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Reinaldo Polito

Rainha Elizabeth 2ª mostra como deve se comportar um verdadeiro líder

Britânicos assistem ao discurso da Rainha Elizabeth 2ª em meio à pandemia - Simon Dawson/Reuters
Britânicos assistem ao discurso da Rainha Elizabeth 2ª em meio à pandemia Imagem: Simon Dawson/Reuters

Não se é líder batendo na cabeça das pessoas. Isso é ataque, não é liderança.
Dwight Eisenhower

A rainha Elizabeth 2ª fez emocionante discurso neste domingo (5) e deu ótimo exemplo de como deve se comportar um verdadeiro líder em momentos de crise. É mulher discreta e respeitada pela sua personalidade forte e segura. Não seria exagero afirmar que quase todos os britânicos sentem orgulho de serem súditos do seu reinado.

Com 93 anos de idade, usou poucas vezes a palavra em público. Sobre as tradicionais mensagens natalinas, em 68 anos de reinado, esta é a quinta vez em que profere um discurso. A rainha fala em momentos excepcionais, quando sua palavra se torna importante para dar direção à Grã-Bretanha. As três últimas vezes em que proferiu discurso foram: em 1991, durante a Guerra do Golfo; em 1997, para prantear a morte da princesa Diana; e em 2002, para se despedir da rainha-mãe, que acabara de falecer. Um nada, quando comparado com alguns chefes de Estado que chegam a proferir cerca 200 discursos por ano.

A palavra certa na hora adequada

Pelo fato de a rainha Elizabeth se dirigir ao público apenas em momentos relevantes, seus discursos são ouvidos com bastante atenção, e ela não decepciona. Sem mencionar nenhum aspecto político ou ideológico, fala na hora certa e na medida adequada o que as pessoas precisam ouvir. É a mensagem definitiva, que corresponde bem ao ensinamento que se perpetuou —depois do rei, ninguém fala mais.

Neste discurso, ela demonstrou ter consciência da gravidade do problema que todos estão enfrentando. Mexendo com o brio dos ingleses e incitando para que se mantenham fortes e animados, ressaltou que esta geração é tão forte quanto as gerações anteriores, e que este é o momento para que tenham orgulho das características do povo britânico:

"Aqueles que viverem depois de nós dirão que os britânicos desta geração eram tão fortes quanto todos os demais. Os atributos de autodisciplina, determinação tranquila e bem-humorada, além de companheirismo, ainda caracterizam este país".

Animou a população

Teve especial cuidado para falar a respeito da dedicação dos profissionais de saúde. Agradeceu principalmente aos que atuam de maneira invisível, trabalhando para que a vida continue. Ela se referia também àqueles que por força de suas atividades precisam fazer entregas, produzir o que deve ir para a mesa das famílias, atender às necessidades emergenciais. Estimulou e animou a população para que permaneça unida e, assim, enfrente e supere esta crise.

Enfatizou que a experiência das gerações anteriores será importante nesta luta atual, e que fortalecerá ainda mais os que viverem no futuro. Sem alterar a voz, mas com firmeza impressionante para os seus mais de 90 anos, afirmou que esta geração sentirá orgulho por ter superado esses momentos difíceis.

Não se esqueceu de mencionar o período difícil e de sofrimento dos cidadãos pela perda de vidas, assim como a delicada situação financeira enfrentada pelas famílias. Como se fosse a mãe orientando seus filhos, deixou clara a importância de fazerem esforço para permanecerem em casa, evitando assim a propagação da doença.

A importância desse conselho está no fato de que a essa altura, provavelmente, alguns se sintam pressionados pelo isolamento e com dúvidas se devem ou não se manter afastados. Essa mensagem funciona como um afago e incentivo para que percebam que estão agindo de forma correta.

Dias melhores virão

Como alento, ressaltou que estão enfrentando a doença juntos, e que depois poderão se encontrar novamente. Com certeza, todos se sentiram incluídos, respeitados e encorajados por suas palavras.

Foi um discurso curto. Não sobraram nem faltaram palavras. Todas as informações que precisavam ser mencionadas, com mais ou menos destaque, foram incluídas em sua mensagem. Esse discurso ultrapassou as fronteiras da Grã-Bretanha e, certamente, tocou o coração dos povos que habitam todos os cantos do mundo.

Que as suas palavras possam reverberar sempre, em todos os momentos em que precisarmos enfrentar situações difíceis como esta que estamos vivenciando. Em circunstâncias semelhantes não há ideologia, fronteira ou preferências nacionalistas. São seres humanos que sofrem com o que presenciam na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, no nosso próprio país.

Tomara que possamos sair dessa crise com visões e comportamentos diferentes daqueles que afastavam e separavam povos que deveriam se ver como irmãos. Como ela disse certa vez:

"Eu não posso levá-los para a batalha. Eu não lhes dou leis ou administro a justiça, mas posso fazer outra coisa - eu posso dar o meu coração e a minha devoção para todos os povos da nossa irmandade de nações".

Superdicas da semana

  • A palavra de incentivo pode valer mais que a censura em momentos de crise
  • Mostra liderança também aquele que sabe o que dizer na hora certa
  • A credibilidade de um líder conta muito para que os liderados o sigam
  • A boa palavra não tem fronteiras nem um só destino. Serve para todos.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Uma versão anterior deste texto informava incorretamente que a rainha-mãe de Elizabeth 2ª foi Elizabeth 1ª. Na verdade, a rainha Elizabeth 1ª reinou no século 16. A informação foi corrigida.