Juros a 12,75%: Entenda em 5 pontos como o corte na Selic afeta sua vida

O Banco Central anunciou uma nova redução na taxa básica de juros, a Selic, que passou de 13,25% para 12,75% ao ano. Embora os juros continuem altos, o reajuste dá sequência ao ciclo de cortes iniciado em agosto e traz efeitos práticos positivos para população, empresas e mercado, segundo especialistas.

Entenda em cinco pontos de que forma a queda da Selic pode impactar sua vida no médio e no longo prazo:

1. Crédito mais barato

Juros menores barateiam o crédito, o que impulsiona o consumo das famílias. Esse efeito não é imediato, e os impactos mais relevantes serão sentidos pela população ao longo do tempo, explica Fabio Louzada, economista e fundador da Eu me banco.

Como uma taxa "básica", a Selic serve como referência para outros juros. Quando ela cai, diminui também o custo de empréstimos e financiamentos. Ou seja: quem busca financiar um carro, por exemplo, pode ter algum respiro, ainda que as reduções não sejam imediatas.

Para as famílias, [o juro mais baixo] ajuda a conseguir empréstimos com taxas de financiamentos um pouco mais reduzidas. Com os juros menores, aumenta também o poder de compra, já que sobra mais todo mês para outros gastos.
Fabio Louzada, da Eu me banco

A gente vem de uma economia pós-pandemia, com guerra no Leste Europeu, então os efeitos [do corte nos juros] também tendem a ser um pouquinho mais amplos. Nosso atual cenário, a gente até pode considerar um intervalo bem maior, de 18 a 24 meses [para impactos mais relevantes].
Bruna Centeno, da Blue3 Investimentos

2. Investimentos e geração de empregos

Com juros altos, o custo de operação de uma empresa também é maior. Isso desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários ficam mais dispostos a tomar riscos para crescer e, consequentemente, gerar empregos. Ou seja, melhora o otimismo em relação ao potencial de crescimento da economia.

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Estamos com a inflação controlada e o setor de serviços vem mostrando um alívio. Mas leva alguns meses para essa queda [dos juros] ser sentida, já que ainda temos uma taxa muito alta. O mercado vai ficar de olho nas próximas divulgações de dados, principalmente do IPCA.
Fabio Louzada, da Eu me banco

3. Aumento da renda média

Com empresas mais propensas a investir e contratar, renda média também cresce. Na prática, um ciclo consistente de redução nos juros significa que haverá mais dinheiro em circulação no mercado, e esse impulso "é chave para as decisões privadas de investimento", escreveu José Paulo Kupfer, colunista do UOL, em agosto.

4. Gasto menor com a dívida pública

A longo prazo, juros menores diminuem gastos do governo com a dívida pública. Segundo indicadores do próprio Banco Central, cada 1% da Selic representa um acréscimo de quase R$ 36 bilhões para a dívida pública do Brasil. "Isso é especialmente vital para um governo tido por muitos como 'gastador'", explicou Carlos Juliano Barros, colunista do UOL.

O [ministro] Haddad, apesar de todos os vieses, foi muito pró-mercado. Nós também temos parte do Congresso que não permitiria medidas que trouxessem mais riscos, principalmente relacionados à parte fiscal.
Bruna Centeno, da Blue3 Investimentos

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5. "Incentivo" ao risco

Cortes nos juros ajudam a impulsionar a Bolsa. A contínua redução dos juros torna menos atrativos os investimentos em renda fixa, como CDB e LCI, explica Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena. Isso pode gerar uma "migração" para ativos mais arriscados, como as ações. Já os títulos atrelados à Selic vão render menos, mas seguirão atrativos enquanto os juros estiverem altos e a inflação, controlada.

Impactos mais visíveis levam tempo

Corte nos juros vai demorar meses para ter impacto relevante. Economistas estimam que os primeiros efeitos da queda da Selic — seja para a população, para as empresas ou para o mercado — podem levar de seis a nove meses para serem sentidos "em uma economia de parâmetros normais", reforça Centeno, da Blue3 Investimentos.

Queda da Selic precisa ser consistente para produzir efeitos duradouros. Apenas um ciclo contínuo, ainda que gradual, de cortes nos juros pode impactar a economia. Por ora, a expectativa do mercado é de que a Selic termine 2023 em 11,75% ao ano, chegando a 9% ao ano em 2024, segundo as projeções do último Boletim Focus.

Brasil ocupa 2º lugar em ranking de países com a maiores juros reais. Segundo levantamento global da Infinity Asset Management, os juros reais — isto é, descontados da inflação — estão em 6,40% ao ano no Brasil. O país aparece atrás do México (6,61%), que agora lidera a lista.

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Com a desaceleração da inflação, o campo está aberto para a Selic ser reduzida de forma significativa. O principal risco doméstico é a política fiscal. Caso a gente tenha um déficit fiscal acima do esperado no próximo ano, isso diminuiria o espaço para a queda dos juros.
Sérgio Goldenstein, da Warren Rena

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