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Por que o mercado achou o pacote de Haddad tímido
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O conjunto de medidas anunciado pela equipe econômica nesta quinta-feira (11) para reduzir o rombo nas contas públicas em R$ 242,7 bilhões foi considerado tímido por agentes do mercado, gestores e economistas. Há dois motivos principais para isso.
- Nem o próprio ministro Fernando Haddad (Fazenda) acredita na projeção que está no plano apresentado de que as medidas transformarão o déficit previsto na Lei Orçamentária de R$ 231,55 bi em um superávit de R$ 11,13 bi. Na coletiva, ele disse que a projeção mais factível é de um resultado negativo para as contas públicas entre 0,5 e 1% do PIB (1% do PIB é estimado entre R$ 90 bi e R$ 100 bi).
- O mercado espera medidas de controle e corte de gastos, e o anúncio desta quinta-feira foi focado na revisão de despesas e em medidas que devem aumentar a arrecadação, como a reoneração dos combustíveis. Com isso, o mercado entendeu o anúncio como uma carta de intenções e, de factível, apenas o aumento de imposto.
Eu conversei com Gabriel Barros, economista-chefe e sócio da Ryo Asset. Ele resume o que outros agentes do mercado me disseram ao longo da tarde do anúncio:
O mercado já havia precificado a dificuldade do governo em gastar o que foi autorizado pela Emenda Constitucional da Transição e colocado na conta que a elevação do pé direito do gasto não seria 100% de gasto, teria uma gordura, porque a PEC foi exagerada. Essa gordura já estava na conta e isso reduziu o efeito do anúncio. O próprio Haddad diz que parte do que foi anunciado não é factível, e a projeção dele converge para projeção do mercado, de déficit entre 0,5 a 1% do PIB em 2023
Gabriel Barros, economista-chefe e sócio da Ryo Asset3
Medidas mais concretas sobre o corte de gastos não estão no "Plano de voo" apresentado por Haddad. Ficaram restritas às falas das ministras Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão) e serão apresentadas mais para frente. "O mercado está carente e espera medidas estruturais, Tebet sugeriu que ela fará esse anúncio num futuro próximo".
Sinais positivos
Para o economista André Perfeito, o fato de Haddad ter admitido que é possível refazer as contas em relação ao que está no papel afirma uma forte determinação da Fazenda e do Planejamento em perseguir o saneamento das contas públicas, o que é um sinal positivo, mas está aquém da sinalização que o mercado esperava.
Um ponto considerado positivo e que trouxe algum grau de surpresa para o anúncio foi o da redução das compensações tributárias pela exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins. A Receita passará a usar o entendimento do STF também para os créditos dos contribuintes, o que deve elevar a arrecadação do governo.
A reoneração dos combustíveis foi considerada a parte mais crível do anúncio, e também já era esperada pelo mercado. A dificuldade dos agentes do mercado comprarem o resultado prometido pelas medidas no papel está no fato de que não se pode prever até que ponto as mudanças no CARF anunciadas e os estímulos a regularizações serão convertidos em dinheiro em caixa para o governo. "O mercado tem confiança baixa de que essas medidas se transformem em arrecadação", completa Gabriel Barros.
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