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Produtos apodrecem nos caminhões

Luciana Dyniewicz

São Paulo

28/05/2018 08h19

O cheiro é de lixo abafado, um odor quente. Dentro do baú de um caminhão parado há uma semana na Rodovia Presidente Dutra, no acesso a Santa Isabel (a 60 km de São Paulo), apodrecem couve e alface. Tomates-cereja começam a soltar uma água amarelada e alguns estão cobertos por fungos brancos com manchas pretas. Pinhão e abóbora, por enquanto, resistem.

O motorista do caminhão, que não quis se identificar, contou apenas que saiu da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) na segunda-feira passada (21) para entregar verduras e legumes em São José dos Campos. Parou 40 quilômetros antes de chegar lá. Como o caminhão não é frigorífico, os alimentos estão apodrecendo. Parte das mercadorias foi retirada antes, para os manifestantes se alimentarem.

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O caminhoneiro Wagner Souza Melo, de 46 anos, também já distribuiu parte dos alimentos que transportava. Na quarta-feira, ele tirou 40 quilos de frango do caminhão para os manifestantes comerem. Ainda sobraram pouco mais de 2.900 quilos. Diz que os produtos ainda não estragaram. Três vezes por dia, ele deixa o caminhão ligado por cerca de 40 minutos para manter os frangos congelados. A temperatura interna se mantém, assim, ao redor dos dez graus negativos - o normal seria -18ºC. "Enquanto tiver em temperatura negativa, não estraga."

Melo afirma ainda que, na última semana, não gastou nem meio tanque de combustível para manter a temperatura do baú - "com o caminhão parado, gasta muito pouco" - e destaca estar sem pressa para sair dali: "Olha minha cara de preocupado. Tenho carne aqui (para comer). Não acho ruim ficar parado se for para melhorar o Brasil". O caminhão de Melo foi comprado em 2015 por cerca de R$ 120 mil. Ele paga parcelas mensais de R$ 3.500 pelo veículo e conta que, nas últimas duas semanas em que trabalhou, gastou R$ 2.900 com diesel, enquanto faturou R$ 6.900. "Sobra muito pouco para dar uma vida digna à família."

Caminhão geladeira

O caminhoneiro Moaci Guilherme, de 38 anos, também transporta carne em um caminhão frigorífico. Mesmo ligando diariamente o caminhão para manter a temperatura, diz que o alimento já estragou, porque o baú foi transformado em uma espécie de geladeira para manter refrigerante, água e manteiga para os grevistas. "A temperatura do baú ainda está - 11 graus, mas estamos abrindo muito para dar suporte para o pessoal. Está descongelando a carne." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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