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Presidente da Petrobras pede demissão do cargo

Guga Gerchmann/Folhapress
Imagem: Guga Gerchmann/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

01/06/2018 11h28

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira (1º). Em carta enviada ao presidente Michel Temer, Parente diz que sua saída é "irrevogável" e que sua "permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente".

Pressionado devido à atuação da Petrobras na crise com os caminhoneiros, o executivo deixa o comando da estatal exatamente dois anos após sua posse, em 1º de junho de 2016, no início do governo Temer. Para analista, o mercado agora fica desconfiado sobre o futuro da política de preços da Petrobras.

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Após o anúncio, a Bolsa brasileira, a B3 (antiga Bovespa) chegou a suspender as negociações das ações da Petrobras

A empresa informou que o seu conselho de administração vai se reunir para nomear um presidente interino ainda nesta sexta. 

Greve colocou Petrobras no centro das críticas

A saída de Parente se dá na esteira da greve dos caminhoneiros contra a disparada dos preços do diesel. A paralisação durou 11 dias e causou desabastecimento generalizado de produtos e serviços no país todo e perdas bilionárias à economia. 

A greve colocou a Petrobras no centro das críticas, devido à nova política de preços da petroleira, adotada em julho do ano passado. Com a nova metodologia, a estatal passou a reajustar os preços com mais frequência, inclusive diariamente, repassando para as refinarias as variações nas cotações do dólar e do petróleo no mercado internacional. No governo anterior, os reajustes eram bem menos frequentes e a política de preços da empresa promovia represamentos para ajudar o governo a controlar a inflação. 

A nova metodologia foi recebida por investidores do setor como positiva para a recomposição do caixa da Petrobras, após anos de prejuízos. De fato, a valorização do petróleo no mercado internacional ajudou as contas da companhia. 

Por outro lado, esse aumento da matéria-prima e a recente alta do dólar fizeram com que o reajustes levassem a uma disparada nos preços dos combustíveis no mercado interno.

De julho do ano passado até antes da greve, o preço do diesel nas refinarias acumulou alta de 57,78%, e a gasolina, de 57,34%. A inflação oficial no Brasil acumulada entre julho de 2017 e abril de 2018 (último dado disponível) foi de 2,68%.

Corte gerou temor de intervenção do governo

Com o peso cada vez maior do diesel no bolso dos caminhoneiros, a categoria inicio, em 21 de maio, uma greve nacional, com bloqueios em rodovias do Brasil inteiro. 

Em resposta à greve, Parente decidiu cortar em 10% os preços do diesel nas refinarias por 15 dias. A medida deixou o mercado alerta, vista por investidores como uma interferência do governo na gestão da companhia e gerou temores de um retorno às práticas do governo anterior. Após o corte, as ações da empresa despencaram 14,5% na Bolsa. 

Mas a medida tomada pela Petrobras não surtiu efeito, e a greve continuou.

Governo tirou de saúde e educação para subsidiar diesel

O governo Temer, então, anunciou um amplo acordo com a categoria, aceitando praticamente todas as suas reivindicações. O acordo incluiu a prorrogação de 15 para 60 dias no prazo de vigência do congelamento no preço do diesel pela Petrobras nas refinarias. Além disso, ficou acertado que a Petrobras passaria a reajustar os preços do diesel a cada 30 dias, e não diariamente. 

A Petrobras, porém, só vai bancar a queda do diesel pelo período de 15 dias. Após esse prazo, a estatal começa a receber dinheiro do governo para compensar o diesel mais barato. 

Para a compensação à Petrobras, o governo precisou mexer no orçamento e retirar dinheiro de outras áreas. Na véspera, anunciou cortes em programas do SUS (Sistema Único de Saúde), educação, prevenção do uso de drogas e outros para somar os R$ 9,6 bilhões necessários ao pagamento do subsídio neste ano. Além disso, vários setores da economia vão pagar mais imposto. 

Gestão Parente registrou melhora nos indicadores

Ministro de Minas e Energia no governo de Fernando Henrique Cardoso, na época do apagão e do racionamento de energia, Parente foi escolhido para presidir a Petrobras logo que Temer tomou posse, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no lugar de Aldemir Bendine.

Na sua gestão, a companhia conseguiu reduzir e reestruturar sua dívida, graças à mudança na política de preços, a um programa de venda de diversos negócios da petroleira e à demissão de funcionários. 

Entre 2015 e 2017, a dívida líquida da Petrobras recuou de US$ 100,4 bilhões para US$ 84,9 bilhões. A empresa voltou a cumprir as metas de produção e, no ano passado, bateu recorde pelo quarto ano consecutivo, com 2,15 milhões de barris por dia.

Apesar de a empresa ter fechado 2017 com um prejuízo de R$ 446 milhões, no quarto ano seguido de perdas, a nova direção da empresa despertou otimismo nos mercados. Em maio, antes da crise com os caminhoneiros, a Petrobras havia voltado ao posto de empresa mais valiosa da Bolsa brasileira.

Greve de petroleiros

A gestão de Parente é fortemente criticada pela entidade que representa os trabalhadores da Petrobras, a FUP (Federação Única dos Petroleiros), que realizou uma greve de dois dias nesta semana.

A FUP critica a falta de mecanismos na política de preços que protejam o consumidor brasileiro e afirma que a estatal vem sendo administrada para atender exclusivamente aos interesses do mercado.

O coordenador-geral da entidade, José Maria Rangel, comemorou a saída de Parente. "As manifestações dos caminhoneiros, dos verdadeiros caminhoneiros, e dos petroleiros conseguiram desnudar a fama de bom gestor do Pedro Parente. Ele foi causador do segundo apagão do país, que prejudicou imensamente a população brasileira, a sua política entreguista, a sua política de só olhar o mercado financeiro", disse.

(Com agências de notícias)