Fez faxina e foi babá; hoje fatura R$ 55 mil por mês com franquia de comida
"Desde pequena, tinha todas as desculpas verdadeiras para ser malsucedida: era adotada, negra, de família muito humilde, sem condição nenhuma, com um pai alcoólatra que batia na minha mãe e às vezes nos filhos. Minha única alternativa para sair daquela situação era estudar."
É assim que Tereza Cristina Ferreira, 49, resume sua infância e adolescência. Hoje, ela, que se formou em administração na Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e tem pós-graduação e MBA, é dona de uma franquia da Home Sushi Home e fatura R$ 55 mil por mês. O lucro mensal varia de 12% a 18%.
Mãe analfabeta a incentivou a estudar
Tereza nasceu no Rio, mas logo foi adotada por uma família de Queimados, na Baixada Fluminense. A mãe biológica morreu no parto. A mãe adotiva, Jaceli dos Reis Ferreira, era analfabeta, mas foi quem mais incentivou os filhos a estudar. Após adotar Tereza, Jaceli e o marido, Ilton Ferreira, tiveram três filhos biológicos.
Segundo Tereza, foi por ser boa aluna que ela conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola particular de Nova Iguaçu (RJ), cidade vizinha a Queimados.
Aos 13 anos, para ganhar um dinheirinho e poder comprar estojo, lápis e cadernos, ela era manicure e fazia trança embutida nos salões da cidade. Na escola, vendia brigadeiros na hora do intervalo -e também durante a aula. "Isso até ser repreendida pelo professor, que alegava que o comércio no meio da sala atrapalhava a concentração dos alunos. Concordei e parei de vender os doces."
Por exigência do pai, Tereza estudou para ser professora, mas seu sonho mesmo era cursar direito. Desistiu ao descobrir que não teria tempo de trabalhar para se sustentar. Optou pelo curso de administração.
Estudava no trem da Central do Brasil
Entre o ensino médio e a preparação para o vestibular, Tereza trabalhou como babá, diarista e foi camelô no calçadão de Madureira (zona norte do Rio), vendendo bijuterias. Estudava até tarde na biblioteca pública da Central do Brasil e depois no trem e no ônibus, um trajeto de mais de duas horas. Passou na quinta reclassificação da Uerj.
"Mas eu sempre passava mal estudando na condução. Tive a ideia de comprar um gravador e gravar os resumos para poder ouvir no trem. Eram a forma e o tempo que tinha para estudar", declarou.
Ainda na faculdade, Tereza conseguiu emprego em uma fábrica de xampu e depois em um escritório de advocacia. Em um processo seletivo, entrou para o Sebrae Rio. Ali cresceu profissionalmente até chegar a coordenadora regional de atendimento no Rio (atende a zona norte da cidade), cargo que ocupa até hoje.
A cada momento, dependendo de onde você está, vão surgindo oportunidades. Quando eu falava que era aluna da Uerj, as portas se abriam.
Tereza Cristina Ferreira
Tereza é formada em administração pela Uerj e tem pós-graduação, MBA e algumas especializações. "Na sala de aula na Uerj, era a única negra. Preconceito? Não tive tempo para perceber: estudava e trabalhava", afirmou.
Decidiu empreender durante a pandemia
Na pandemia, após pesquisar o mercado, ela comprou uma franquia da Home Sushi Home, rede especializada em delivery de comida japonesa. Todas as franquias são no sistema "dark kitchen" (não tem loja física; atende somente delivery para o consumidor final). Tereza abriu sua unidade em março de 2021.
"Queria dar um sentido a tudo que aprendi, empregar, colocar em prática o que tinha visto na faculdade, ter um plano para o futuro. Comecei a estudar nichos de mercado e optei pelo setor de alimentação porque meu marido ama cozinhar", afirmou. O marido, Carlos César Vargas, 59, é seu sócio.
Os dois investiram R$ 156 mil no negócio. A unidade, que fica na Barra da Tijuca (bairro nobre do Rio), tem seis funcionários. Em 2022, Tereza pretende abrir mais uma unidade.
Acredito muito na liderança transformadora. Como empresária, quero incentivar e dar oportunidade para as pessoas crescerem dentro da empresa. Esse é meu maior desafio.
Tereza Cristina Ferreira
Cuidado para não perder clientes, diz consultora
Luiza Castanho, consultora de empreendedorismo e marketing, diz que foco, determinação e espírito de liderança são alguns dos aspectos do perfil empreendedor de Tereza.
"Ela decidiu que ia crescer, se destacar, e viu que o caminho era a educação. E soube aproveitar as oportunidades na sua carreira. Tem potencial para ser dona da própria empresa, passando a ser franqueadora, e não mais franqueada", afirmou.
Sobre o negócio, Luiza diz que o formato dark kitchen cresceu na pandemia por conta da demanda de consumo: o delivery via aplicativos.
"Com o isolamento social, as pessoas passaram a consumir mais via delivery, e os negócios que apostaram nesse formato se deram bem. Mas agora a tendência é o consumidor ir voltando ao presencial, o que pode causar uma perda entre 25% a 30% dos clientes de dark kitchen, se a experiência do consumidor não evoluir", explicou.
Portanto, diz a consultora, para não perder receita, Tereza deve adotar e reforçar algumas ações para surpreender a sua clientela no delivery, como diminuir o tempo da entrega, vender kits exclusivos por assinatura, ter produtos sazonais e oferecer degustações.
"É uma forma de se diferenciar e agregar valor ao serviço e aos produtos que ela oferece", declarou.
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