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Reinaldo Polito

Regina Duarte precisaria ler seu discurso ou poderia falar de improviso?

Regina Duarte discursa durante sua posse como secretária da Cultura - Claudio Reis/FramePhoto/Folhapress
Regina Duarte discursa durante sua posse como secretária da Cultura Imagem: Claudio Reis/FramePhoto/Folhapress

10/03/2020 13h47

Geralmente levo mais de três semanas a preparar um discurso de improviso.
Mark Twain

Houve época em que a leitura do discurso era obrigação protocolar. Na posse de cargos importantes a leitura era necessária. Na mensagem do novo ocupante as bases da sua futura administração deveriam ser contempladas. Por isso, presidentes, governadores, prefeitos, ministros, secretários de estado tomavam posse lendo o discurso. Ao se despedirem do cargo, o discurso também deveria ser lido, pois fariam nesse momento um balanço de suas realizações.

Os oradores de turmas de formandos também leem o discurso, porque não falam em nome pessoal, mas sim representam a vontade do grupo. Seria o mesmo que pegar a opinião de cada colega, ligar os pontos comuns e transformar em apenas um texto. Por esse motivo, a mensagem deve ser bem pensada, organizada e orientada, como se cada um dos formandos estivesse ali na frente do público falando com os ouvintes.

O discurso lido é recomendado em situações formais

Em situações bastante formais, especialmente quando será publicado pela imprensa, o discurso escrito também é recomendado. Entram nesse conjunto as mensagens transmitidas por pessoas que ocupam posições importantes nas situações em que precisam divulgar planos complexos, programas institucionais, projetos elevados. São circunstâncias em que, de maneira geral, as informações devem ser precisas, sem risco de equívocos ou incorreções.

Há uma história bastante curiosa a respeito do protocolo da leitura em público. Poucos sabem que Coelho Neto foi um grande orador. A maioria conhece sua competência como extraordinário escritor, mas não tem informações sobre a sua habilidade oratória. Foi um dos mais brilhantes improvisadores da história brasileira. Falava com desenvoltura sobre os mais variados temas, organizando o raciocínio ali diante da plateia.

Certa vez foi convidado para ser o paraninfo de uma turma de formandos. Ele era torcedor fanático do Fluminense, e coincidiu que no dia da formatura havia também um jogo do seu time do coração. A disputa esportiva terminou pouco antes do horário marcado para a formatura. Teve tempo suficiente apenas para trocar de roupa e ir para o evento.

Mesmo com todos os atropelos, seguindo rigorosamente o protocolo, leu o discurso diante do público. Ocorre que as pessoas sentadas ao seu lado notaram um fato surpreendente - as folhas nas mãos de Coelho Neto estavam em branco. Valendo-se de sua extraordinária capacidade de improvisação, fingiu que lia o discurso, para cumprir o rigor do protocolo, mas criou no próprio instante da apresentação a mensagem dirigida aos formandos.

O rigor do protocolo foi se esgarçando

Com o passar do tempo esse rigor foi se esgarçando. Alguns eventos ficaram menos formais, especialmente com a obrigatoriedade dos discursos escritos. Cada orador fica mais ou menos à vontade para transmitir a mensagem de acordo com sua conveniência. Há oradores que preferem se valer apenas de um recurso de apoio como, por exemplo, um roteiro escrito ou cartão de notas.

Particularmente prefiro que nas situações em que tradicionalmente os discursos deveriam ser lidos, continue assim. Depois de ouvir a minha recomendação alguns alunos dizem: ah, mas eu gostaria de me apresentar sem o papel na mão. Outros preferem se valer do teleprompter, ou apenas de um apoio. De maneira geral não os contesto. Que se apresentem como julgarem mais adequado.

Regina Duarte leu muito bem o discurso

O exemplo de Regina Duarte é emblemático. Com a sua capacidade para memorizar textos, não teria dificuldade para saber de cor pouco mais de uma página de discurso. Considerando ainda o fato de que ela mesma escreveu sua mensagem. Mesmo que não quisesse decorar, umas poucas anotações seriam suficientes.

Ela leu seu discurso de posse como Secretária Especial da Cultura. Sua capacidade para interpretar a própria mensagem foi excepcional. Foi uma leitura exemplar, como se tivesse falado de improviso. O resultado foi que proferiu o melhor discurso de posse que Brasília já presenciou. Se Regina Duarte, uma das melhores atrizes do país, leu seu discurso de posse, essa atitude pode ser também considerada por todos os que precisarem se apresentar em situações semelhantes.

Superdicas da semana

  • A leitura bem feita, com técnica e correção, pode ser tão eficiente quanto a fala de improviso.
  • Uma boa leitura do discurso exige pelo menos de três a cinco horas de treinamento.
  • A leitura de um discurso fica mais fácil se o texto for bem marcado para os momentos de pausa e comunicação visual com o público.
  • Imprima o texto em papel de gramatura maior, para ficar mais firme nas mãos.
  • Escreva o texto com letras de bom tamanho, para facilitar a leitura.
  • Termine a página sempre com ponto final, para não precisar continuar a frase na página seguinte.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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