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VP do iFood diz qual é a habilidade essencial para vencer na nova economia

Diego Barreto está lançando um livro sobre trabalho e empreendedorismo - Assessoria de imprensa
Diego Barreto está lançando um livro sobre trabalho e empreendedorismo Imagem: Assessoria de imprensa

Denyse Godoy

do UOL, em São Paulo

30/04/2021 04h00

A trajetória profissional do bacharel em direito mineiro Diego Barreto, 38, reflete bem as mudanças que a economia vem impondo aos trabalhadores. Da graduação em um curso clássico e um começo de carreira em empresas de setores básicos como construtoras e fabricantes de papel e celulose, Barreto deu uma guinada ao completar uma década de formado: passou a atuar em companhias tecnológicas. Foi diretor do grupo de startups Movile e, desde novembro de 2018, é vice-presidente de finanças e estratégia do app de entrega de comida iFood (que é controlado pelo Movile). Para dividir um pouco do aprendizado ao longo dos anos, Barreto está lançando seu primeiro livro: "Nova Economia - Entenda por que o perfil empreendedor está engolindo o empresário tradicional brasileiro" (editora Gente). O executivo quer explicar para estudantes, donos de negócio e colaboradores como o mundo está funcionando e contar o segredo para ter sucesso agora: investir no aprendizado constante. Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao UOL:

Por que você decidiu escrever esse livro? Considera que aqui no Brasil ainda não entendemos como funciona a nova economia?

Em 2014, eu estava fazendo um MBA [Master in Business Administration, da sigla em inglês] na escola de negócios IMD, na Suíça. Em uma aula de economia super complexa, o professor, um alemão, terminou uma explicação com o seguinte comentário: "É por esse e outros motivos que países como o Brasil nunca vão dar certo". Falou isso justo em um momento em que o país vinha tendo um forte crescimento, com estabilização da economia, o boom de commodities. Acabei entrando em um debate com ele. O argumento dele é que o Brasil estruturou sua economia de forma a não gerar empresas competitivas. Nunca vai conseguir ter uma empresa que vende para fora, porque só exporta o que a natureza deu. Para proteger essas empresas pouco competitivas, são aumentadas as barreiras de entrada no país. O estrangeiro não entra, a competição diminui, e temos um país para poucos. As grandes empresas, que já vêm de muito tempo, tendem a se perpetuar. É diferente do que acontece com outros países. Quantas empresas no exterior nasceram, cresceram e morreram? Teve a Blackberry no Canadá, o eBay nos Estados Unidos... Decidi então estudar para entender melhor o assunto.

Até então, você atuava nessa economia tradicional: trabalhou no setor de construção civil, energia elétrica, e papel e celulose. O que você aprendeu sobre a nova economia no MBA?

Como eu defino a nova economia? É um grupo de empresas de usa tecnologias, conceitos, posicionamento, frameworks modernos - usam o novo. Meu pai não é velho pela idade, mas porque tem um celular e não usa todos os recursos, o que poderia lhe poupar idas ao banco, por exemplo. Por que temos no Brasil empresas que continuam usando coisas antigas e seguem líderes de mercado? Porque aqui não tem competição.

A volta ao Brasil lhe deu um choque de realidade?

Eu pensava: quando isso vai mudar? Cheguei em 2015, bem no momento em que começaram a surgir empresas que hoje chamam a atenção: Buscapé, iFood, 99, Ebanx, Loggi, Creditas. Até hoje, continuam voando. Quando acompanhei o nascimento desses nomes, percebi que algo estava acontecendo.

O que mudou no país para permitir a criação dessas empresas inovadoras?

Primeiro, a globalização. O Brasil atrasou demais no processo de globalização. Pouco tempo atrás, quem viajava ao exterior e precisava telefonar para casa gastava rios de dinheiro na ligação. Se perdia o cartão do banco, demorava semanas para chegar. Comprar um livro na Amazon nos Estados Unidos e mandar para o Brasil não custava 10 dólares. Isso chegou há uns dez anos. As cadeias estão integradas, e pela primeira vez alguma coisa que é criada lá fora chega aqui com velocidade. Outra parte da explicação é a massificação de tecnologias. O preço caiu, e elas se tornaram acessíveis. Atualmente, você pode aprender a programar, ou contratar um programador que coloca a sua ideia de pé. Não precisa de um espaço físico enorme, usa a nuvem, usa uma API [interface de programação de aplicações], se conecta ao Mercado Livre. Cria uma marca como um canal do Instagram ou do Facebook e tem um negócio. Essa é a nova economia. Para completar o cenário, desde 2008 os bancos centrais vêm injetando muita liquidez nos mercados em termos de taxa baixa de juros. Os investidores então foram à Bolsa, mas não havia ativos suficientes. O mercado imobiliário já estava maduro. Aí, encontraram as empresas de venture capital, as startups, e começou a chegar dinheiro para os novos empreendimentos. Com tudo isso, surgiu um ecossistema de inovação no brasil. Nos últimos cinco ou dez anos apareceu a Endeavor, o Inovabra, o Cubo, o Google Campus. Sou muito revoltado com a baixa mobilidade social no Brasil. Pessoas como eu — homem, branco, heterossexual, de classe média, nascido na região Sudeste - têm tudo para serem bem-sucedidas no Brasil. A nova economia quebra um pouco isso porque transfere a execução dos projetos para quem sabe trabalhar com as novas ferramentas. Um exemplo extremo é o dos digital influencers. Pessoas que acham que produzem um bom conteúdo, têm boa comunicação, vão para as redes e criam negócios milionários, com alcance violento. Há 20 anos, essas pessoas tinham que entrar numa carreira clara, tipo fazer jornalismo, entrar na Rede Globo, para tentar virar um comunicador.

De que maneira essas mudanças afetaram a vida profissional do brasileiro?

Com o livro, quero dizer para o jovem que escuta dos pais que precisa ter cuidado com o desemprego, não falar mal do chefe, tentar um concurso público: existe outro caminho. Para o empresário tradicional, que está conduzindo a sua empresa no caminho errado, o da velha economia, quero dizer: dá tempo de mudar. Dou como exemplo o Magalu, que foi criado há 50 anos, era uma empresa tradicional e virou um ecossistema digital. O mesmo aconteceu com o Banco Inter, a Dasa. O que essas empresas têm em comum? Um acionista com perfil empreendedor. Não é sobre idade, é sobre perfil, ter ideias, estar ligado no mundo, entendendo a modernidade das coisas.

Mas esse perfil empreendedor também está sendo exigido de quem é funcionário de uma empresa inovadora. O colaborador é chamado a dominar as novas tecnologias, dar ideias, criar negócios dentro daquele em que trabalha, ser um "intrapreneur". Como esse profissional pode ter sucesso na nova economia?

A criação de conhecimento que antes era monopolizada pelas universidades está disponível na internet. A distância que existia, no passado, entre buscar conhecimento e adquiri-lo diminuiu brutalmente. Aliás, o tempo que se leva para descobrir que existe um novo conhecimento diminuiu. Está no seu Instagram, no LinkedIn, na sua caixa de e-mails. A grande característica do profissional da nova economia é investir em aprendizado constante. Antigamente, a vida do profissional era ir para a faculdade, trabalhar um pouco, fazer uma pós-graduação, trabalhar mais um pouco, fazer um MBA, trabalhar. O discurso hoje é outro: você pode aprender todo dia, a questão é ter disciplina.

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2021 estão abertas e vão até 15 de junho.