Tesouro direto: risco de alta dos juros afeta títulos e fundos de inflação
O que o governo vai fazer para domar a inflação? Economistas do setor financeiro não se entendem sobre a possível resposta. Esse cenário de incertezas afeta diretamente aplicações financeiras bastante recomendadas por especialistas desde 2012, pelo menos: produtos que têm por objetivo "perseguir" o IPCA (índice de inflação calculado pelo IBGE).
Estão nessa família os títulos do Tesouro Direto denominados NTN-Bs, bem como os “fundos de inflação”, que justamente aplicam nesses papéis.
Esses títulos funcionam como "notas promissórias" emitidas pelo governo, que se compromete a devolver o dinheiro do investidor corrigido por juros. Alguns títulos são prefixados (o ganho é combinado no momento da compra) outros são pós-fixados (o ganho depende de um indicador financeiro, como o IPCA ou a taxa básica de juros).
No início deste ano, muito investidor teve uma surpresa desagradável com esses produtos: os títulos NTN-Bs desvalorizaram e os fundos apresentaram perdas no mês.
Uma explicação possível parte do fato de que muitos investidores que aplicaram nesses papéis em 2011 e 2012 tiveram ganhos surpreendentes. Em 2013, optaram por vender esses papéis (e embolsar os ganhos acumulados), o que derrubou os preços dos títulos.
Outra justificativa tem a ver com o risco de um aumento dos juros nos próximos meses. Todos os títulos do Tesouro Direto prefixados perdem quando os juros do país sobem. Como a NTN-B tem uma parte prefixada, esse título também sofre em um cenário provável de alta da Selic.
Como o cenário para os juros está incerto, alguns especialistas aguardam um ano de “montanha-russa” para esses títulos ligados ao IPCA (índice de inflação calculado pelo IBGE). Os preços podem oscilar bastante e dessa forma, meses de perdas desagradáveis podem acontecer. Os fundos de inflação, que aplicam nesses papéis, também vão refletir essa instabilidade.
“São aplicações para quem não precisa do dinheiro no curto prazo. Aplicar em um título de inflação, em um fundo de inflação, pensando em um horizonte de 12 meses é muito arriscado”, diz a economista da gestora paulista Lerosa Investimentos, Alexandra Almawi.
O que fazer? Se o investidor já aplicou nesses fundos com alguma antecedência, em 2012 ou 2011, a dica pode ser redistribuir parte dos recursos para fundos menos instáveis, como os fundos DI ou os fundos de renda fixa mais tradicionais.
Se acabou de fazer sua aplicação, pode ser uma má ideia sair. Outros especialistas acreditam que a instabilidade pode passar nas próximas semanas. "É possível que nós tenhamos uma sinalização melhor do que o governo vai fazer já na próxima reunião do Copom", diz Amerson Magalhães, diretor da Easynvest (ligada à corretora Título).
O Copom é o comitê de diretores do Banco Central, que se reúne a cada 45 dias para decidir os rumos da taxa básica de juros. A próxima reunião está marcada para os dias 5 e 6 de março.
"Pode ser que o fundo tenha uma rentabilidade negativa [perda] neste ano, mas não é provável. A tendência é uma volta à normalidade no comportamento dos títulos [NTN-Bs] nos próximos meses", diz Marcelo de Jesus, superintendente de gestão de ativos da Caixa Econômica Federal, que distribui vários fundos de inflação.
O superintendente da Caixa faz ainda duas considerações importantes sobres os fundos de inflação. Primeiro, eles realmente são mais instáveis que os fundos de renda fixa mais tradicionais, algo que não vai mudar mesmo que aumente a certeza sobre a trajetória dos juros básicos. Segundo, não devem repetir o desempenho excepcional visto em 2012, quando alguns desses fundos tiveram ganhos acima de 20% em 12 meses.
Veja abaixo as dicas para investir conforme cada aplicação:
Ações - perspectiva de juro mais alto tira apelo da Bolsa
CDBs, fundos DI e poupança - se juro subir, ganhos melhoram
Fundos multimercados - a sugestão arriscada para momentos de incerteza
Analistas têm dúvidas sobre o que o governo vai fazer com os juros
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