolvimento Humano Organizacional da EPPO.

Claro que os aspirantes a uma vaga não precisam ser atores brilhantes para se dar bem no teste. "Recomendo ir com a cabeça fresca e estar disponível para vivenciar novas experiências", aconselha Souza. "Esqueça as técnicas aplicadas. Queremos conhecer a pessoa que estará conosco e qual é seu potencial."

Viagem ao espaço

Empresa: Libbs

Participar do processo seletivo da Libbs já vale a pena só pela experiência. É que a farmacêutica leva todos os selecionáveis para o espaço - virtualmente, claro. A bordo da nave ocorrem vários imprevistos e a tripulação trabalha em equipe para tomar decisões que irão determinar a sobrevivência deles. Isso pode exigir, por exemplo, a difícil tarefa de expulsar alguém que esteja atrapalhando mais do que ajudando.

O jogo imersivo e coletivo foi desenvolvido, inicialmente, para identificar perfis de liderança entre os vendedores a fim de coletar mais elementos para avaliar promoções. O modelo deu tão certo que foi adaptado para a contratação de jovens talentos. "Queríamos ?teletransportá-los? para um lugar onde se esquecessem que estavam em uma seleção", conta Madalena Ribeiro, Diretora de RH. "Após um tempo no jogo, eles demonstram seus comportamentos sem filtros."

Um aspecto importante desse formato é que não existe preparo prévio, já que ele induz os participantes a se comportar diante de desafios e interações reais. "Se tentar ser alguém que não é, isso não se sustentará durante as rodadas. A emoção do game fica à frente, trazendo à tona as atitudes mais genuínas dos candidatos. Por isso, é necessário que a pessoa tenha uma boa percepção de si. Autoconhecimento é fundamental", explica Ribeiro.

Jogos no celular em processos seletivos - Daan Geurts/ Unsplash - Daan Geurts/ Unsplash
Processos de seleção com jogos no celular
Imagem: Daan Geurts/ Unsplash

Jogos no celular

Empresas: Magalu e Deloitte

E se para concorrer a uma vaga em uma das maiores empresas do Brasil você tivesse que mandar bem em um joguinho de celular? Milhares de pessoas participaram recentemente de recrutamentos assim na Magalu e na Deloitte.

A empresa Huddle desenvolveu alguns jogos para o RH dessas gigantes. No Repense, utilizado pelo Magalu, o candidato garimpa informações na internet para solucionar um enigma enquanto gerencia recursos, como o tempo gasto para cada tarefa.

Já no Decode, adotado pela Deloitte, o trabalho é em equipe. As pessoas são divididas em times e, por meio de um bate-papo, se organizam para decifrar três enigmas, combinando as respostas em uma equação final.

"Em uma seleção para a Deloitte, entregamos 3 mil pessoas qualificadas em apenas duas horas", conta Fernando Bueno, CEO da Huddle. "Os feedbacks são ótimos. Mais de 90% dos participantes aprovam e 98% terminam o jogo. É um nível de engajamento muito alto."

Terminado, o jogo gera um relatório das competências cognitivas e socio-emocionais do candidato e, mesmo quem não é aprovado tem acesso às informações para se aprimorar.

Bate papo com robôs

Empresa: Meireles e Freitas

Um software avalia currículos e seleciona os melhores candidatos para as vagas disponíveis. Os escolhidos batem um papo com um robô. Se a inteligência artificial aprovar o candidato, ele precisa enviar dois vídeos. Só depois dessa jornada interagindo com algoritmos ele conversa com funcionários reais da empresa - por videochamada.

Pode parecer um processo impessoal e despreocupado com os indivíduos que querem trabalhar na empresa, mas é o oposto disso. A coordenadora de Gente e Gestão da empresa de cobrança digital Meireles e Freitas, Bruna Lima, conta que assumiu o desafio de ampliar a diversidade do time de operações e percebeu um entrave importante, logo no início do processo seletivo. "Os candidatos precisavam arcar com os custos do deslocamento em cada etapa da seleção, o que limitava a participação de muitos deles."

A solução foi conduzir todo o processo à distância - decisão tomada antes mesmo da pandemia. "Nosso recrutamento oferece acessibilidade ao candidato, que pode participar de casa. Assim, atraímos mais interessados, otimizamos o tempo, e garantimos assertividade até o momento da contratação", explica Lima.

A coordenadora também deixa algumas dicas. "É essencial preparar um local tranquilo, bem iluminado e sem distrações para se apresentar nas videochamadas. Assim, o candidato fica mais à vontade e se concentra nas etapas. E se for enviar um vídeo de apresentação, sugerimos escrever um roteiro simples antes de gravar."

Perguntas e respostas

Empresa: CIEE

Um quiz por aplicativo com perguntas variadas: de português a raciocínio lógico, a questões mais específicas, sobre personalidade. Cada etapa concluída vale pontos. O prêmio: uma vaga de estágio.

A ideia do CIEE One, criado pelo Centro de Integração Empresa-Escola, que seleciona estagiários para diversas companhias, é encontrar os perfis ideais para cada vaga por meio desse jogo de perguntas e respostas. Cada resposta do estudante vira material para uma inteligência artificial avaliar o perfil e procurar um match com alguma posição de trabalho disponível.

"É um processo de desenvolvimento pessoal, do autoconhecimento à contratação", afirma Mônica Muraichi, consultora de processos seletivos especiais. Segundo ela, o processo de contratação, que duraria dois meses, ocorre em dez dias e inclui ainda uma equipe de analistas e psicólogos para dar suporte aos aspirantes à estágio. "Queremos que o estudante se sinta incluído no processo. Se ele não se vê ali, talvez não termine, não se sinta engajado", continua.

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2021 estão abertas e vão até 15 de junho