Se Brasil é autossuficiente em petróleo, por que importa tanto combustível?
As descobertas gigantes no pré-sal tornaram o Brasil autossuficiente na produção de petróleo. O volume total extraído hoje no país, de 2,6 milhões de barris por dia, em tese, seria capaz de atender à demanda nacional por combustíveis.
Na prática, porém, o país ainda não se livrou da importação de petróleo e derivados. Pelo contrário, os volumes importados têm aumentado nos últimos anos. Segundo especialistas, há motivos técnicos e econômicos para justificar essa contradição. Veja as explicações mais abaixo.
Leia também:
- Quem são e o que querem os caminhoneiros que estão parando o país?
- Gasolina do Brasil é uma das mais caras? Há 76 países com valor maior
- 6 perguntas para entender a alta dos combustíveis
Petróleo brasileiro é difícil de refinar
O petróleo predominante no Brasil é do tipo pesado, mais denso e difícil de refinar, explica o professor Celso Grisi, da Fundação Instituto de Administração (FIA).
“As refinarias brasileiras precisam misturar o óleo pesado nacional com o óleo leve importado para conseguir refinar. A Petrobras acaba exportando o petróleo excedente e importando óleo leve para fazer a mistura. O problema é que o óleo pesado é mais barato do que o leve. Ganhamos menos com a exportação e gastamos mais com a importação”, diz Grisi.
A situação das importações já foi pior no passado, quando as refinarias eram mais dependentes do óleo leve. “Uns 10 anos atrás, cerca de 50% do petróleo refinado pela Reduc (Refinaria Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro) vinha do Oriente Médio”, afirma Márcio D’Agosto, professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ.
“Nos últimos anos, a Petrobras fez diversos investimentos nas refinarias para ampliar a capacidade técnica de refino de óleo pesado e reduzir a necessidade de importação de óleo leve”, diz D’Agosto.
Importação para algumas cidades do país é mais vantajosa
As dimensões continentais do Brasil fazem com que a importação de combustível para algumas áreas seja mais vantajosa para as distribuidoras do que o transporte a partir das refinarias nacionais.
“Se você analisar a logística para distribuir gasolina no Maranhão, por exemplo, pode ser mais vantajoso importar de alguma refinaria norte-americana da região do Golfo do México do que trazer o combustível do Sudeste do Brasil, onde estão concentradas as refinarias da Petrobras”, afirma o professor da Coppe/UFRJ.
Política de preços da Petrobras favorece concorrência
A nova política de preços da Petrobras, que entrou em vigor no ano passado favoreceu o aumento da concorrência na distribuição de combustíveis.
“Até pouco tempo, a Petrobras subsidiava o preço dos combustíveis, inviabilizando a entrada de competidores no mercado de distribuição. Agora, ela segue os preços internacionais”, afirma Fernanda Delgado, pesquisadora da FGV Energia.
Com os preços alinhados, os concorrentes da Petrobras preferem negociar a compra de grandes cargas de combustíveis de refinarias no exterior para revender no Brasil. “Estamos em um ambiente de maior concorrência, em que a importação pode ser mais vantajosa do que comprar da Petrobras”, diz Márcio D’Agosto, da Coppe/UFRJ.
A competição só não é maior porque o mercado de distribuição no Brasil ainda é concentrado em três grandes empresas: BR Distribuidora (que é subsidiária da Petrobras), Ipiranga (do grupo Ultrapar) e Raízen (controlada por Shell e Cosan).
“Essas distribuidoras ainda compram muito combustível da Petrobras. As bases de distribuição delas, inclusive, ficam próximas das refinarias. Mas, em um ambiente de maior concorrência, com a possibilidade de importar combustível a um preço competitivo, a tendência é que a Petrobras perca participação de mercado”, declara D’Agosto.
Participação de mercado da Petrobras está caindo
Dados divulgados pela Petrobras no balanço do primeiro trimestre mostram que a estatal já está perdendo espaço no mercado brasileiro por causa das importações.
A companhia respondia por 90% das vendas de gasolina no país em 2016. A participação caiu para 83% no ano passado, chegou a 77% em fevereiro deste ano e se recuperou em março, para 80%.
No mercado de diesel, a estatal respondia por 83% das vendas em 2016, 74% em 2017 e chegou a 64% em janeiro deste ano. Em março, a fatia de mercado voltou a crescer para 77%.
Em contrapartida, o volume importado pelas distribuidoras de combustíveis que concorrem com a Petrobras vem crescendo.
As importações de gasolina aumentaram 23,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, totalizando 975 milhões de litros. As importações de diesel somaram 2,907 bilhões de litros no primeiro trimestre, alta de 39,9% sobre igual período de 2017.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.