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Brasileiro traz erva da China para fazer chá gourmet e fatura R$ 320 mil

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

17/11/2014 06h00

Mesmo um mercado milenar, como o de especiarias chinesas, pode ser redescoberto. Todos os anos, os sócios João Campos, 28, e Caio Barbosa, 27, viajam à China atrás de uma forma específica da erva Camellia sinensis, da qual derivam vários tipos de chá. Eles buscam produtores que colhem a folha inteira, apenas na primavera, para a produção de um chá gourmet.

“A produção é totalmente artesanal. Apenas os olhos humanos são capazes de diferenciar o broto bom do ruim”, afirma Barbosa. O produto é importado e vendido na loja virtual Chá Yê!. A empresa, que também vende copos e bules para o preparo do chá, espera faturar R$ 320 mil até o fim de 2014, mas não informa o quanto já ganhou nos anos anteriores.

São oito tipos de chá: brancos, pretos, verdes, amarelos, aromatizados, “oolongs” (escuros e envelhecidos), “puers” (fermentados) e “displays” (flores ou folhas que se abrem em contato com a água). Os preços variam de R$ 9,70 a R$ 38,10 para pacotes de 10 g a 35 g. Restaurantes como o Arturito, o Aya e o Casa Café, em São Paulo, já servem os chás da empresa.

Empresários visitam produtores e fazem curadoria de chá chinês

A ideia do negócio surgiu em 2011, quando Campos, formado em economia e gastronomia, foi trabalhar em um restaurante em Xangai, na China. Na época, ele foi incumbido de montar a carta de chás do estabelecimento. Ao pesquisar sobre o produto, o empresário se encantou com a cultura por trás da bebida, que considera tão rica quanto à do vinho.

De volta ao Brasil, em 2012, Campos convidou o sócio para vender o chá chinês por aqui. Eles investiram R$ 150 mil e foram até a China conhecer as fazendas onde o produto é cultivado. “Fazemos uma espécie de curadoria visitando vários produtores e selecionando os melhores para comprarmos o chá”, diz Barbosa.

O produto vem para o Brasil de avião e leva até três semanas para chegar à sede da empresa, somando o tempo de viagem e alfândega. “Durante a viagem, fechamos a compra de alguns lotes que são enviados bimestralmente e outros semestralmente”, afirma.

Autorizações, burocracia e câmbio podem prejudicar importação

A importação de produtos consumíveis (alimentos e bebidas) necessita de autorização da Vigilância Sanitária e do Ministério da Agricultura. No caso de produtos de origem vegetal, como o chá, existem barreiras fitossanitárias, normas para impedir a entrada de pragas ou doenças no país.

“O produto deve cumprir uma série de exigências, que visam garantir a saúde dos consumidores”, afirma Cristiano Morini, professor de comércio exterior da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Para ele, as empresas importadoras ainda sofrem com a burocracia e o excesso de documentos exigidos pela aduana brasileira. “No Brasil, uma carga importada demora mais para ser liberada do que em outros países. Enquanto ficam paradas em portos e aeroportos, essas mercadorias geram custo para o empresário”, diz.

Morini declara, ainda, que a variação do dólar, moeda que domina as negociações internacionais, pode ser um obstáculo para o importador. “Quando o dólar se valoriza diante do real, o produto fica mais caro no país, embora seu preço permaneça inalterado no cenário internacional. Essa alta pode fazer com que a mercadoria perca a preferência entre os clientes finais.”

Conhecer cultura e língua locais ajuda nas negociações

Em negociações internacionais, é fundamental que o empreendedor, além do conhecimento do idioma inglês, busque informações sobre a cultura do país-alvo. “Saber o idioma local aproxima a empresa importadora do produtor”, diz o consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo) Gilberto Campião. No caso da Chá Yê!, os sócios se comunicam em mandarim com os produtores.

Para o consultor do Sebrae-SP, conhecer a mercadoria e quem a produz no exterior também é uma forma de a empresa se certificar da qualidade do produto. “O importador é o responsável pelo produto que traz para o seu país e pode ser processado caso algum cliente seja prejudicado devido ao consumo”, declara.

Onde encontrar:

Chá Yê!: www.chaye.com.br.