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Com polêmicas, vale a pena trocar ações da Petrobras por energia limpa?

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, litoral do RJ - Bruno Domingos
Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, litoral do RJ Imagem: Bruno Domingos

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

26/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Investir em empresas e projetos de energia renovável diversifica carteira, dizem profissionais de mercado
  • Opções para investir em energia limpa no Brasil estão na Bolsa e em fundos de investimento
  • Veja o que dizem profissionais de mercado para incluir energia renovável na carteira

O combustível fóssil - petróleo, carvão e gás mineral - ainda é a principal fonte de energia que move a economia do planeta no presente, mas o futuro pertence à energia limpa, gerada por fontes renováveis, como a solar, a eólica e a hidrelétrica, dizem economistas. Dito isso, como deve se comportar o investidor? Esperar a troca de guarda da matriz energética, ou ir já colocando parte de seu patrimônio nos novos negócios?

No caso do investidor brasileiro, o desafio é ainda maior. Afinal, a Petrobras é um dos papéis mais importantes na Bolsa. As ações da petroleira representam 8,9% do Ibovespa, principal índice acionário do país. E para colocar mais um ingrediente nessa decisão, tem o histórico de intervenções dos políticos na gestão da empresa, que provoca oscilações e perdas para o aplicador - como aconteceu este mês, quando Bolsonaro anunciou a intenção de trocar o comando da operação.

Com tudo em isso no radar, veja o que dizem profissionais de mercado sobre investimento em energia limpa.

Vale a pena investir em energia limpa?

Segundo gestores de recursos, governos de vários países - na Europa, América do Norte e Ásia, principalmente - estão criando leis que penalizam a cadeia de produção e o consumo de combustível fóssil. São obstáculos que vão de impostos mais elevados à proibição de comercialização de produtos que dependam de petróleo. O Reino Unido, por exemplo, anunciou este ano a decisão de seguir exemplo da Noruega, Alemanha e França, definindo data para vetar venda de carros novos que não sejam movidos à eletricidade.

O economista Roberto Attuch, com pós-graduação em universidades como a de Nova York (NYU) e a de Oxford, destaca que as empresas de energia não renovável podem até ter um desempenho positivo no curto prazo, com a retomada da atividade econômica pós-pandemia, mas no longo prazo a grande oportunidade de retorno está na energia limpa.

Energia limpa é uma de nossas principais teses de investimentos nessa década. O mercado subestima o nível de comprometimento que os países desenvolvidos, e agora os Estados Unidos entre eles, têm com a energia limpa e com a redução da emissão de carbonos. Não é mais uma questão de boas intenções. E quem não fizer isso vai ficar para trás. As empresas terão cada vez mais que explicar suas emissões de carbono.
Roberto Attuch, ceo da casa de análises Ohmreserach

Como investir em energia limpa no Brasil?

Para colocar uma parte do dinheiro em energia limpa, o investidor brasileiro tem algumas opções no mercado de capitais. Veja algumas.

  • Fundos de investimentos: Há fundos multimercados que focam projetos ou índices de ações de companhias que investem em energia limpa ou no consumo de fontes renováveis de energia. Grandes gestores de recursos estão lançando produtos desse tipo.
  • Fundos de Investimento em Participações de Infraestrutura (FIP-IE): Na Bolsa há uma meia dúzia de FIP-IE, fundos de renda fixa que investem em debêntures de empresas e projetos ligados à geração ou transmissão de energia renovável. São títulos emitidos por empresas que têm parques solares ou eólicos, por exemplo. As cotas desses fundos podem ser negociadas em Bolsa, o que dá liquidez ao investidor. E ainda é um investimento isento de Imposto de Renda.
  • ETFs: Há ETFs que investem em empresas comprometidas com a geração de energia renovável. No exterior, há diversas opções nas Bolsas americanas e da Europa. No Brasil, um exemplo é o iShares Índice Carbono (ICO2).
  • Ações: A Bolsa brasileira tem, entre as ações listadas, papéis de empresas de energia limpa, que investem em parques eólicos e solares.

Como avaliar se o investimento vale a pena?

Os mesmos cuidados necessários a quem investe em qualquer outro negócio devem ser adotados por quem quer incluir energia renovável em sua carteira. Ou seja, checar se o ativo é rentável e confiável.

Não é por ser uma empresa ou projeto de energia renovável que ele já justifica o investimento. Tem que ver se de fato ele é rentável ao longo dos anos.
Carolina Rocha, sócia diretora de operações da Perfin

A Perfin é uma gestora de recursos que lançou fundos de investimento que possuem participações na cadeia de energia renovável, ou seja, empresas de geração e transmissão que têm o faturamento ligado a esse ativo.

Antes de investir em energia limpa, o caminho sugerido por gestores de recursos é começar avaliando a atual carteira. Parte desse processo pode ser feito com ajuda de profissional de mercado, na instituição financeira com a qual o investidor tem relação. Se ele quiser fazer sozinho essa avaliação, os especialistas sugerem os seguintes passos:

  1. Checar na carteira o que está na contramão do tema
  2. Mapear o universo disponível para investir
  3. Escolher os ativos que existem no mercado
  4. Definir o percentual que cabe na carteira
  5. Checar se aquela empresa ou aquele projeto será rentável ao longo dos anos

Quanto ter de energia limpa na carteira

A inclusão de ativos ligados à energia limpa na carteira de investimentos pode ser feita aos poucos. Gestores dizem que ações e cotas de fundos de investimento devem ser usadas para diversificar o risco da carteira. Assim, o investidor até pode manter os investimentos que já tem em ações de Petrobras ou outros ativos ligados à energia não renovável.

Gestores sugerem que a energia limpa entre na parte dos investimentos de renda variável com algo ao redor de 5% dessa fatia, dependendo, claro, do perfil de risco de cada pessoa.

O sócio da Hieron Patrimônio Familiar, Reinaldo Lacerda, diz que uma opção é o investidor ir incluindo ativos de energia renovável quando for fazendo novas aplicações.

Ao investir, a rentabilidade imediata não deve ser a única preocupação, mas sim a sustentabilidade dessa empresa lá na frente. Afinal, o investimento que hoje é lucrativo pode se tornar negativo no futuro.
Reinaldo Lacerda, sócio da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento

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