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Reinaldo Polito

O mundo não terá espaço para profissionais que só sabem seguir regras

04/07/2019 04h00

"Assim, porque é morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca"
Apocalipse 3:16

Eu me lembro de um evento realizado pela ONG Via de Acesso. Convidamos como palestrantes o consultor de carreiras Max Gehringer e o ex-presidente do Grupo Abril Walter Longo. De propósito, colocamos lado a lado profissionais com posicionamentos totalmente distintos.

Enquanto Gehringer deu conselhos para que os milhares de jovens presentes adotassem comportamento discreto, paciente e respeitoso com a hierarquia, Longo, ao contrário, pregou que os jovens deveriam ser irreverentes e não se submetessem a regras.

Afinal, quem tinha razão? Os dois. Explicamos depois, para que não pairassem dúvidas, que cada jovem deveria respeitar as suas próprias características. Se tivesse um perfil conservador, deveria buscar empresas com essas características para trabalhar. Se, ao contrário, tivesse um comportamento mais ousado, deveria bater às portas de empresas que privilegiassem essa conduta.

Walter Longo argumentou que em momentos de crise, de concorrência ferrenha, de imprevistos no mercado, só haveria um tipo de profissional capaz de encontrar as soluções --os irreverentes, aqueles que não se submetem às normas, que não aceitam as regras. Apenas os "fora da curva" saberão descobrir as estreitas brechas que levarão à solução dos problemas.

Na política, temos um exemplo interessante

Pense num ministro fora da curva. Um ministro que não se sujeita à cartilha que determina a linha de conduta de autoridade dessa estatura. Bem, talvez você consiga se recordar de ministros que ultrapassaram a linha amarela e chegaram até a ser presos por má conduta. Não é desses malfeitores, entretanto, a quem me refiro.

Falo apenas de um ministro que não se submete a um roteiro engessado, que mede as consequências de seus atos e age com liberdade para externar suas opiniões. Até pessoas ligadas à oposição reconhecem que alguém que se "atreve" a subverter as regras não escritas da submissão merece ser respeitado e admirado.

Você deve estar pensando: afinal, que ministro é esse que não consigo identificar com tal perfil "transgressor"? Será que se trata de um ministro desse governo ou de governos passados? É um ministro de primeira grandeza ou alguém que a maioria da população nem do nome consegue se lembrar?

Estou me referindo a um ministro deste governo e que ocupa posição de destaque entre aqueles que foram escolhidos para ajudar a governar o país --eu falo do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira.

Ele não é homem de meias palavras. Chega a caminhar à beira do abismo, mas nunca ultrapassa o limite que poderia comprometê-lo e afastá-lo de suas funções. Pela forma como se comporta, especialmente nas entrevistas que tem concedido, pode ser considerado um homem irreverente.

O general Heleno, embora tenha sido forjado sob rígida disciplina ao longo de décadas dentro das trincheiras do Exército, não perdeu a capacidade de se rebelar contra as situações que o contrariam. Por irônico que possa parecer, ele se distingue dos seus pares, que, teoricamente, tiveram formação muito mais liberal.

Quem poderia imaginar, por exemplo, o ministro Sergio Moro agindo como o general Augusto Heleno na mesa do café da manhã com o presidente e os jornalistas, dando murro na mesa e falando com voz exaltada para defender Bolsonaro dos ataques feitos por Lula, quando este insinuou que a facada desferida no então candidato lá em Juiz de Fora não passara de simulação?

Quem poderia supor a possibilidade de o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, também oriundo das Forças Armadas, subindo como o general Heleno no palanque para discursar de forma inflamada e eloquente nas manifestações do último domingo para atacar a corrupção?

Não, o general Heleno não é um ministro de perfil comum. Nem alguém que possa ser imitado. Suas atitudes são sempre respaldadas pela experiência e excelente formação forjada dentro e fora das nossas fronteiras ao longo de mais de quatro décadas. Ele sabe que muitos irão discordar de suas palavras e ficarão contrariados com suas opiniões, mas tem consciência que jamais deixará de ser respeitado.

O profissional dos novos tempos

Os tempos serão cada vez mais difíceis e desafiadores. Por causa do desenvolvimento da tecnologia, muitas atividades profissionais irão desaparecer, talvez até a maioria. Os jovens que estão se formando hoje, e até alguns que já estão na lida há um bom tempo, provavelmente precisarão desenvolver novas competências e encontrar outras profissões para se manter no mercado de trabalho.

Nessa fase de transição, somente os mais fortes encontrarão espaço na nova realidade que se avizinha. É quase certo que os ousados, arrojados e não conformados, titubeantes ou não, enxergarão as luzes que os guiarão para o sucesso. Os acomodados talvez nem saibam os motivos que os deixaram fora da disputa. Não perceberão que, ao aceitarem passivamente as mudanças, estarão também se excluindo da busca de novas oportunidades.

Exemplos como o do general Heleno são emblemáticos para os novos tempos. Pessoas como ele pegam a vida na mão, sem se incomodar com censuras ou críticas apoiadas apenas no que foi determinado no passado. Cada um deverá respeitar sua própria maneira de ser, mas precisará se esforçar para aprender a agir com perseverança, determinação e até com irreverência para sobreviver aos novos tempos.

Superdicas da semana:

  • Se não puder vencer, seja prudente e recue
  • Se puder vencer, seja corajoso e enfrente
  • Seja ousado e até quebre algumas regras
  • O que valeu para as gerações passadas, provavelmente, não servirá para os novos tempos

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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