Engenheiro se demitiu e está sem trabalho há 9 meses: "Subestimei a crise"
O engenheiro colombiano Luis Eduardo Diaz Lara, 42, passou seis meses em Goiânia, em 2008, na tentativa de encontrar emprego no país --onde ele, que é de Neiva (região de Huila), considerava haver melhores oportunidades e mais qualidade de vida do que em sua terra natal. Não conseguiu.
Em 2010 retornou, desta vez para São Paulo, e logo começou a trabalhar em um escritório de engenharia. Ficou lá até dezembro de 2016, quando pediu demissão. Desde então, vem distribuindo currículos e usando sites de recolocação, mas sem sucesso.
Estava empregado e não percebi o tamanho da crise. Até porque o governo apresenta indicadores dando a entender que o problema não é tão grave. Devo admitir que eu estava muito enganado
Luis Eduardo Diaz Lara, engenheiro
A decisão de pedir demissão veio porque, depois de alguns anos como fiscal de obra no escritório de São Paulo, foi transferido para Manaus --onde a empresa para a qual trabalhava tinha contratos até 2020. Ficou lá por um ano e meio, mas não se adaptou à cidade: sentia-se isolado e tinha saudade do ritmo de vida paulistano.
“Era pegar ou largar Manaus. Escolhi voltar a São Paulo, mesmo que isso significasse perder o emprego. Como esses seis anos e meio foram de trabalho direto, uma obra após a outra, eu estava muito focado na minha área e achava que havia serviço. Perdi a noção do que estava acontecendo com a economia”, avalia ele, que tem visto permanente até 2024 e validou seu diploma para poder trabalhar no Brasil em sua área de formação.
O setor foi diretamente afetado pelas denúncias de corrupção investigadas na Operação Lava Jato, envolvendo grandes empresas de engenharia e outras menores, prestadoras de serviço para essas gigantes.
Estrangeiros no Brasil
Os dados mais recentes do Ministério do Trabalho indicam que, em 2015, havia 1.882 engenheiros estrangeiros empregados formalmente no país, sendo 1.670 homens e 212 mulheres. Em cinco anos (de 2010 a 2015), o maior número de contratações de engenheiros estrangeiros foi registrado em 2012, com total de 2.126 profissionais.
Se consideradas as autorizações temporárias e permanentes, a queda de licenças de trabalho concedidas a estrangeiros, independentemente da profissão, é acentuada. Segundo a CGIG (Coordenação Geral de Imigração), ligada ao Ministério do Trabalho, foram 68,7 mil dessas licenças em 2011, contra 28,7 mil em 2016.
"Posso dizer que a recessão é real, e a crise é grave"
Depois de nove meses enviando currículos, sem receber ao menos um retorno para entrevistas, ele conclui: “Agora posso dizer que a recessão é real, e a crise é grave”. Ainda assim, diz não se arrepender de ter pedido as contas.
Diaz Lara, que é separado e tem dois filhos na Colômbia, vive hoje de suas economias, mas teme que elas acabem em breve.
“Tenho esperança de que isso não vai acontecer. Para acalmar a frustração e a angústia do desemprego, além de enviar currículos, retomei as aulas de inglês e estou me atualizando no uso de programas para desenho em 3D. Assim não fico desatualizado e tenho mais chances de uma vaga, assim que a crise passar.”
Ele fala no fim da crise, sim, e se diz esperançoso de que isso acontecerá em breve: “A economia é feita de ciclos e estamos no final deste, perto de uma retomada”. Também reforça que seu objetivo é continuar no Brasil, para onde veio para ficar.
“O Brasil recebe muito bem os estrangeiros, nunca me senti marginalizado por ser de outro país. Fui acolhido e bem tratado. Por isso os estrangeiros gostam tanto do Brasil e dos brasileiros.”
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