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Reinaldo Polito

Quase ninguém gosta mais de falar pelo telefone, mas não vire antissocial

01/10/2019 04h00

Se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia
Jean-Paul Sartre

Os jovens não gostam mais de conversar pelo telefone. Se pensarmos bem, nem pessoalmente. Muitos adultos também não gostam de usar o telefone para falar. A maioria prefere enviar e receber mensagens escritas. Mesmo quando precisam falar pelo telefone, é comum mandarem antes uma mensagem perguntando se podem fazer a ligação.

Essa prática chegou a tal ponto que, a não ser que as pessoas sejam muito íntimas, em certas circunstâncias, se alguém liga sem avisar, chega a ser visto como não tendo traquejo social. Até no ambiente de trabalho, alguns profissionais, em vez de conversarem pessoalmente com o colega que está na baia ao lado, enviam mensagens escritas.

Atitudes antissociais vêm de longa data

Embora o isolamento esteja cada vez mais acentuado, há um bom tempo percebemos muitas pessoas retraindo-se de contatos sociais. Pesquisas mostradas em filmes e fotos demonstram que passageiros de trens na Europa quando estão na estação e mesmo em viagem preferem ler jornais e livros a manter contato com aqueles que estão ao seu lado.

Uma das mais destacadas pesquisadoras das causas e consequências do relacionamento das pessoas com o mundo da tecnologia das últimas décadas é Sherry Turkle. Professora no MIT (Massachusetts Institute of Technology), possui Ph.D. em Psicologia da Personalidade e Sociologia na renomada Harvard University. Entre as suas obras mais famosas, está "Alone Together: Why We Expect from Technology and Less From Each Other", publicada em 2011.

Já na época em que publicou seu livro, Turkle relata fatos impressionantes sobre a dependência das pessoas em relação às mídias sociais. Ela afirma que jovens e adultos não gostam mais de conversar, pois sentem que estariam invadindo a privacidade dos outros. Certa vez, quando foi entrevistar um jovem na casa dele, seu colega de quarto, para não dar a impressão de que estava incomodando, em vez de bater na porta preferiu enviar uma mensagem pelo smartphone.

A realidade brasileira

Ainda que tenhamos a sensação, por simples observações, de que o mesmo ocorre no Brasil, não há muitas informações específicas sobre esse tema. Nesse sentido, a enquete realizada por Rachel Polito, mestre em Comunicação e Consumo e especialista na área de comunicação e mídias digitais, torna-se reveladora e pode nos dar uma ideia mais adequada do que ocorre em nosso país. Ela formulou pelo Instagram algumas questões associadas e complementares que nos permitem várias interpretações.

Além das respostas a respeito do comportamento nas redes sociais, é possível, também, identificar outro dado: a falta de cuidado de algumas pessoas com as informações que postam no dia a dia. Confessam até que suas postagens não contribuem para a promoção positiva da sua imagem e reputação.

Vamos analisar as principais questões formuladas e as respostas até surpreendentes.

Pontos a considerar

- Podemos observar que a faixa etária mais representativa está situada entre 18 e 44 anos. Ou seja, na idade em que as pessoas estão com a faca nos dentes buscando espaços profissionais. Antes dos 18 anos, os jovens buscam aprendizado profissional, especialmente como estagiários ou aprendizes, e depois dos 44 anos as pessoas já estão mais maduras profissionalmente, avaliando se devem permanecer na carreira que escolheram, ou buscar novas atividades.

Portanto, são profissionais que, na sua maioria, sabem da importância da comunicação para o desenvolvimento da carreira. Há consciência de que, à medida que crescem na hierarquia, mais dependerão da habilidade de se comunicar e menos do conhecimento técnico. Nas funções mais elevadas, precisam constantemente apresentar projetos, expor propostas, participar de processos de negociação, abrir e fechar seminários, comandar equipes, conceder entrevistas.

Nessas oportunidades, se o profissional não tiver competência para se expressar verbalmente, talvez deixe de progredir, ou até perca as posições conquistadas ao longo de uma vida de trabalho e dedicação. Não são poucos os momentos em que os profissionais são avaliados mais pela capacidade de se comunicar do que até pelo que produzem. Lembro-me de um conselho dado por um professor na primeira aula do curso de administração: quem se esconde nunca é visto.

- Além de não exercitarem a comunicação verbal, as respostas demonstram ainda que as postagens que fazem pelas redes sociais poderiam ser mais cuidadosas, ou ter mais qualidade (77%). Não há justificativa para esse descuido.

Seria melhor não fazerem postagens a divulgar informações ou imagens que possam prejudicar suas pretensões profissionais. Talvez não haja uma empresa de bom porte hoje que não faça pesquisa nas redes sociais antes de contratar um colaborador. Algumas pessoas nem se dão conta de que suas postagens acabam impedindo que recebam convites para os processos seletivos.

Podemos concluir que, como essa realidade é irreversível, pois cada vez mais estaremos envolvidos com a tecnologia e as redes sociais, vale a pena refletir se estamos nos comportando de maneira adequada ou negligenciando com o nosso relacionamento social. Se nos conscientizarmos de que esses cuidados podem ser fundamentais para todas as circunstâncias da nossa vida, passaremos a ter atitudes mais apropriadas.

Superdicas da semana:

  • A boa comunicação exige prática e experiência
  • De vez em quando vale a pena deixar o smartphone de lado
  • Todo contato pode ser produtivo, mas nada substitui a conversa olho no olho
  • Quem usa mídias sociais precisa cuidar bem da qualidade de suas postagens
  • Qualquer comentário nas mídias sociais pode ser relevante, até mesmo uma simples curtida

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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