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Brasileira cria empresa de doces com cupuaçu em Boston e fatura US$ 70 mil

Ludmila Azevedo abriu em Boston (EUA) a Amazontella; em 2021, a empresa faturou US$ 70 mil - Divulgação
Ludmila Azevedo abriu em Boston (EUA) a Amazontella; em 2021, a empresa faturou US$ 70 mil Imagem: Divulgação

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/06/2022 04h00

Depois de ficar desempregada em plena pandemia, a cozinheira brasileira Ludmila Azevedo, 33, abriu em novembro de 2020 em Boston (EUA) a Amazontella, uma empresa de doces com sabores da Amazônia. Os produtos têm receita de família, mas ela teve que adaptá-la ao paladar americano. No ano passado, a empresa faturou US$ 70 mil. O lucro não foi revelado.

"É uma receita da minha mãe que ela fazia no Brasil nos bolos de pote. Mas tive que adaptá-la, porque o cupuaçu é exótico e tem uma acidez diferente. O diferencial é que eu uso chocolate em pó francês e chocolate em barra belga, e o que muda são as proporções dos ingredientes para que sejam harmonizados com o cupuaçu", declara ela, que é natural de Manaus (AM).

Para criar os doces da Amazontella, ela diz ter unido a expertise que adquiriu trabalhando em restaurantes em Boston e fazendo bolos de pote em Manaus.

O maior apelo aos americanos tem sido o da Amazônia, diz ela. "Aos apresentar meus produtos aos americanos, sempre falo: 'Your Nutella from Amazon Rainforest' ["Sua Nutella da floresta amazônica", na tradução]", declara. A escolha do nome da empresa (Amazontella) tem a ver com esse apelo: é a junção das palavras Amazônia e Nutella.

Desde que estou nos EUA, tenho saudades dos sabores da Amazônia e nunca os encontrei aqui.
Ludmila Azevedo, fundadora da Amazontella

Kit com 3 produtos sai por US$ 43

A Amazontella tem três produtos principais:

  • Cupuaçu Jam: geleia de cupuaçu. Custa US$ 16 (pote de 225 gramas)
  • Cupuaçu Jam & Chocolate Cream: camadas intercaladas de geleia de cupuaçu com creme de chocolate (receita de família). Custa US$ 14 (pote de 225 gramas)
  • Brigadeiro Nuts: creme de castanha do Pará. Custa US$ 13 (pote com 225 gramas)

Há ainda uma edição limitada chamada Cupuaçu Cream (creme de cupuaçu), disponível apenas em datas comemorativas. Custa US$ 15. O kit com os três sabores principais sai por US$ 43 mais o frete.

Cupuaçu Jam - Divulgação - Divulgação
Um dos produtos da Amazontella é o Cupuaçu Jam & Chocolate Cream, geleia de cupuaçu e creme de chocolate
Imagem: Divulgação

O principal canal de vendas é o e-commerce, e a clientela é formada por 50% de americanos e 50% de brasileiros que moram nos EUA e no Canadá. Ela compra os insumos de fornecedores dos EUA de produtos brasileiros. "Um deles me fornece a matéria-prima que vem do Brasil", diz.

Em média, Ludmila produz 40 kg de geleia de cupuaçu por mês. Toda a produção é feita por ela mesma, em casa. Em junho, a produção será transferida para uma dark kitchen nos arredores de Boston. Ludmila diz que pretende contratar imigrantes brasileiras.

Início empreendedor com bolo de pote

Filha de pai funcionário público e mãe costureira, Ludmila decidiu fazer o curso Empretec, do Sebrae, para ajudar na loja de roupas da família, em 2015. No entanto, dentro do curso, era necessário criar um produto e comercializá-lo.

"Criei bolos de pote, entreguei dez para cada amiga vender e, no final de quatro dias, havia vendido 250 potes", diz Ludmila, que seguiu com o negócio por um ano. Vendia os bolos no pote em lojas de conveniência e supermercados em Manaus, por R$ 10 a unidade.

A empresa chamava-se Pote com Amor, e os bolos no pote tinham nomes carinhosos, como "Colo de Vó" (bolo de leite com creme, canela e banana frita), "Cafuné" (bolo de canela com doce de leite), "Paixão" (bolo de leite, doce de cupuaçu e ganache de chocolate) e "Abraço Apertado" (bolo de chocolate com creme de coco).

Ida para Boston para estudar inglês

Formada em contabilidade e com MBA em marketing em universidades do Amazonas, Ludmila decidiu ir para Boston para estudar inglês, em 2018. Começou a trabalhar em restaurantes da cidade, para conseguir sobreviver. Começou como ajudante de cozinha e chegou a cozinheira chefe.

Após um incêndio na casa onde morava, Ludmila diz que começou a dar outro sentido à sua vida e, entre outros objetivos, um deles era empreender. Amadureceu a ideia e, em novembro de 2020, abriu a Amazontella.

O plano para 2023 é abrir franquias da empresa no Brasil. Segundo ela, o modelo de negócio ainda está em desenvolvimento.

Empresa deve ampliar o leque de fornecedores

Para Juliana Berbet, consultora do Sebrae-SP, Ludmila Azevedo é uma pessoa "bem antenada". "Ludmila vislumbrou uma oportunidade de negócio pensando no que fazia falta para ela naquele país. Ficou de antena ligada olhando o mercado, e descobriu como empreender por lá", declara.

A consultora diz também que Ludmila soube despertar a curiosidade do consumidor americano ao apelar para a sua questão cultural, oferecendo um produto à base de cupuaçu, fruta típica da Amazônia. "E ela olhou para a cultura local para adaptar o seu produto ao paladar dos americanos", afirma.

Juliana afirma, no entanto, que o negócio dela não deveria depender apenas de fornecedores locais, a fim de evitar uma eventual ruptura no fornecimento de insumos básicos para o negócio.

"Nunca se deve depender de poucos fornecedores. Ainda mais sendo um produto tão específico. Vale pensar na possibilidade de importação direta da Amazônia ou ter outros canais de fornecedores locais", afirma.

Sobre empreender no exterior, Juliana diz que é preciso entender o mercado consumidor do país, a cultura e os costumes do seu cliente e ainda ficar atento às questões como legislação, licenças e impostos, etc. "Tudo isso pode interferir no preço final do produto. Para você manter a qualidade e o preço atrativo, essas questões são relevantes."

Onde encontrar:

Amazontella - https://amazontella.com/