Adesão em Rio e SP fez paralisação mais forte, diz líder de greve de 2015
Um dos líderes das paralisações de caminhoneiros que aconteceram em 2015, Ivar Luiz Schmidt afirma que o movimento deste ano tem repercussão maior porque atingiu o abastecimento das principais cidades do país, a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro.
Transporte público afetado, postos de gasolina sem combustível, prateleiras vazias nos supermercados e suspensão das atividades em escolas e universidades nas principais regiões metropolitanas do país são alguns dos efeitos da greve que chega nesta terça-feira (29) ao seu nono dia.
"Se você prestar atenção, em 2015 não houve paralisações em São Paulo e no Rio de Janeiro como aconteceu agora", afirma Schmidt, que é um dos líderes da organização CNT (Comando Nacional de Transporte), que reúne caminhoneiros autônomos. Ele afirma não estar participando das negociações relacionadas à paralisação deste ano.
"As paralisações em 2015 se concentravam nos estados do Sul, longe das capitais e no interior de estados como Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Bahia. Mas houve desabastecimento também, como está tendo agora", diz ele.
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Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff (PT) estava no primeiro ano de seu segundo mandato, que viria ser interrompido pelo impeachment em 2016. Três paralisações aconteceram nos meses de fevereiro, abril e novembro, sendo que a última teve maior repercussão.
À época, Dilma criticou o bloqueio de estradas que atingiram pelo menos oito estados. "Reivindicar é um direito de todo mundo. Agora, esse país é responsável. Iremos impedir qualquer prejuízo à economia popular e obstruir o tráfego é crime."
A paralisação de novembro começou a perder força após o governo federal aumentar as multas e sanções a motoristas que obstruíram deliberadamente as rodovias e estradas do país.
"Desta vez o movimento teve mais sucesso do que o de 2015, desde o princípio. Na época, eu me lembro de ter ficado nove dias sozinho em Brasília e depois chegaram mais dois companheiros que esperaram comigo mais três dias para que os representantes da presidente Dilma nos recebesse. O governo de agora recebeu os representantes rapidamente."
Defensor do afastamento da petista, Schmidt afirma que o governo não cumpriu com a maioria dos itens que foram acordados com a categoria após o fim da paralisação, a exemplo do cancelamento das multas aplicadas por quem aderiu ao movimento daquele ano.
"O resultado daquela greve de 2015, talvez tenha influência no fato de que o movimento de hoje queira que os termos do acordo de agora sejam publicados no 'Diário Oficial', que virem lei. O movimento quer tudo no papel antes de voltar às atividades."
Mesmo alegando estar de fora do movimento, Schmidt defendeu que seja adotada a redução das jornadas de trabalho para os caminhoneiros como uma das soluções para a crise do setor logístico do país, tema que foi pauta em paralisações anteriores.
"Há colegas com jornadas de trabalho de 16 horas. É preciso reduzir para uma jornada humana. Não é a redução do preço do óleo diesel que vai resolver esse impasse. Mas não vejo ninguém defendendo essa questão agora, nem os outros líderes da categoria, nem empresários e muito menos representantes do governo."
Não há comparação com 2015, diz ministro de Dilma
Atual pré-candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Miguel Rossetto esteve à frente das negociações com os caminhoneiros durante a gestão de Dilma. Ele era ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Ele afirma que as paralisações de 2015 foram localizadas na região Sul do país e não contou apoio da população, como acontece agora.
"Não há comparação com o que aconteceu em 2015. Esse ambiente de escalada de preços dos combustíveis e de recessão econômica aliado à inação do atual governo colaborou para que a greve deste ano tivesse um alcance nacional e um apoio popular bem maior, o que é bem diferente da realidade da paralisação daquele ano", afirma Rossetto.
"A política selvagem de preço praticada pela Petrobras, com aumento sucessivos, atinge os caminheiros em relação ao óleo diesel, os motoristas em relação à gasolina e a população mais pobre que não consegue arcar com os custos da elevação do valor de gás de cozinha."
De acordo com Rossetto, o governo Dilma manteve um diálogo aberto e permanente com a categoria e atendeu reivindicações como a sanção sem veto da Lei de Caminhoneiros, em março de 2015, quando a primeira paralisação daquele ano ainda acontecia.
"Quem criou essa crise foram [o presidente Michel] Temer e Pedro Parente [presidente da Petrobras]. Nenhum país abriu mão de regulamentação forte na área de energia e de combustíveis, como esse governo pretende fazer", diz o ex-ministro.
Por sua vez, o presidente Michel Temer (MDB) afirmou ter "absoluta convicção" de que a paralisação dos caminhoneiros será resolvida nesta terça, após o pacote de medidas anunciado pelo governo no domingo (27) para atender às principais demandas da categoria.
"Tenho absoluta convicção de que entre hoje e amanhã todos nós, irmanados, e naturalmente aqueles que estão na chamada greve agora já recomendada pelos seus líderes como devendo cessar, tenho certeza que tudo isso trará muita tranquilidade", disse Temer em discurso na cerimônia de posse do novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Ronaldo Fonseca de Souza, na segunda-feira (28).
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