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Já há fundos no país pagando menos do que você investiu; como não perder?

João José Oliveira

do UOL, de São Paulo

20/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Com queda de taxa de juros, governo e empresas pagam menos para tomar dinheiro emprestado
  • Fundo de investimento tem que atualizar valor de cotas diariamente, mesmo que cliente não resgate aplicação
  • Esses ajustes contábeis mexem com valor da cota dos fundos, que pode ficar negativo
  • Dica é evitar sacar neste momento porque tendência é mercado se recuperar

Há fundos de renda fixa que estão pagando menos do que o dinheiro investido neles. Isso é normal em aplicações de renda variável, como Bolsa de Valores, mas é raro na renda fixa. Agora em novembro, por exemplo, os Fundos Renda Fixa Indexados estão com variação negativa de 0,59% até o dia 18, enquanto o Renda Fixa Duração Média Crédito Livre tem perda de 0,29% no mesmo período. Embora no acumulado do ano essas carteiras acumulem ganhos, de 12,84% e 7,4%, respectivamente, quem investe nesse tipo de produto pode ter tomado um susto quando viu o último extrato.

Como é possível? Isso acontece porque os ativos que foram comprados para aquela carteira perderam valor no mercado e, na venda, estão valendo menos. O rendimento negativo tem tudo a ver com taxas baixas de juros. Especialistas consultados pelo UOL falam o que fazer para tentar evitar perdas.

Enquanto os brasileiros ainda estão se adaptando a uma nova realidade na renda fixa, com a taxa básica (Selic) no menor valor da história, investidores na Europa e no Japão convivem com taxas de juros negativas há alguns anos. É algo que ainda surpreende aqui, mas já estava acontecendo no exterior.

Queda da Selic é causa da renda negativa

O preço de uma ação na Bolsa pode cair depois que você investiu nela. Se vender o papel na baixa, vai perder dinheiro. O mesmo ocorre no fundo de renda fixa: se comprar um título do governo, um CDB de banco ou uma debênture de empresa que perdeu valor, seu ganho também será menor.

Com juros mais altos, essa variação fica no positivo. Por exemplo, em vez de ganhar 1%, você pode levar 0,5%. Quando a taxa está mais próxima de zero, há o risco de essa variação ficar negativa: em vez de ganhar 0,5%, pode ter um índice de -0,5%.

"Por conta da queda da taxa de juros (taxa Selic), que atualmente está em seu menor patamar histórico, os títulos públicos pós-fixados estão rendendo menos", diz Ulisses Nehmi, diretor presidente da Sparta, lembrando que a taxa básica de juros cedeu de 14,25% em agosto de 2016, para 5% agora.

No caso dos fundos que investem em empresas, algo semelhante acontece. Debêntures e CDBs também sofreram um ajuste no valor porque companhias e instituições financeiras hoje estão pegando dinheiro emprestado com uma taxa de juros menor.

Esses papéis estão rendendo menos porque esses bancos e empresas, hoje, estão pagando menos para você aplicar em CDB ou em debêntures.

Assim, se você quiser sair do fundo resgatando o seu dinheiro, o gestor terá que vender esses ativos no mercado — por um valor menor do que aquele que você pagou quando entrou no fundo.

Valor de mercado é que manda

Por regras de mercado, todos os ativos que estão em carteira de um fundo têm que fazer diariamente um ajuste das cotas pelo valor de mercado, mesmo que esses ativos não sejam negociados. Exatamente para que todo mundo saiba em tempo real qual é o valor daquelas carteiras.

É por isso que o extrato do fundo mostra um rendimento menor ou negativo, mesmo que o aplicador não faça um resgate de dinheiro.

O que fazer?

O planejador financeiro Alexandre Amorim, da Par Mais, diz que esses ajustes vão continuar ocorrendo de acordo com novas emissões de títulos de empresas e do governo. "O ajuste começou pelos papéis mais líquidos (mais negociados) e vai chegar a chegar aos demais papéis", disse.
Para profissionais de mercado, esse tipo de oscilação em fundos de renda fixa veio para ficar, mas será quase sempre uma volatilidade menor que em outras carteiras, como fundos de ações ou multimercados.

Por isso, dizem, a primeira dica é resistir à tentação de sacar o dinheiro do fundo. Se fizer isso, o investidor estará efetivamente assumindo o prejuízo. "Sair agora é sair na baixa", disse o sócio gestor da Devant Asset, Bruno Eiras. Se não vender, não perde nada.

Segundo ele, o investidor deve estar atento às oportunidades que vão continuar surgindo, embora ciente de que oscilações podem ocorrer. Até porque a alternativa para escapar totalmente das oscilações é buscar aplicações que estão rendendo abaixo do CDI, o que vai no movimento contrário do mercado.

Eiras afirma que as empresas e bancos vão continuar tomando dinheiro no mercado porque a participação dos bancos no financiamento da atividade econômica tende a cair, como no restante do mundo. E isso vai abrir oportunidades para que os fundos de renda fixa possam buscar mais títulos com rendimento mais interessante que os papéis do governo. "E as empresas financiam apenas de 10% a 15% via mercado de capitais, ante 40% a 50% em países desenvolvidos. Isso vai gerar ainda muitas oportunidades", disse o gestor da Devant Asset.

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