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Veja 3 motivos para a disparada de 13% na Bolsa de Valores em 2022

Será que o Ibovespa pode chegar novamente aos 131 mil pontos? Analista da Levante discute sobre - Getty Images/iStockphoto
Será que o Ibovespa pode chegar novamente aos 131 mil pontos? Analista da Levante discute sobre Imagem: Getty Images/iStockphoto

30/03/2022 11h00

Entre os dias 1° de janeiro e 28 de março deste ano, o Ibovespa —principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira (B3)— registrou alta de 13%, atingindo 118.738 pontos. O movimento se deu em meio a um período de alta tensão no cenário geopolítico global, ao mesmo tempo em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se viu forçado a adotar uma postura mais incisiva no combate à inflação, acelerando o ritmo da alta dos juros.

Mas, afinal, quais os fatores por trás da disparada do Ibovespa? Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, tira essa dúvida e analisa ainda se o índice tem condições de superar o recorde de 131 mil pontos, alcançado em junho do ano passado.

1. A Bolsa ficou barata

A Bolsa brasileira enfrentou um forte movimento de queda ao longo do segundo semestre de 2021, logo após o Ibovespa ter atingido o recorde histórico de 131 mil pontos no meio do ano.

Em meio a preocupações com a situação fiscal do país, aceleração da inflação, alta dos juros e um cenário político conturbado, criou-se um clima de aversão ao risco no Brasil, segundo Bevilacqua.

Isso fez com que muitos investidores vendessem ações indiscriminadamente. Assim, o Ibovespa recuou ao patamar de 100 mil pontos nos últimos dias de novembro, antes de dar início a um movimento de retomada durante o recesso parlamentar.

"A reação exagerada do mercado aos riscos que se apresentaram ao longo dos seis últimos meses do ano passado fez com que as ações de muitas empresas despencassem de preço, mesmo com elas apresentando bons resultados. Criou-se, assim, um cenário propício para os investidores com visão de longo prazo e, principalmente, para os investidores estrangeiros", diz o especialista.

Com boas ações negociadas a preços baixos e sem boa parte dos riscos que permearam o mercado ao longo de 2021, a Bolsa brasileira conseguiu contrariar o mau humor externo e iniciou 2022 com o pé direito.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante

2. Setores que puxaram a alta

De acordo com o analista da Levante, três setores que exercem forte influência sobre o Ibovespa apresentaram um excelente desempenho ultimamente: os grandes bancos, as petrolíferas e as mineradoras.

Quatro grandes bancos listados na B3 —Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC3/BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11)— respondem por 14,3% do Ibovespa. A Petrobras (PETR3/PETR4) tem um peso de 10,53% no índice, enquanto a participação da mineradora Vale (VALE3) é de 16,33%.

Assim, as ações destas seis companhias respondem por cerca de 41% da carteira teórica do Ibovespa, o que significa que quando as ações destes três setores se valorizam, o índice tende a subir.

1. Bancos: lucros altos, preços baixos

"No caso dos bancos, a valorização das ações se deve ao fato de os papéis do setor não terem acompanhado a recuperação do Ibovespa ao longo de 2021. Pelo contrário: no início de 2022, as ações dessas empresas eram negociadas a preços muito inferiores ao patamar pré-pandemia", declara Bevilacqua.

A despeito do cenário desafiador, os bancos reportaram lucros bilionários durante os últimos anos, mas foram impedidos de distribuir os dividendos generosos dos anos anteriores por uma determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN). Assim, a distribuição de proventos ficou limitada ao mínimo obrigatório, que corresponde a 25% do lucro líquido auferido.

Com o avanço da vacinação e o controle da pandemia de covid-19, a medida foi flexibilizada, "tornando os bancos novamente atrativos para os investidores ávidos por dividendos generosos", de acordo com o analista.

Além disso, o movimento de alta dos juros foi intensificado pelo Copom, levando a taxa Selic —a taxa básica de juros— ao patamar de 11,75% ao ano.

A Selic mais alta é favorável aos bancos, pois viabiliza um aumento do spread bancário (a diferença entre os juros pagos por uma instituição ao captar recursos e os juros cobrados em operações de empréstimo e financiamento).

Para ilustrar esse movimento de alta, ele afirma que as ações preferenciais do Itaú (ITUB4), o maior banco privado da América Latina, acumulavam uma valorização de 31,03% até o dia 28 de março.

2. Minério de ferro e petróleo

Tanto o petróleo quanto o minério de ferro são cotados em dólar no mercado internacional, fazendo com que as oscilações dos preços destas commodities (matérias-primas) influenciem os resultados financeiros das companhias que atuam na sua exploração.

O petróleo já vinha em alta desde novembro de 2020, quando, em virtude da pandemia, o barril do tipo Brent era negociado por cerca de US$ 37. Em dezembro de 2021, com a retomada mais vigorosa da economia global, o barril da commodity estava cotado entre US$ 70 e US$ 80.

Com o início das tensões na fronteira entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril saltou para a faixa de US$ 90, chegando ao patamar de US$ 120 com a eclosão do conflito e o debate acerca da imposição de sanções ao petróleo russo.

"Neste contexto, as ações das petrolíferas brasileiras acompanharam a alta do produto, mas tiveram os ganhos contidos pela discussão acerca de medidas capazes de reduzir os preços dos combustíveis. As ações preferenciais da Petrobras, a maior companhia brasileira do setor, acumulavam alta de 11,07% até o dia 28 de março", diz Bevilacqua.

O minério de ferro, por sua vez, vinha em trajetória de queda no final de 2021, devido à queda da demanda pela commodity na China, que havia imposto restrições à produção de aço no país.

A tonelada do minério de ferro chegou a ser cotada acima de US$ 210 em maio de 2021, mas recuou ao patamar de US$ 90 em novembro do mesmo ano.

Da mesma forma que o preço do minério caiu, as ações das mineradoras listadas na Bolsa também sofreram perdas, com os papéis da Vale recuando de R$ 105 para a faixa de R$ 65 no mesmo intervalo.

Contudo, a retomada da produção siderúrgica na China fez crescer novamente a demanda por minério de ferro, fazendo com que o preço da commodity voltasse a subir em dezembro.

Com a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia, dois importantes produtores de aço, a China viu um aumento da procura pelo aço produzido em seu território, e o preço do minério de ferro voltou a disparar nos portos chineses, chegando a US$ 150 a tonelada.

As ações da Vale acompanharam esse movimento de retomada, e acumularam alta de 22,29% entre 1° de janeiro e 28 de março deste ano.

3. Apetite estrangeiro

"Apesar do cenário turbulento e da perspectiva de que a eleição presidencial deve trazer bastante volatilidade à Bolsa, os investidores estrangeiros injetaram quantias bilionárias no mercado acionário brasileiro nos primeiros meses de 2022", declara o analista. Isso acontece, para ele, porque o mercado brasileiro é o mais bem posicionado dentre os países emergentes no presente momento.

Entre o início do ano e o dia 23 de março, os investidores estrangeiros entraram com R$ 87,9 bilhões na B3, tendo direcionado boa parte desse capital para as blue chips brasileiras —ou seja, as companhias com maior valor de mercado listadas na Bolsa.

Esse volumoso fluxo de capital estrangeiro foi fundamental para sustentar o bom desempenho do Ibovespa nos primeiros meses de 2022, e revela que muitos ativos brasileiros têm fundamentos sólidos o suficiente para subir de preço.

"Os investidores domésticos, por outro lado, seguem monitorando o mercado com cautela, uma vez que as projeções de inflação acima do teto da meta neste ano e a eleição presidencial de outubro prometem trazer bastante volatilidade ao mercado", afirma.

Em busca de um novo recorde?

"Após um excelente começo de ano, favorecido pelo ambiente político mais ameno e pela alta dos preços das commodities, o Ibovespa busca retomar o patamar de 130 mil pontos diante de um cenário desafiador", declara Bevilacqua.

No mercado interno, o debate em torno de medidas capazes de conter a alta dos combustíveis, o comportamento da inflação e a retomada das discussões de propostas de reformas no Congresso devem ditar o tom da Bolsa durante o segundo trimestre. Já a expectativa pelas eleições deve ser o principal assunto a partir do terceiro trimestre.

No exterior, os desdobramentos da guerra na Ucrânia e os efeitos das sanções impostas à Rússia sobre o mercado global de energia devem ser os principais pontos de atenção no curto prazo.

Ao longo do ano, atenção redobrada ao ritmo de alta dos juros nos Estados Unidos, uma vez que os membros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) têm adotado um tom cada vez mais duro no que diz respeito ao combate à inflação.

Caso esses eventos tenham desfechos majoritariamente positivos, é possível que o Ibovespa ganhe fôlego para buscar um novo recorde ainda em 2022.

Mas o especialista da Levante diz também que "é preciso observar o mercado com cautela, uma vez que a Bolsa deve se mostrar bastante volátil enquanto predominar a incerteza acerca das questões elencadas acima".

Acesse aqui o relatório completo da Levante sobre a alta do Ibovespa em 2022.

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.