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Poupança perde da inflação, mas às vezes trabalho de mudar não vale a pena

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

19/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Inflação é hoje a maior inimiga da poupança nesses tempos de juros baixos
  • Simulações mostram que hoje o ganho real na poupança é, na verdade, uma perda
  • Com juros baixos, poupança perde da inflação, mas segue como opção para reserva de emergência

A poupança está perdendo da inflação, mas as opções a ela, podem não compensar o trabalho de mudar, se o objetivo é ter uma reserva de emergência fácil de sacar. Na poupança, R$ 1.000 aplicados dão perda real de R$ 16 em um ano. Em outras aplicações, como Tesouro Selic, o prejuízo seria muito próximo: R$ 13,50.

A perda da poupança ocorre porque a taxa básica de juros, a Selic, está no menor patamar da história do país: apenas 2% ao ano. O ganho da poupança está diretamente ligado a essa taxa. Pela regra que está em vigor desde 2012, toda vez que a Selic estiver abaixo de 8% ao ano - o que é o caso agora - o rendimento da caderneta de poupança será de 70% da Selic.

Trocando em miúdos: a poupança hoje está rendendo 1,4% ao ano. Supondo uma aplicação de R$ 1.000 feita hoje, o rendimento ao fim de 12 meses - mantida essa Selic - seria de R$ 14,00. Ou, aproximadamente R$ 1,16 por mês.

Ganho real é na verdade uma perda

Esse rendimento parece mixaria - e é. Mas o problema não acaba aí. Tem ainda a inflação para colocar nessa conta. Afinal, ao longo de um ano, os preços dos produtos vão subindo e, dessa forma, o poder de compra de R$ 1.000 vai diminuindo.

Os economistas ouvidos pelo Banco Central por meio do Boletim Focus semanal dizem que o IPCA - o índice oficial de inflação do governo - vai fechar o ano que vem em 3%. Assim, de cada R$ 1.000, a inflação já vai corroer R$ 30,00.

A verdade é que não houve ganho na poupança, mas uma perda. A aplicação vai entregar ao dono dos R$ 1.000 um rendimento de R$ 14, mas a inflação vai comer R$ 30. No fim das contas, esse aplicador deve perder em 12 meses R$ 16,00.

Inflação é a inimiga

Por isso, dizem consultores e planejadores financeiros, a inflação é hoje a maior inimiga da poupança nesses tempos de juros baixos. Mas esses mesmos profissionais destacam que o papel da caderneta não é o de dar ganhos e lucros gordos, e sim de preservar o capital para atender emergências.

Dessa forma, manter o dinheiro na poupança não é um problema se o objetivo dessa aplicação for servir como ajuda em momentos de gastos inesperados. Afinal, quem não tem uma reserva de emergência, ainda que seja uma aplicação que não renda quase nada, vai ter que pedir empréstimo num banco. E isso vai custar juros mensais de até 8%, para quem cair no cheque especial.

A poupança é uma aplicação que serve para cobrir gastos inesperados. O objetivo dela é deixar o dinheiro em um lugar seguro e que seja disponível a qualquer momento sem riscos. A rentabilidade é algo secundário.
Valter Police Jr., diretor de planejamento financeiro da Fiduc

Alternativas à poupança

Para consultores financeiros, o investidor pode considerar como válida para reserva de emergência qualquer aplicação que dê um rendimento perto do CDI, ou seja, algo muito próximo à Selic, e que tenha liquidez, permitindo saques em até 24 horas e sem perdas.

"Para reserva de emergência, se a pessoa conseguir 100% do CDI está okay.
Jailon Giacomelli, planejador financeiro da Par Mais

Há no mercado opções à poupança para aplicações em reserva de emergência. Em destaque, os consultores citam o título do governo federal Tesouro Selic, disponível na plataforma do Tesouro Direto; os fundos de renda fixa DI sem taxa de administração; e os CDBs de liquidez diária.

Esses produtos rendem mais que a poupança, mas pagam imposto. E a diferença no fim de um ano será de poucos reais. Para comparar, mantendo o exemplo dos R$ 1.000 aplicados por 12 meses, essas alternativas à caderneta dariam ao investidor uma perda de R$ 13,50.

Diferença mínima

Para o planejador Valter Police Jr, essa diferença entre os rendimentos da poupança e o de outras aplicações é tão pequena que nem vale o trabalho de movimentar o dinheiro.

"Ficar na poupança é ruim, mas nas outras alternativas o que você vai ganhar a mais não justifica a troca. A diferença é tão inexpressiva que não vai fazer diferença prática", afirma o profissional da Fiduc.

Poupança antiga

E vale aqui destacar que quem tem dinheiro aplicado nas chamadas cadernetas antigas, aquelas que seguem as regras válidas até 2012, recebe um rendimento maior, de 0,6% ao mês mais TR (que está em zero). Então, nessas aplicações, o rendimento anual é de aproximadamente 6% ao ano, dando a cada R$ 1.000 aplicados um ganho de R$ 60, ou seja, o dobro da inflação projetada para 2021.

O problema dessas aplicações é que elas não podem mais receber depósitos. Apenas saques são permitidos. Por isso, quem tem dinheiro aplicado aqui deve preservar ao máximo porque o ganho proporcionado é hoje imbatível.

Captação continua alta

O fato é que a nova Poupança, mesmo rendendo tão pouco, segue recebendo bilhões de reais de milhões de brasileiros. Segundo dados do Banco Central, as cadernetas receberam este ano, entre janeiro e julho, R$ 112,6 bilhões, elevando a R$ 973,7 bilhões o total aplicado nesse produto - quase R$ 1 trilhão!

É muito dinheiro indo para a poupança. Para comparar, os fundos de ações receberam no mesmo período um total de R$ 56 bilhões.
"A maior parte das pessoas conhece pouco sobre investimentos. E quando ouviu algo sobre aplicação foi sobre a poupança. A pessoa lembra que o avô investia em poupança, então sempre associa essa aplicação à segurança, algo protegido de fraudes", afirma Valter Police Jr., da Fiduc.

Profissionais de mercado destacam ainda que muitas contas de poupança foram engordadas em 2020 pelos depósitos do auxílio emergencial pagos pelo governo para ajudar as famílias na travessia da crise.

Muita gente recebeu a ajuda por meio de conta-poupança da Caixa, por exemplo, o que ajudou a elevar o saldo total dessas contas.