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Dentista usa 2 cadeiras na mesma sala e atende pacientes em 10 minutos

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/06/2018 04h00

Você iria a um consultório de dentista com duas cadeiras e dois pacientes sendo atendidos ao mesmo tempo? Essa é a proposta da rede GOU Odonto. Com isso, o dentista atende o dobro de pessoas e fatura mais.

Esse é o padrão nas 110 unidades de franquia da GOU Odonto, rede criada em Araçatuba (527 km a noroeste de São Paulo), em 2010, com investimento inicial de R$ 1 milhão.

Nesse formato, enquanto o dentista atende um paciente numa cadeira, outro cliente já é preparado por uma auxiliar de saúde bucal na outra, agilizando o atendimento. Segundo a empresa,  as duas cadeiras são separadas por uma meia-parede.

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Os agendamentos de dez em dez minutos são para pacientes em tratamento de ortodontia (para prevenir e corrigir alinhamento dos dentes). Em consultórios tradicionais, essas consultas são marcadas a cada meia hora.

Os pacientes em tratamento de clareamento dental são agendados em intervalos de 20 a 30 minutos. Os demais tratamentos, como canal e extração de dente, por exemplo, têm agenda com mais flexibilidade de tempo, pois, segundo a empresa, são procedimentos demorados e complexos.

Conselho de Odontologia diz que é possível

O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CRO-SP) diz que atender duas pessoas no consultório ao mesmo tempo é possível, desde que não haja atendimento simultâneo do cirurgião-dentista, pois poderia comprometer a qualidade do serviço.

Outro ponto importante, diz o CRO-SP, é "não descuidar das medidas de biosegurança, conjunto de procedimentos que visa à proteção do paciente, do profissional e sua equipe, como esterilização dos instrumentos, desinfecção do equipamento e do ambiente, entre outros".

Sobre o tempo de atendimento do paciente, o Conselho diz que está condicionado ao tratamento que será realizado. "Somente o cirurgião-dentista pode estabelecê-lo para garantir a qualidade do resultado final, sem riscos para sua saúde e a do paciente", diz o CRO-SP, em nota.

Mais rapidez no atendimento

“As agendas são conferidas diariamente antes dos atendimentos aos pacientes, e já é feita a separação do material necessário para cada caso, com exceção dos atendimentos emergenciais. Dessa forma, o tempo de atendimento é apenas o necessário para dar atenção ao paciente”, afirmou Bruno Magalhães, 39, um dos sócios da empresa.

O foco da GOU Odonto são a ortodontia e o clareamento dental. Atualmente, 70% dos tratamentos são de ortodontia, 5% de clareamentos e o restante dividido entre outros procedimentos. A empresa tem cerca de 110 mil pacientes ativos na rede.

Segundo ele, para conseguir agilidade no atendimento, algumas medidas foram adotadas, como definir a função de cada funcionário, com a criação dos setores comercial, administrativo, recepção e técnico dentro das clínicas, e implantar o conceito de conveniência, no qual os exames necessários para o planejamento dos tratamentos são feitos no próprio local ou em empresas parceiras.

Escolhe cor da borrachinha antes

“Também percebemos que os pacientes demoravam muito na escolha da cor da borrachinha a ser usada. Eram seis ou sete minutos só para isso. Agora são as recepcionistas que orientam os pacientes nessa escolha, antes de entrar no consultório. Acabamos com esse gargalo e só aí economizamos um tempo”, declarou.

Em média, cada unidade da GOU Odonto tem 12 funcionários, entre eles recepcionistas, dentistas, auxiliares de saúde bucal e os das áreas administrativa e comercial.

No ano passado, a empresa faturou R$ 52 milhões. O lucro não foi revelado.

Na rede GOU Odonto, os preços dos procedimentos variam de R$ 79 (valor referente a uma manutenção ortodôntica) até R$ 2.000 (valor de um implante).

Ficava irritado com as longas esperas no dentista

Formado em relações internacionais e sem nunca ter exercido a profissão, Magalhães entrou no negócio de clínica odontológica, depois de conhecer os dentistas (e hoje seus sócios) Paulo Sergio de Queiroz Gehrke, 54, e Celso Kasuo Minomi, 55, em 2008.

“Não imaginava administrar uma rede de clínicas odontológicas, mas vi ao longo do tempo que minha experiência como paciente foi fundamental para fazer do negócio um sucesso”, declarou Magalhães, que, quando adolescente, se irritava com as “intermináveis esperas” antes de consultas para a manutenção de seu aparelho ortodôntico.

Segundo Magalhães, os dois dentistas tinham muitos pacientes em seus consultórios, em Araçatuba e Mirandópolis (594 km a noroeste de São Paulo), mas com pouca produtividade.

“Adotamos algumas premissas que me pareciam óbvias, mas que para eles eram inovadoras, como diminuir o tempo de espera e deixar os dois sócios dentistas apenas como os responsáveis pela execução do tratamento, entre outras medidas”, afirmou.

Nos primeiros três meses após a implantação das mudanças nos dois consultórios, o faturamento cresceu 35%. O modelo de negócio foi formatado em 2009, e a rede GOU Odonto aberta um ano depois.

Confira os dados da franquia fornecidos pela empresa:

  • Investimento inicial: a partir de R$ 200 mil (inclui taxa de franquia, capital de giro, adequação de espaço, materiais e equipamentos)
  • Faturamento médio mensal: a partir de R$ 40 mil
  • Lucro médio mensal: até 35% do valor do faturamento
  • Retorno do investimento: de 18 meses a 36 meses

Manter a agenda formatada, para não perder qualidade

Ruy Barros, consultor do Sebrae-SP, disse que a empresa ganha produtividade com a adoção de duas cadeiras no consultório. “A GOU Odonto consegue assim atender mais pacientes, no mesmo espaço e com o mesmo custo do profissional. Isso agilidade tempo e produtividade.”

Para ele, ao preparar o paciente antes da atuação do dentista, a empresa consegue prevê a ação e com isso se programar para executá-la, sem perda de tempo.

No entanto, para não perder pacientes que se sintam desconfortáveis com esse procedimento (de atendimento com duas cadeiras no consultório, mesmo separadas por uma meia-parede), disse Barros, a empresa deve focar em clientes que têm tempo restrito, como executivos ou pessoas que precisam utilizar a hora do almoço para ir ao dentista. "A empresa ganha ao atender mais clientes por oferecer um serviço mais rápido, e o cliente ganha em tempo", afirmou.

O consultor disse também que a empresa deve sempre ter uma agenda muito bem formatada, para não gerar perda de tempo e manter a agilidade dos atendimentos, um dos principais diferenciais da rede.

“Se o cliente agendado tiver de desmarcar, por exemplo, a equipe deve prontamente realocar seus pacientes”, disse.

Outro ponto importante é manter a equipe engajada no processo de atender dois clientes quase ao mesmo tempo, segundo Barros.

“A empresa deve manter profissionais treinados para auxiliar no processo de montagem da mesa de atendimento e também no próprio atendimento dos pacientes”, afirmou.

Onde encontrar:

GOU Odonto – http://gouodonto.com.br/portal/