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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil mergulha na incerteza, enquanto vê de perto o mundo voltar a crescer

Fernando Damasceno

12/04/2021 04h00

Tivemos um início de ano marcado pela alta volatilidade (oscilações) nos mercados globais. Ano passado terminou com o Bovespa fechando nos 119 mil pontos, perto de sua máxima histórica, e iniciou janeiro atingindo a marca de 125 mil pontos. Porém, o que vimos depois foi o aumento de casos de covid-19, aumento da inflação mundo afora e um cenário político local conturbado. Tudo isso aumentou a volatilidade dos mercados e o movimento de aversão ao risco pelos investidores nos dois primeiros meses de 2021.

O reflexo foi janeiro e fevereiro com resultados negativos para a Bolsa brasileira, que descolou das Bolsas mundo afora. Março foi novamente um mês positivo para os mercados globais. O S&P (Standard & Poor's 500), índice composto pelas 500 ações cotadas na Bolsa de Nova York, terminou o mês subindo 4,38%, estendendo os ganhos do mês anterior. Já índice da Bovespa fechou aos 115.253 pontos, uma alta de 6% no mês, mas que não reverteu a queda de 2% no ano.

Para mercado acionário global, considerando a perspectiva de recuperação econômica, o avanço da vacinação em algumas economias desenvolvidas e o ambiente de enorme liquidez monetária e fiscal fazem com que os investidores sigam otimistas, porém preocupados com o tema inflação, com a taxa do Treasury de dez anos (curva de juros americana) passando de 1,70% no mês.

A atividade nos EUA permanece robusta. Existe uma grande expectativa de expansão muito expressiva do PIB neste segundo trimestre por conta da perspectiva de rápida abertura da economia, resultado da vacinação acelerada e do programa fiscal de US$ 1,9 trilhão de transferência de renda para as famílias.

Além disso, o novo pacote de US$ 2,3 trilhões designados para investimentos em infraestrutura e na melhoria do padrão de vida da população menos favorecida também aumenta a confiança e deve impulsionar ainda mais os mercados de renda variável.

Os Bancos Centrais da Europa, Ásia e Estados Unidos continuam reforçando suas políticas expansionistas e sinalizaram continuidade dos estímulos à frente e, juntamente com a aceleração da vacinação, tornam o ambiente externo bem otimista.

No cenário local, além dos ruídos políticos gerados pelo recrudescimento da pandemia, a troca de alguns ministros, com destaque pela troca do ministro da Saúde pela quarta vez em menos de um ano, e os ruídos fiscais ainda geram dúvidas nos investidores se ocorrerão possíveis pedaladas no Orçamento do governo, o que poderia deteriorar as expectativas de evolução e crescimento local e ainda a possibilidade de não acompanharmos o ritmo de recuperação econômica mundo afora.

Na política monetária, o destaque ficou por conta do Banco Central interrompendo a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, na mínima histórica e surpreendendo boa parte do mercado com um aumento de 0,75 pontos percentuais, indicando um aumento de igual magnitude na reunião seguinte e mostrando preocupação com a expectativa de inflação e com um risco fiscal mais elevado.

À medida que as expectativas de inflação aumentam, as projeções de crescimento do PIB para 2021 ligeiramente recuam. Isso faz com que os riscos para a atividade ainda sejam relevantes e estejam associados à deterioração adicional do quadro da pandemia, bem como à possibilidade de aumento dos gastos públicos em 2021 e 2022 —a ponto de colocar em risco a dinâmica de médio prazo da dívida pública e consequentemente aumentar os desafios e as incertezas com relação à volta do crescimento econômico mais acelerado, deixando possivelmente o Brasil na retaguarda da volta da atividade econômica mundial.

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