Guru da Selic diz que taxa básica fica em 4,5% até 2021 e alerta para dólar
Resumo da notícia
- Economista que mais acerta projeções de juros diz que BC vai parar de cortar a Selic
- Para ele, juros voltarão a subir quando economia crescer mais de 2,5%
- Dólar e carne caros ainda não preocupam, mas precisa ficar de olho na inflação
- Aumento de crédito por fintechs e bancos digitais é um dos motivos dos juros baixos
O Banco Central vai parar de cortar a taxa básica de juros, mantendo a Selic no atual patamar. A taxa, principal referência para crédito e para investimentos em renda fixa no país, só voltará a mudar no segundo semestre de 2021. As projeções são do economista-chefe da Vinland Capital, Aurelio Bicalho, o economista do país que mais acerta as projeções para os juros no país.
Segundo ele, os juros voltarão a subir, mas será por um bom motivo. "Quando o Banco Central tiver que subir os juros lá na frente, isso vai ser bom porque representa que a economia voltou a crescer, que o desemprego caiu e que as pessoas passaram a consumir mais", disse o economista-chefe da Vinland Capital, administradora de recursos, a líder do Top 5 do Banco Central em projeções para Selic. O Top 5 é o grupo dos economistas que têm os maiores índices de acertos para as projeções da economia, dentro de um grupo de dezenas de profissionais de instituições financeiras e consultorias do país.
O campeão em acertos sobre os juros no país diz que a Selic voltará a subir porque a atual taxa está mais baixa do que o chamado juro neutro, aquela taxa que não provoca inflação nem atrapalha o crescimento. Mas quando voltar a subir, a taxa básica de juros do Brasil não voltará a patamares do passado, como os 14,25% de três anos atrás.
Isso porque os juros no mundo todo estão mais baixos e a economia brasileira está mais eficiente. Ou seja, empresas e governo conseguem produzir mais sem gerar inflação. Além disso, o mercado de crédito no Brasil está mais disputado, com as fintechs e bancos digitais, o que reduz o custo do dinheiro para investimentos e consumo.
Bicalho alerta que existem alguns cuidados a serem tomados no horizonte. Um deles é o dólar, que não pode subir e ficar acima de R$ 4,40 por muito tempo, pois causaria inflação.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
UOL - Esse último encontro do Copom marca o fim do atual ciclo de redução da taxa básica de juros no país ou teremos mais cortes?
Aurelio Bicalho - É possível que esse seja o último corte. Pelas projeções do Banco Central, as expectativas de inflação estão próximas da meta para 2020 e 2021. Assim, em tese, até haveria espaço para uma redução adicional dos juros. Por outro lado, houve uma depreciação do câmbio, com queda do real ante o dólar, e mais o choque de preços de alimentos, com destaque para carne. Isso vai elevar a projeção de inflação, mas no curtíssimo prazo. Além disso, as projeções para atividade econômica estão melhores e o cenário externo também. O próprio BC já tinha sugerido na última reunião uma postura de cautela.
Com tudo o que ocorreu desde a última reunião, o BC pode decidir que a Selic está no patamar adequado. Ele não fecha a porta, mas para manter coerência com o discurso de cautela, com tudo o que ocorreu desde o último encontro, o BC deve optar por encerrar o ciclo de corte de juros.
Quais são os pontos de atenção mais importantes neste momento para a trajetória da Selic a ser definida pelo BC?
Primeiro, temos que acompanhar as expectativas de inflação mais a médio prazo, olhando para 2021. O câmbio e o preço da carne não podem contaminar as expectativas de inflação mais para a frente. Outro ponto importante são os núcleos de inflação (indicadores de preços que descontam alguns itens que variam muito além da média). Também temos que acompanhar o ritmo do crescimento econômico e do emprego. Se a economia aquecer muito agora, pode ser sinal de que poderão surgir pressões inflacionárias.
O câmbio então seria uma das variáveis mais importantes?
O câmbio precisa ser monitorado, mas é preciso entender essa alta do dólar. Se tivesse a ver com política econômica errada seria preocupante. Mas não é esse o caso. O governo continua atuando com o ajuste fiscal, controlando gastos. As reformas estão caminhando, tudo no rumo certo para o Brasil ter uma economia mais eficiente.
O dólar hoje no Brasil tem relação com os juros menores, menor fluxo de recursos com os leilões de petróleo, que ficou abaixo do esperado, além do cenário internacional, afetado por questões na região, com os casos do Chile e da Argentina.
Mas o importante é que o prêmio de risco para investir no Brasil está baixo. De qualquer forma, tudo isso tem que ser monitorado. Se o dólar continuar subindo de forma persistente e afetar o prêmio de risco, se ficar num nível acima de R$ 4,40, pode começar a afetar as expectativas de inflação.
Uma vez encerrado o ciclo de corte de juros, o que deve ocorrer então com a Selic?
A taxa de juros está abaixo da neutra. Mas essa própria taxa de juros neutra está mais baixa no Brasil. Essa taxa de 4,5% deve produzir um estímulo para a economia. Mas não vejo uma alta dos juros antes do segundo semestre de 2021.
Há uma ampliação dos agentes que atuam no mercado de crédito, com fintechs e bancos digitais, também com mudanças no ambiente regulatório, com a introdução do Open banking. Tudo isso pode afetar os juros?
Sim, isso já está ocorrendo. Essa transformação toda no mercado de crédito ajuda a reduzir o spread, torna o mercado mais competitivo. Quando o Banco Central tiver que subir os juros lá na frente, isso vai ser bom porque representa que a economia voltou a crescer, que o desemprego caiu e que as pessoas passaram a consumir mais.
Mas os juros vão subir menos que o necessário. Com o cenário de condição fiscal mais equilibrada e com os juros reais baixos no mundo, zero nos Estados Unidos e negativos na Europa. É razoável pensar uma taxa de juros real na casa de 2%, levando em conta uma inflação de 4%, podemos pensar em uma Selic de 6% a 7%.
Levando em conta seu cenário, quanto pode subir o PIB em 2020?
O PIB deve crescer 2,5% em 2020. Temos uma safra boa de dados da economia, em especial, no varejo. A indústria é que ainda pode reagir com mais força. Mas pensando em um crescimento de 2,5% é um bom número, porque temos um cenário de economia crescendo entre 2% e 3%.
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