Após recorde, vale investir na Bolsa? Veja o que esperar e ações indicadas
Ainda vai ter rali de Natal na Bolsa de Valores? E no ano que vem? O mercado continuará com esse pique todo? Essas são algumas das perguntas que os investidores de ações têm feito nos últimos dias.
A incerteza ganhou força depois que o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, entrou em uma trajetória de baixa nos últimos dias, após acumular ganhos de 10,2% em outubro e 2,4% em novembro e atingir nível recorde de 89.820 pontos na segunda-feira (3).
O que esperar para as próximas semanas?
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"O cenário doméstico está praticamente dado até o começo do próximo ano. A eventual aprovação da cessão onerosa [projeto que prevê mudanças na exploração de campos no pré-sal, hoje exclusividade da Petrobras] ainda em 2018 pode dar fôlego extra às ações da Petrobras. O problema maior agora é o cenário externo, por causa do petróleo e da disputa comercial entre Estados Unidos e China", disse Álvaro Frasson, analista da corretora Spinelli.
"O que está faltando para o rali de Natal é uma melhora do clima no exterior. Provavelmente, o mercado vai cair nos próximos dias, devolvendo um pouco da alta recente. Mas pode voltar a subir na segunda quinzena de dezembro, se a situação lá fora se acalmar e a cessão onerosa for aprovada", afirmou Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos.
"No ano que vem, se não houver desaquecimento da economia mundial e as reformas forem aprovadas, a Bolsa pode superar os 100 mil pontos", declarou Villegas.
Veja quais são os principais eventos, aqui e no exterior, para ficar de olho nas próximas semanas e entenda como ele podem influenciar o rumo do mercado financeiro.
Aprovação do projeto da cessão onerosa
Faltando cerca de 15 dias para o recesso de fim de ano do Congresso, o mercado financeiro considera como pouco provável a aprovação do projeto de cessão onerosa, que muda as regras para exploração de campos no pré-sal, hoje exclusividade da Petrobras, e para distribuição dos recursos.
A medida prevê autorização para a Petrobras vender a outras petroleiras até 70% dos direitos de exploração da área. O leilão desses direitos poderá render R$ 100 bilhões ao governo, o que tem gerado disputa entre os parlamentares sobre a destinação dos recursos.
"O mercado tem uma leve esperança [de que seja aprovada ainda neste ano]. Se acontecer, as ações da Petrobras devem reagir em alta, impulsionando o Ibovespa", disse Frasson.
Novo corte na produção da Opep
Se a cessão onerosa pode ajudar a Petrobras, o mesmo não se pode dizer do preço do petróleo, que despencou nas últimas semanas da casa dos US$ 75 para cerca de US$ 50 o barril.
Nesta quinta-feira (6), membros da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) estiveram reunidos em Viena, na Áustria, para discutir um novo corte na produção mundial para tentar jogar os preços para cima. O grupo ainda aguarda um posicionamento da Rússia para definir a questão.
Sinais de desaceleração da economia mundial, associados ao aumento da oferta, são apenas alguns dos motivos que justificam a forte queda recente. "Houve uma clara coincidência entre a queda nos preços e o caso do jornalista saudita assassinado na Turquia. Provavelmente houve uma pressão dos EUA sobre a Arábia Saudita para baixar os preços, em troca do abafamento do caso", disse Frasson.
A queda do petróleo é positiva para os EUA porque afasta o risco de a inflação acelerar por lá, evitando que o país tenha que subir mais os juros, desestimulando a economia americana, o que poderia prejudicar o crescimento da economia global.
Guerra comercial entre EUA e China
Após apelos dos líderes globais para que EUA e China chegassem a um acordo e suspendessem a guerra comercial, Donald Trump e Xi Jinping concordaram em estabelecer uma trégua de 90 dias.
O presidente americano se comprometeu a não elevar em até 25%, a partir de janeiro, a alíquota de importação sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. O líder chinês aceitou retomar as compras de produtos dos EUA.
Uma guerra comercial entre os dois países poderia provocar uma desaceleração drástica no crescimento da economia mundial, afetando a procura por produtos básicos, como petróleo, minério de ferro, aço, papel e celulose, prejudicando diversas companhias brasileiras.
Tuítes de Trump
Além da incerteza sobre o risco de uma guerra comercial, o mercado financeiro também tem horror às mensagens divulgadas frequentemente por Trump pelo Twitter.
Os especialistas acham pouco provável que a trégua entre EUA e China dure, de fato, 90 dias. Um dos motivos de tanta incerteza é justamente o impulso que o presidente americano tem de publicar tuítes, que soam, muitas vezes, como provocação, ou geram interpretação confusa.
"O Trump é o rei do tuíte. Não acredito que ele se contenha ao longo desses 90 dias. Provavelmente vai soltar alguma mensagem que causará mal-estar", afirmou Pedro Galdi, analista da corretora Mirae.
Prisão de executiva da Huawei
Um fato desta quinta-feira (6) ajudou a piorar ainda mais o clima entre EUA e China: a prisão de Meng Wanzhou, filha do fundador da Huawei e vice-presidente do conselho da fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações.
A executiva foi detida em Vancouver (Canadá), a pedido do governo americano, sob alegação de ter violado sanções contra o Irã.
O envolvimento com o Irã seria apenas um dos argumentos para o cerco americano contra a empresa. A Huawei também é investigada por supostamente permitir que sua tecnologia seja usada para espionar outros países.
Cenário doméstico
Com exceção da possível aprovação da cessão onerosa, o cenário doméstico está praticamente definido até o início do ano que vem. Os principais nomes da equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, já são conhecidos, bem como sua intenção de colocar as reformas estruturais na pauta do Congresso já no começo do ano novo. A dúvida está no ritmo de tramitação e na efetiva aprovação das propostas ao longo de 2019.
"O mercado quer ver a reforma da Previdência aprovada o quanto antes, ainda que seja em uma versão fatiada. Se a reforma não sair em 2019, o clima vai azedar. O país corre o risco de ter um déficit fiscal gritante. Podemos virar uma Grécia nos próximos dois ou três anos", disse Galdi, referindo-se à crise financeira que atingiu o país europeu em 2010.
Outra aposta dos investidores é no plano de privatizações proposto pelo futuro ministro da economia, Paulo Guedes, e na melhora da administração das empresas que continuarem como estatais.
"As ações de estatais estão entre nossas recomendações para 2019 por causa da expectativa de uma eventual privatização ou de aumento da governança, o que deve se traduzir em resultados melhores", afirmou Villegas.
Os analistas também trabalham com um cenário de retomada do crescimento econômico do país, com o PIB (Produto Interno Bruto) podendo avançar entre 2% e 2,5% em 2019. "Muitas empresas fizeram seus ajustes internos e já estão apresentando bons resultados, mesmo em um cenário de economia fraca. Imagine quando a economia aquecer de verdade", declarou Frasson.
Em quais ações investir?
Além das estatais, os analistas estão otimistas com empresas que tenham grande exposição à economia nacional, por causa da expectativa de recuperação no próximo ano.
Frasson, da Spinelli, sugere o investimento em varejistas de roupas, como Hering e Lojas Renner. "A melhora do nível de emprego deve estimular as pessoas a voltar a gastar."
Villegas, da Genial, também aposta no varejo, mas suas preferências são pelos segmentos de alimentos, como Brasil Foods (dona das marcas Sadia e Perdigão) e de eletroeletrônicos e móveis, como Via Varejo (dona de Casas Bahia e Pontofrio). "A Via Varejo promoveu melhoras na administração e está bem descontada se comparada com a ação do Magazine Luiza, que subiu bastante nos últimos meses."
Ambos os especialistas recomendam também as ações das empresas chamadas de "segunda linha" ou "small caps". São companhias menores e menos conhecidas do que as "blue chips" Petrobras, Vale e Itaú Unibanco, porém apresentam alto potencial de expansão. Alguns exemplos de empresas com esse perfil são Randon (fabricante de carrocerias de caminhão), Marcopolo (produz ônibus) e JSL (transportadora de carga).
"Se você analisar o Índice Small Caps da B3, que reúne as principais ações desse segmento, ele subiu apenas 5,3% neste ano, bem menos do que Ibovespa, que avançou 16%. Ou seja, há um potencial de valorização represado nessas empresas menores", disse Villegas.
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