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Reinaldo Polito

As fake news que você repassa podem ser veneno para sua carreira

03/04/2018 04h00

Uma notícia vinda da Malásia surpreendeu o mundo e poderá abrir precedente para que outras nações sigam esse exemplo: o país acaba de aprovar lei punindo quem for acusado de usar fake news com até seis anos de prisão e multa de até US$ 123 mil. Há opiniões contrárias e favoráveis a essa medida.

Quem já foi vítima de notícias falsas está aplaudindo de pé. Por outro lado, críticos afirmam que essa decisão é uma forma de impedir a liberdade de expressão antes que se realize uma eleição geral. Esse é um tema instigante.

Talvez não exista assunto mais palpitante no momento que as fake news. A cada dia estoura um escândalo originado por notícias falsas, envolvendo importantes personalidades e até grandes nações. Ainda hoje se discute a influência das fake news nas últimas eleições norte-americanas.

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Aqui no Brasil não é diferente. O Ministro Luiz Fux, que atualmente preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), declarou em diversas oportunidades que uma das prioridades da sua gestão será combater as fake news, para evitar que notícias falsas interfiram no resultado das eleições deste ano. Por que as fake news são compartilhadas, dentro ou fora dos períodos eleitorais?

Algumas notícias falsas são divulgadas com caráter sensacionalista, com o objetivo de obter lucro a partir do aumento do número de leitores. Outras são satíricas, com a finalidade da diversão. Há ainda, infelizmente, certas notícias plantadas com o fim de prejudicar pessoas ou organizações.

Embora eu particularmente não goste de nenhuma forma de divulgação de notícias falsas, concordo com alguns que se o objetivo é apenas o de satirizar, sem prejudicar ninguém, vá lá. O que não se concebe, entretanto, é a notícia falsa que fere reputações.

Esse tema tão palpitante não é novo. O termo fake news surgiu recentemente, mas sua prática é bastante antiga. Só como exemplo, basta citar que para sensibilizar o povo a tomar partido favorável à Revolução Americana, Benjamin Franklin inventou que índios assassinos agiam a mando do Rei George III.

Há frases célebres que passaram para a história como sendo verdadeiras, quando, na verdade, nunca encontraram respaldo na realidade. Uma das mais conhecidas é atribuída a Galileu Galilei. Ele defendia o Heliocentrismo (teoria que afirmava que a Terra girava em torno do sol, e que não era o centro do universo).

Os inquisidores, adeptos ao Geocentrismo, não gostaram da posição de Galileu, acusaram-no de heresia e o levaram a julgamento. Para escapar da pena de morte, ele negou suas convicções. Aí é que entra a famosa frase atribuída a ele.

Dizem que após declarar o desmentido, Galileu teria murmurado entre os dentes: “No entanto, ela se move”. Até hoje não surgiu um único documento oficial que confirmasse o fato. Nem mesmo a biografia escrita por um de seus seguidores se refere a essa frase. Fake news.

Quer outra famosa? A frase “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo” atribuída Voltaire, jamais foi proferida por ele. Stephen G. Tallentyre, pseudônimo da escritora Evelyn Beatrice Hall, foi quem talhou essa frase na tentativa de traduzir a essência do pensamento do escritor francês. Portanto, mais uma fake news histórica.

Ocorre que hoje, com a disseminação das redes sociais, as notícias se alastram muito rapidamente, chegando em determinados casos a milhões de visualizações. Algumas pessoas não têm consciência, entretanto, que ao compartilhar uma notícia falsa, sabendo que é falsa, poderão ser responsabilizadas.

Há casos de altos executivos de grandes empresas que foram demitidos porque compartilharam notícias falsas. Recentemente houve uma avalanche de notícias falsas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. Pessoas importantes no judiciário brasileiro tiveram de se explicar porque fizeram comentários sobre ela baseados em informações mentirosas veiculadas na internet.

Por outro lado, como o tema fake news tem sido debatido quase à exaustão, muitas pessoas começam a ficar mais cautelosas quando recebem uma mensagem muito bombástica. Principalmente antes de retransmiti-las costumam fazer primeiro uma rápida pesquisa.

Desconfie

Dessa forma, ainda que a sua postagem não seja repassada, há o risco de que a pessoa a quem enviou a mensagem saiba que você não tem critério para verificar se as informações que posta são ou não verdadeiras. Talvez não haja nenhuma consequência, mas, dependendo da circunstância, sua imagem poderá ser arranhada.

Para não incorrer em erros, um teste de verificação bem rápido para saber se uma notícia é falsa ou não é observar os grandes órgãos de imprensa. Se nenhuma importante empresa noticiosa falou sobre aquele assunto tão excepcional, desconfie da autenticidade da informação, pois a chance de que seja falsa é muito grande.

No trabalho de preparação que fazemos com os estagiários que procuram a nossa ONG Via de Acesso, repetimos um ensinamento como se fosse mantra: cuidado, você está sendo admitido pelo currículo, mas poderá ser demitido pelo Facebook.

E alertamos que, além das postagens pessoais inconvenientes, o compartilhamento de notícias falsas deve ser afastado. Todos terminam o período de treinamento e vão iniciar sua carreira profissional conscientes do perigo que estarão correndo se compartilharem fake news.

Sensacionalismo

Temos de redobrar nossos cuidados com esse assunto. Estudos mostram que, de maneira geral, o ser humano gosta de sensacionalismo e de ser novidadeiro. São ingredientes perfeitos para prejudicar uma carreira profissional: contar uma novidade sensacional, mas mentirosa. Dependendo da relevância do fato, as consequências poderão ser bem negativas.

Tão grave quanto compartilhar informações falsas pela internet é transmiti-las verbalmente em palestras e reuniões. Alguns oradores se aproveitam de notícias interessantes para ilustrar suas teses. Em certos casos não percebem que a história que contaram é falsa e que, por isso mesmo, acabam tirando a credibilidade da sua argumentação.

Portanto, só inclua em suas apresentações histórias que tenha pesquisado e confirmado sua autenticidade. No caso de dúvida, não as use como ilustração, muito menos as compartilhe pelas redes sociais.

Superdicas da semana:

  • Sendo conveniente, conte histórias para ilustrar suas apresentações
  • No mundo corporativo, procure usar como ilustrações histórias reais, extraídas do negócio que desenvolve ou do mercado onde atua
  • Sendo a história verdadeira ou fantasiosa, é preciso que seja bem contextualizada
  • Nunca conte histórias falsas. As fake news podem tirar sua credibilidade


Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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