Empresas usam metas ESG para orientar negócios e definir salários
Desde que Larry Fink, diretor-executivo da conceituada gestora de fundos BlackRock, anunciou, em 2020, que sustentabilidade seria critério básico para seus investimentos, o termo ESG ganhou mais relevância do que já tinha no vocabulário do mundo dos negócios.
Acrônimo em inglês para Environmental, Social and Governance (ou, em português, ASG - Ambiental, Social e Governança), ele indica as ações tomadas pelas companhias para diminuir seu impacto ambiental, estimular a ética interna e cuidar de seus funcionários e da comunidade na qual estão inseridas. Para confirmar o compromisso com essa agenda, empresas têm atrelado o cumprimento de metas ESG a avaliações de desempenho e à remuneração variável de profissionais de todos os níveis hierárquicos.
"Vivemos um capitalismo de stakeholders, que vai além de atingir resultados para acionistas e alta liderança das empresas, envolvendo também grupos da sociedade que se relacionam com as organizações ou que tenham interesse em suas atividades", explica Poliana Abreu, diretora de conteúdo, marketing e parcerias da plataforma de educação corporativa HSM e criadora da jornada ESG da HSM com o Capitalismo Consciente. "As empresas olham, portanto, para formas de mostrar seu comprometimento, coerência e ética e é natural que utilizem os mecanismos de gestão necessários para isso."
Algumas empresas têm liderado esse movimento. A Camil Alimentos, por exemplo, começou a estabelecer iniciativas de sustentabilidade há pelo menos uma década, mas foi em uma reunião com investidores na Ásia, em 2018, que começou a sentir os efeitos dos novos tempos.
"Acabamos falando muito menos sobre negócios do que sobre como tratar questões ambientais e de diversidade e isso deixou claro que as empresas precisavam olhar para o tema", conta o diretor financeiro Flávio Vargas. "Inserir indicadores ESG nas metas e na remuneração dos executivos foi uma das formas que encontramos de catalisar e acelerar essa mudança." Hoje, na Camil, no mínimo 10% da remuneração variável dos gestores depende do cumprimento de objetivos de ESG.
No Grupo Fleury, o tema também não é novidade. Uma das principais empresas de medicina e saúde do país conta com uma área interna de sustentabilidade há mais de 20 anos e já incluía o tema nos indicadores de desempenho de suas unidades de negócio.
No ano passado, contudo, o Fleury foi além: atrelou um tópico ligado a cada letra da sigla ESG às metas que influenciam a remuneração variável de todos os funcionários. Os executivos (com cargos superiores aos de gerente sêniores) seguem ainda um projeto estratégico que faz com que a renda variável seja ainda mais influenciada pelos indicadores socioambientais e de governança.
"A diferença agora é que o ESG ganha um peso ainda maior em nossa estratégia de negócios", acredita Eduardo Marques, diretor executivo de pessoas e suporte a operações. "E passamos essa mensagem de forma uníssona e transversal na companhia."
Foco e transparência na definição das metas
Para que a conexão entre ESG, performance e remuneração faça sentido e não seja mais um modismo que sobrecarrega as equipes, é preciso que a empresa seja coerente e transparente. De acordo com os especialistas ouvidos para esta matéria, as metas devem ser claras, certeiras, traduzidas adequadamente aos funcionários e, de preferência, estar relacionadas ao negócio.
A Arcos Dorados, operadora da rede McDonald's na América Latina e no Caribe, precisou trabalhar na mudança de mentalidade antes de instituir, no ano passado, a política de remuneração variável dos executivos relacionada a metas de ESG.
O primeiro passo foi organizar um processo educativo e de sensibilização sobre o impacto que a iniciativa geraria no negócio e as razões pelas quais o tema passaria a ser uma responsabilidade compartilhada por todos.
"Essa etapa inicial serviu para toda a liderança se alinhar e compreender o quanto essa decisão é estratégica e benéfica para a companhia e para a sociedade", diz Gabriel Serber, diretor de compromisso social e desenvolvimento sustentável.
Para definir as prioridades da empresa e identificar os temas ESG relevantes a seus stakeholders —funcionários, clientes, fornecedores, comunidades, acionistas, franqueados, academia, terceiro setor, governo e instituições financeiras—, a Arcos Dorados realiza pesquisas frequentes com todos eles.
O Grupo Pão de Açúcar (GPA), por sua vez, focou em dois temas ligados ao propósito da companhia de alimentar sonhos e vidas: redução de emissões de carbono e presença feminina na liderança. O objetivo é que, até o fim de 2025 (o ano base é 2015, quando as metas foram traçadas), as emissões de CO2 diminuam 35% e que 40% dos cargos de liderança sejam ocupados por mulheres.
Esses dois indicadores fazem parte do ISD (Índice de Sustentabilidade e Diversidade) interno e rendem reconhecimento, por meio da remuneração variável, a 1.400 gestores elegíveis quando o grupo atinge os resultados estipulados a cada ano. Além disso, todos os funcionários têm a participação nos lucros vinculada a subindicadores ligados a desperdício, separação de lixo, economia de energia e diversidade.
"Assim como temos metas de negócio, temos metas de sustentabilidade e de diversidade. Como essas metas têm o mesmo peso, trabalhamos todas em conjunto", explica Mirella Gomiero, diretora executiva de RH do GPA, tecnologia e sustentabilidade. "Indicamos o caminho, ajudamos na educação e recompensamos pelas ações atingidas: cria-se um ciclo virtuoso no qual trabalhamos com todo o time."
A produtora de aço Gerdau também concentrou esforços em diminuir emissões e ter uma liderança mais diversa em termos de gênero. A explicação é clara: "A indústria na qual atuamos é uma das maiores emissoras de CO2 e podemos contribuir para uma melhoria", diz Bárbara Dinalli, líder global de remuneração e performance. "No caso do aumento da liderança feminina, estamos em dez países diferentes e esse objetivo se mostra necessário e possível em todos eles."
Dessa maneira, desde 2020, quando a Gerdau passou a conectar seus objetivos estratégicos com o reconhecimento financeiro de cerca de 600 executivos, os números já melhoraram. "Por que entendemos que tomamos uma decisão acertada? Desde 2015 tínhamos iniciativas relacionadas a esses temas, mas não com metas", conta Bárbara. "Agora que temos metas ESG, elas são tão relevantes quanto os resultados financeiros."
Valorizando e atraindo talentos
Outra consequência direta de atrelar o ESG à remuneração é o fortalecimento da marca empregadora, ou seja, da percepção positiva da empresa como lugar para trabalhar.
"Por empregarmos muitos jovens, entendemos que as novas gerações dão mais valor a causas sociais e ambientais e querem conhecer os compromissos e bandeiras das empresas com quem se relacionam. E isso passou a ser relevante não só no momento da decisão de compra, mas também ao escolher um lugar para trabalhar", acredita Gabriel Serber, diretor de compromisso social e desenvolvimento sustentável da Arcos Dorados.
"A área em que atuamos, de saúde, é por natureza um serviço de conotação social. Ao decidirmos avaliar e melhorar nosso impacto socioambiental e de governança, os funcionários sentem que nos preocupamos com causas nas quais eles podem se engajar e contribuir", reforça Eduardo Marques, do Grupo Fleury. "Isso aumenta o orgulho e o senso de pertencimento e contribui também com a atração de novos talentos, que se interessam por trabalhar em uma empresa com preocupações e valores relevantes."
Lugares Incríveis para Trabalhar
O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2022 estão abertas e vão até 30 de maio.
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