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Veja como o furo do teto de gastos afeta a Bolsa, segundo analista

27/10/2021 04h00

Nos últimos dias, o mercado tem reagido às medidas do governo para liberar mais espaço no Orçamento a fim de garantir a criação do Auxílio Brasil, programa social que substituirá o Bolsa Família. Para garantir uma renda de R$ 400 para mais de 17 milhões de famílias em 2022, o governo inseriu na PEC dos Precatórios uma manobra que muda o cálculo do teto de gastos. Os investidores não gostaram da ideia.

"Essa medida, por mais que pareça inofensiva para as contas públicas, permitiria um aumento dos gastos públicos em cerca de R$ 40 bilhões em 2022. Somada à proposta de parcelamento dos precatórios, o montante adicional que o governo teria à disposição para gastar no ano eleitoral seria de R$ 84 bilhões", afirma Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos.

"Essa alteração é enxergada pelo mercado como um rompimento do teto de gastos, já que permite que o governo gaste além daquilo que estava inicialmente estipulado caso a regra fosse seguida", diz o analista. Ele explica abaixo como a medida pode afetar as ações na Bolsa.

O que é o teto de gastos?

Implementado em 2017, durante o mandato do ex-presidente Michel Temer, o teto de gastos estabelece um limite para os gastos do governo federal pelo período de 20 anos. Desde então, o aumento das despesas públicas fica limitado à variação da inflação medida pelo IPCA no período de 12 meses encerrados em junho.

"A medida foi adotada para conter o avanço da dívida pública brasileira, já que desde 2014, ainda na administração de Dilma Rousseff, o Brasil está em déficit primário, ou seja, os gastos do governo, excluindo o custo da dívida, são maiores do que a arrecadação", afirma o analista.

"Por conta disso, o teto de gastos é visto como a principal âncora fiscal do Brasil desde a sua implementação. A regra trouxe mais confiança para os investidores, uma vez que tornou a situação das contas públicas brasileiras um pouco mais estável e previsível", diz.

Com a manobra, incluída na PEC dos Precatórios, as despesas deixariam de ser reajustadas com base na inflação acumulada no período de 12 meses encerrados em junho, e passariam a ser corrigidas de acordo com a variação do IPCA entre janeiro e dezembro.

Teto furado, e agora?

"A PEC dos precatórios ainda precisa ser votada no Congresso, mas a ideia de aumentar o valor do Auxílio Brasil é de interesse de grande parte da classe política brasileira, que tem uma inclinação ao populismo fiscal. Sendo assim, o mercado já começa a se preparar para a aprovação da PEC, o que pode ser notado tanto nos ativos de renda fixa quanto na renda variável", afirma Bevilacqua.

O Ibovespa acumulou perdas de 7,28% na semana encerrada no dia 22 de outubro, recuando de 114 mil para 106 mil pontos, enquanto os juros, por outro lado, dispararam.

"Passados esses eventos traumáticos, o índice ensaia uma recuperação, com investidores em busca de oportunidades após o pânico que fez com que diversas ações sofressem perdas significativas", diz.

Na segunda-feira (25), o Ibovespa fechou em alta de 2,28%, aos 108.714 pontos, mas voltou a recuar na terça (26) e fechou com queda de 2,11%.

Mas o que justifica essa reação dos mercados?

"Basicamente, é importante entender que a saúde das contas públicas afeta a economia como um todo. Se a dívida de um determinado país começa a fugir de controle, existem apenas três saídas: contrair dívida nova, pagando juros mais altos; aumentar os impostos, ou, caso o país esteja endividado em sua própria moeda, emitir moeda nova", diz Bevilacqua.

Todas essas alternativas, contudo, trazem efeitos colaterais para a economia, como inflação mais alta, desvalorização cambial e estagnação econômica. "É por isso que os mercados reagem mal quando o governo sinaliza que não está comprometido com a redução do endividamento público", afirma.

"Ainda assim, é preciso ter em mente que a situação fiscal brasileira, apesar de delicada, não é catastrófica. O momento atual demanda cautela e paciência dos investidores, que precisam ter serenidade para não ceder ao pânico que se instaurou nos mercados", diz o analista.

O que muda agora?

Segundo Bevilacqua, o rompimento do teto de gastos obriga o mercado a repensar suas projeções para a inflação, os juros, o câmbio, o crescimento do PIB e o desempenho da Bolsa.

"Caso a PEC dos Precatórios seja aprovada no Congresso e o teto de gastos seja furado, podemos nos deparar com inflação mais alta, e uma resposta mais contundente do Banco Central a essa alta de preços, subindo os juros até um patamar superior ao que era esperado pelo mercado", afirma.

O analista explica que essa alta dos juros pode desacelerar ainda mais a atividade econômica brasileira, já que tornaria o crédito mais caro, dificultando a redução do desemprego e desestimulando o investimento privado.

"Por outro lado, alguns setores podem se beneficiar da alta do consumo que deve ocorrer em decorrência da implementação do Auxílio Brasil, conseguindo sustentar bons resultados no ano de 2022, a despeito dos desafios econômicos e dos ruídos políticos", afirma Bevilacqua.

"Seguimos sem nenhuma alteração nas recomendações da carteira. O momento atual exige uma análise cuidadosa das opções de investimento disponíveis, buscando compreender como cada um deles deve se sair nesse cenário de maior incerteza fiscal. Com isso, é possível reduzir os riscos e reconhecer as oportunidades que o mercado oferece", diz o analista.

Veja aqui o relatório completo preparado pelo analista sobre as consequências do furo do teto.

Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão aqui. O investidor deve considerar que Magalu sai das carteiras e é substituída pela Via —ex-Via Varejo. Além disso, agora, a Raízen entra na lista das indicações.

- Carteira quem não aceita risco algum;

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco;

- Carteira para quem é mais moderado;

- Carteira para quem aceita mais risco;

- Carteira para quem aceita alto risco.

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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.