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Reinaldo Polito

Até quando Bolsonaro resistirá aos ataques da Câmara e do STF?

Plenário do STF - Nelson Jr./SCO/STF
Plenário do STF Imagem: Nelson Jr./SCO/STF

Colunista do UOL

22/12/2020 04h00

Os agressores são culpados no céu; na Terra, eles têm razão.
Napoleão

Você já percebeu como os adversários agem para neutralizar o desempenho de Neymar? Se apenas um zagueiro fosse "escalado" para bater no atacante, depois da segunda ou terceira entrada mais dura, o juiz teria de tomar alguma providência. Começaria pela advertência com o cartão amarelo, e na sequência com o vermelho para expulsá-lo.

Como são experientes, fazem um rodízio na pancadaria. O que bateu a primeira vez, recolhe as travas da chuteira e deixa para que outro companheiro de equipe agrida o atacante. E assim vão se revezando na tentativa de intimidar o jogador e, em certas circunstâncias, até retirá-lo de campo.

Essa é uma prática antiga no futebol, tanto assim que alguns juízes, ao perceberem a tática desleal, aplicam o cartão amarelo ainda que tenha sido a primeira entrada violenta do jogador. É comum observar o defensor indignado, alegando que foi a primeira falta que fez. O juiz, então, justifica que notou as sucessivas faltas de cada um de seus companheiros. Foi penalizado pelo conjunto da obra coletiva.

Essa estratégia não é exclusividade dos jogos de futebol. Esse rodízio é realizado também na vida corporativa, onde alguns profissionais se sucedem nas críticas que fazem a determinado colega. Um faz comentários depreciativos de certo gerente, por exemplo, em seguida outro reforça as críticas, e assim até que consigam minar a reputação de quem decidiram debilitar.

Na política, a prática é comum

Na política, não é diferente. Na verdade, é na política que essas atitudes acontecem com mais frequência. É uma verdadeira arena onde só há espaço para os mais fortes. Se observarmos bem, nas disputas políticas o que prevalece é a capacidade de comunicação dos antagonistas.

Quem conhece as boas regras da oratória, sabe selecionar os melhores argumentos e qual o momento certo de atacar. Também é hábil em escolher as palavras adequadas, e, às vezes, mais importante, o instante de ficar calado, pois a experiência lhes ensinou que em algumas circunstâncias o silêncio é mais poderoso que as palavras. O político experiente não reclama das agressões que recebe. Procura se aliar a outros poderosos para aumentar sua força defensiva.

Há uma variante curiosa nesses planos de ataque: alguém muito poderoso passa a criticar pessoas do relacionamento íntimo daquele que deseja enfraquecer. Ora ataca um, em seguida outro, mais à frente mais um. De vez em quando o alvo direto é também aquele que pretende atingir.

Maia bateu o tempo todo

Um exemplo elucidativo foi o que o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia fez com Bolsonaro nesses dois últimos anos. Em alguns momentos atacava o ministro Sérgio Moro, dizendo que ele era funcionário do presidente. Em seguida, deixava o Moro quieto e partia para cima do então ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmando que ele era um desastre.

E seguiu assim o tempo todo. Afirmou que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente, agora resolveu destruir o próprio governo. Não foi diferente com o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, dizendo que ele é um desastre para o país. Bem, o que não falta é exemplo. Paulo Guedes, então, foi uma de suas vítimas prediletas.

Como eu disse, nessa estratégia, também sobra para o alvo principal. Desde o início, Maia reserva espaço para atacar Bolsonaro. Já o chamou de omisso, desinteressado e tantos outros adjetivos que demonstram de forma inequívoca sua intenção de agredir a imagem do presidente.

Mais recentemente, por exemplo disse: "Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no país, uma economia frágil e um Estado às escuras". Como está de saída, aproveitou para jogar pedra em todo mundo. Assim que perdeu a possibilidade de reeleição, procurou os holofotes da mídia para consumir todo o estoque de impropérios.

Os ministros do STF se revezam

Outros adversários de Bolsonaro são alguns ministros do STF. Eles usam a tática do revezamento. Basta fazer uma rápida busca na internet que vamos encontrar ora um, ora outro ministro tentando cortar poderes do presidente. Só para relembrar alguns casos mais destacados:

Rosa Weber no dia da posse do presidente, dando conselhos para que ele tivesse a constituição como norte e respeitasse os direitos humanos. Alexandre de Moraes, suspendendo a nomeação de Alexandre Ramagem para ser o Diretor-Geral da Polícia Federal, e, ao tirar o poder de ação de Bolsonaro, obrigando-o a respeitar as decisões dos estados e municípios sobre o isolamento na pandemia.

Celso de Mello determinando que o presidente fosse depor pessoalmente sobre a suposta interferência na Polícia Federal. Sem contar o fato de ter quebrado o sigilo da reunião de ministros do dia 22 de abril. Toffoli pedindo que Bolsonaro pare de ter atitudes dúbias em relação à democracia. Cármen Lúcia determinando que a PGR investigue a suposta produção de relatórios da ABIN para orientar a defesa do Senador Flávio Bolsonaro.

São apenas alguns casos que pululam nas páginas dos principais jornais. Basta procurar que outros irão aparecer, como Lewandowski dizendo que o estado não pode se pautar por critérios políticos para escolher vacina. Gilmar Mendes criticando a condução da pandemia pelos militares no Ministério da Saúde, entre eles Pazuello.

E só para não deixar de fora, Fachin que revogou o fim dos impostos para a importação de armas, e obrigou o presidente a obedecer a lista tríplice para escolha dos reitores. Barroso também não fica de fora. Foi na jugular do chefe do executivo quando disse que o Brasil tem um presidente que defende a ditadura e a tortura. E complementa afirmando que a democracia brasileira tem mostrado resiliência, mesmo atacada por Jair Bolsonaro.

Um exercício de paciência

Talvez por identificarem Bolsonaro como uma pessoa de pavio curto, combativo, bocudo, meio estourado, imaginavam que em algum instante ele morderia a isca e partiria para o revide. Não foi o que aconteceu.

Salvo em um ou outro momento, Bolsonaro assimilou os ataques calado. Sabia que, se respondesse à altura, entraria num jogo onde seria derrotado. Mesmo sem reagir, teve de assistir às atitudes de Maia engavetando até que prescrevessem propostas que ele enviava. Da mesma forma, se tentasse se defender das decisões do STF, com certeza, seria acusado de ditador, fascista e outros adjetivos com os quais tem sido bombardeado.

Estamos acompanhando um excelente embate entre gigantes. De um lado, com poder inigualável, os ministros do STF e o presidente da Câmara, que alegam não se desviar da letra da lei. Uma lei que permite diversas interpretações, e que, por isso, dá margem aos mais distintos entendimentos. Tanto que não há unanimidade nas decisões dos juízes.

De outro, o presidente Bolsonaro que tem o respaldo de mais de 57 milhões de votos. Esse apoio popular o protege dos ataques e inibe os adversários de ultrapassarem a faixa amarela. Tanto é verdade que aqueles que desejam enfraquecê-lo batem, mas também sabem o momento de recuar.

Temos pelo menos mais dois anos pela frente. Muitos rounds ainda serão disputados. Pode ser até que alguns debatedores fiquem pelo caminho. Rodrigo Maia já está deixando a arena. A não ser que faça o seu sucessor, será apenas um simples deputado sem a mesma influência. Alcolumbre também já vai passar o bastão. E Bolsonaro precisaria se reeleger para continuar no ringue.

No STF, Bolsonaro já escolheu um dos onze ministros. E deve ter frustrado quem pensava que ele chegaria fazendo militância. Até concluir o mandato, e, se for reeleito, segundo alguns cálculos poderá indicar mais três ministros. Com isso, provavelmente, diminua a força oponente ao seu governo. Até quando aguentará é que vamos acompanhar. Já "fraquejou" umas três ou quatro vezes e mordeu a língua. Quantas vezes mais?

Superdicas da semana

  • Se perceber que há uma estratégia para atacá-lo, una-se aos fortes
  • Em alguns momentos, o silêncio é a melhor defesa
  • Aprenda a contar até dez antes de reagir
  • Aprimore a arte de engolir sapos.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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