94% dos empreendedores já enfrentaram alguma doença mental; veja motivos

Jornada de trabalho de 80 horas semanais, sobrecarga de responsabilidade, noites mal dormidas. Foi assim que Ricardo Frasson, 41, empreendedor à frente da startup DataSeek, chegou ao seu limite emocional no início de 2023. Com quadro de ansiedade e estresse, teve que procurar ajuda psiquiátrica. Mas ele não é o único neste universo de empreendedores.

No Brasil, 94,1% dos empreendedores de alto impacto afirmam ter vivenciado ao menos uma condição adversa de saúde mental. A ansiedade é a mais frequente (85%), seguida de burnout (37%), ataque de pânico (22%) e depressão (21%). É o que mostra um estudo inédito da Endeavor.

Empreendedores trabalham mais e têm sintomas de doenças mentais

O estudo "Saúde e performance de pessoas empreendedoras" ouviu 118 empreendedores líderes de startups e scale-ups (empresas com alta base tecnológica que crescem de forma acelerada em geração de renda e empregos). Eles são chamados de empreendedores de alto impacto.

56,8% consideram a rotina de trabalho estressante ou muito estressante, enquanto 43,2% consideram a rotina de trabalho moderada ou tranquila. 64,4% trabalham mais de 50 horas por semana. Já 35,6% têm uma jornada próxima a de um emprego formal (40 horas por semana).

94,1% dos empreendedores tiveram pelo menos um sintoma de doença mental relacionado ao trabalho de empreendedor. 77,1% tiveram pelo menos duas condições e 38,1% pelo menos três condições. Entre as condições adversas, estão ansiedade (85%), burnout (37%), ataque de pânico (22%) e depressão (21%).

O que prejudica o empreendedorismo

Entre os fatores que prejudicam a saúde e a performance, os empreendedores citaram desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal (43,2%), medo do fracasso (29,7%), situação financeira da empresa (60,2%), captação de recursos (35,6%) e situação econômica do mercado (20,3%).

Já na rotina, o que afeta os empreendedores é a contratação e gestão de pessoas (29,7%), relacionamento com fundadores e sócios (27,1%) e relacionamento com atuais investidores (7,6%).

"Tudo cai nas suas costas"

Ricardo Frasson sentiu os primeiros sintomas de estresse em 2015, quando trabalhava sozinho no projeto da startup DataSeek. Por trabalhar tanto, teve crises de ansiedade e estresse. Decidiu, então, sair de São Paulo e ir morar em Jericoacoara, no litoral cearense, como nômade digital e fazendo consultorias na área de tecnologia. Dois anos depois, voltou a São Paulo e abriu em 2018 a DataSeek, uma plataforma de dados e inteligência artificial para captar clientes para empresas.

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Startup é você ter que trocar o pneu com o carro andando, contratar as pessoas certas, treinar o seu time. Até conseguir fazer isso funcionar, você vai ter que trabalhar muito. É muita responsabilidade: funcionários, clientes, reputação da marca. Tudo cai nas suas costas.
Ricardo Frasson, fundador e CEO da DataSeek

Desde o ano passado, ele tem adotado medidas na startup e na sua vida pessoal para minimizar o estresse. "Diminuí um pouco a rotina e convidei um sócio para dividir as tarefas comigo e, com isso, conseguir ter mais tempo e fazer atividades físicas", diz. O novo sócio chega em abril. Ele também parou de trabalhar do celular aos finais de semana. Para os funcionários, ele planeja incluir terapias online de saúde mental no plano de benefícios da equipe, entre outras ações.

Empresas podem monitorar a saúde mental dos funcionários

As empresas podem usar algumas soluções para avaliar a presença de doenças mentais em ambientes de trabalho. "[As ferramentas] servirão para alertar sobre possíveis pessoas com adoecimento e fazer internação precoce", afirma Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Empresas não têm dados. A medicina de trabalho das empresas tem dados de afastamento de trabalho, mas não tem os números de pessoas em tratamento, mas que não se afastaram do trabalho, diz.

Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente por conta de transtornos depressivos e de ansiedade. É o que mostra o relatório "Diretrizes sobre Saúde Mental no Trabalho", publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em setembro de 2022, segundo o presidente da ABP. É importante buscar manter o equilíbrio entre a vida privada e profissional, ter uma alimentação saudável e adequada, praticar exercícios físicos, desfrutar de atividades ao ar livre e momentos de lazer, além de fortalecer os laços sociais. Encorajar os funcionários a buscar ajuda médica psiquiátrica quando necessário é outra possível solução.

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É muito importante oferecer um ambiente acolhedor para que a pessoa possa falar abertamente sobre o que está sentindo sem julgamentos.
Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria

A Vetor Editora desenvolveu cerca de 150 testes psicológicos para avaliação e manutenção da saúde mental nas empresas. Eles são aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia. "Recomendamos esses testes em avaliações periódicas para compreender como os profissionais estão percebendo a qualidade de vida no trabalho e também avaliar o clima organizacional", diz Ricardo Mattos, CEO da Vetor Editora.

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