Quais ações mais se valorizaram em 2021 e quais despencaram?
Diversos foram os eventos que impactaram o desempenho do mercado financeiro neste ano, como a PEC dos precatórios. Mas, diante disso, quais ações mais subiram em 2021? E quais as que sofreram as piores quedas?
Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos, relembra o desempenho das piores e melhores ações de 2021 logo abaixo e ainda traz panoramas dessas empresas para o próximo ano.
Um ano atípico
Durante o primeiro semestre de 2021, a visão para a Bolsa de Valores brasileira era majoritariamente otimista, dado o avanço da vacinação no país contra a covid-19 e a gradual reabertura da economia.
Diante desse cenário, analistas e gestores projetavam uma forte alta do Ibovespa, o principal índice do mercado de capitais do Brasil, para o segundo semestre de 2021. Algumas casas de análise chegaram a sugerir que o índice poderia superar a marca dos 150 mil pontos no final do ano.
Contudo, o analista da Levante ressalta que não foi isso que ocorreu, uma vez que o cenário político trouxe instabilidade e insegurança para os mercados. "Além disso, a delicada situação fiscal do país, antes mascarada pelos bons resultados primários do Governo Central (por conta da alta da inflação), foi se tornando cada vez mais evidente", afirma Bevilacqua.
As quedas nos preços das commodities metálicas no exterior e a crise hídrica também prejudicaram o desempenho da economia, bem como problemas internos enfrentados pela China, grande parceira comercial do Brasil.
Por fim, a inflação não seguiu o comportamento previsto pelo Banco Central (BC) no início da pandemia. Para 2021 a estimativa era de que a inflação ficasse em 3,75%, mas na última quinta-feira (16) o BC a aumentou para 10,2% com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Nem tudo são espinhos
"Assim como nem tudo eram flores quando se estimava que o Ibovespa poderia chegar aos 150 mil pontos, nem tudo são espinhos neste momento em que o índice luta para retornar ao patamar de um ano atrás", diz o analista.
Os resultados corporativos da maioria das empresas foram positivos neste ano. Ainda, Bevilacqua afirma que alguns dos assuntos que trouxeram turbulência para a Bolsa nos últimos meses parecem caminhar aos seus respectivos desfechos, com destaque para a PEC dos Precatórios.
O analista diz também que a perspectiva de normalização das cadeias produtivas globais, do recuo da inflação e da continuidade dos bons resultados das empresas brasileiras constrói um cenário de oportunidades aos investidores mais atentos em 2022, apesar dos solavancos acarretados pelas eleições.
O Ibovespa na primeira metade de 2021
No final de 2020, o Ibovespa vinha em alta, impulsionado pelo otimismo com a vacinação contra o coronavírus. Em novembro, o índice saiu dos 93 mil pontos e chegou aos 108 mil —um salto de 15,9% no período. Já em dezembro, os investidores mantiveram o tom positivo, e o índice encerrou o mês aos 119 mil pontos, uma alta de 9,3% em comparação ao fechamento do mês anterior.
Em janeiro e fevereiro de 2021, entretanto, o índice passou por correções, recuando 3,32% e 4,37%, respectivamente, para então recuperar o fôlego e buscar o recorde histórico de 131 mil pontos em junho.
Dentre os motivos para a disparada do índice observada entre março e junho, o analista diz que merece destaque a alta das commodities, especialmente do minério de ferro e do petróleo, favorecendo duas empresas que têm um peso gigantesco no Ibovespa: Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
Vale (VALE3), Petrobras (PETR4) e a explosão das commodities
Para se ter uma ideia da importância dessas companhias para o desempenho do índice, Bevilacqua afirma que, de acordo com dados da B3 em 17 de dezembro, a Vale respondia por 13,3% da composição da carteira teórica do Ibovespa. Já a Petrobras representava 11,9%. Juntas, as ações dessas empresas respondem por cerca de 25,2% do total.
Entre 1° de março e 30 de junho, os papéis da Vale acumularam alta de 19,82%, enquanto as ações preferenciais da Petrobras subiram 32,33%, e as ordinárias acumularam ganhos de 36,75%.
"Tendo noção do peso dessas empresas dentro do índice e do quão expressiva foi a alta desses ativos nesse intervalo, conseguimos entender o primeiro fator que impulsionou o Ibovespa em direção aos 131 mil pontos", diz o analista da Levante.
A importância dos bancos
Outro segmento com peso expressivo no índice é o dos grandes bancos, ou seja, Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11). Somados, esses quatro bancos representam cerca de 13,7% do Ibovespa, ainda de acordo com dados de 17 de dezembro.
Entre 1° de março e 7 de junho, quando o Ibovespa bateu os 131 mil pontos pela primeira vez, as ações preferenciais do Bradesco acumularam alta de 36,23%, enquanto as do Itaú da mesma classe subiram 30,3%. Os papéis do Banco do Brasil tiveram valorização de 30,2% nesse intervalo, e as units do Santander subiram 22,55%.
Segundo Bevilacqua, "durante o primeiro semestre do ano, essas empresas foram beneficiadas pelo início da alta da taxa Selic, permitindo um aumento do spread bancário, e pela perspectiva de crescimento da demanda por crédito em meio à reabertura econômica".
Sem vacas magras para o agronegócio
O destaque positivo do setor do agronegócio em 2021 foi o segmento de proteína animal, representado na Bolsa brasileira por BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3), Minerva Foods (BEEF3) e JBS (JBSS3).
O analista afirma que essas empresas se beneficiaram do aumento da demanda internacional por carne, especialmente nos Estados Unidos e na China, que, nos últimos anos, vêm sofrendo com crises da doença conhecida como peste suína africana, forçando os países a aumentarem as importações de carne.
Entre 1° de março e 7 de junho, as ações da BRF subiram 31,75%, acompanhadas pelos papéis da Marfrig, que acumularam valorização de 31,65%. As ações da JBS subiram 19,05% nesse intervalo, enquanto a Minerva teve alta mais discreta, de 3,61%.
A ressaca após o recorde
No final de junho, o Ibovespa já dava sinais de desaceleração, pouco depois da quebra dos recordes, o que fez com que o índice fechasse o mês com alta tímida de 0,46%.
"Naquele momento, as projeções para a economia brasileira começaram a se deteriorar, e a discussão acerca da necessidade de elevação da taxa Selic ganhou força diante da alta persistente da inflação", afirma o analista.
Após perder fôlego no final de junho, o Ibovespa entrou em uma sequência de quedas que perduraria nos próximos cinco meses, motivada por uma piora agressiva das projeções para a economia brasileira.
Com o aparente abandono da agenda de reformas pelo governo federal e as discussões acerca da implementação do programa social Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família —com valor médio do benefício de R$ 400—, os investidores trocaram a euforia pela cautela.
PEC dos Precatórios
O governo encaminhou ao Congresso, no começo de agosto, a PEC dos Precatórios. A proposta previa o parcelamento, em até 10 vezes, das dívidas de valor superior a R$ 66 milhões.
"A PEC não foi bem recebida pelo mercado, que entendeu se tratar de uma alternativa encontrada pelo governo para se esquivar de suas obrigações financeiras sem tecnicamente furar o teto de gastos e destravar recursos para serem utilizados no ano eleitoral", diz Bevilacqua.
Ainda assim, ele afirma que a proposta, no formato original, não causou pânico nos mercados —apenas fez com que os investidores adotassem uma postura mais cautelosa.
Para ele, "todavia, a inclusão de um trecho que previa mudanças na regra de cálculo do teto de gastos, a principal âncora fiscal do país, visando abrir espaço no Orçamento de 2022 foi o suficiente para que a Bolsa começasse a derreter".
Varejo em queda livre
Diante da piora das projeções para 2022 e com a perspectiva de que a taxa Selic deve retornar aos dois dígitos no próximo ano, um dos setores mais penalizados durante este ano foi o varejo, especialmente o eletrônico.
Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) acumularam fortes perdas neste ano. A Via assistiu seu valor de mercado derreter 64,91% entre janeiro e novembro, enquanto o Magalu sofreu uma desvalorização de 68,74% no mesmo intervalo.
A esperança de retomada em dezembro
"Com a agenda política esvaziada e a definição de temas importantes, como a PEC dos Precatórios e o Orçamento de 2022, além da volta das chuvas, que vêm reabastecendo os reservatórios das usinas hidrelétricas, dezembro vem sendo um mês menos volátil do que os anteriores", diz o analista da Levante.
De acordo com ele, ainda assim o clima de aversão ao risco predominante no exterior tem contaminado a Bolsa brasileira.
O tom negativo dos mercados internacionais é motivado pela mudança de postura dos principais bancos centrais do mundo, que vêm discutindo a retirada de estímulos e a elevação dos juros visando conter a alta da inflação.
Afinal, onde investir em 2022?
"O ano de 2021 não foi gentil com os investidores brasileiros", afirma.
Para o analista, convicções foram testadas, estratégias tiveram de ser alteradas no meio do percurso e o clima de eleições foi antecipado em quase um ano, trazendo ainda mais volatilidade ao mercado. "Ainda assim, quem soube aproveitar as oportunidades que se apresentaram no tempo certo, conseguiu ganhar dinheiro apesar do cenário macro caótico".
Para 2022, ele diz que, diante da conjuntura desafiadora que se apresenta, com as eleições prometendo chacoalhar o mercado durante a maior parte do ano, a situação não será diferente e demandará uma visão mais estratégica do investidor.
"Entre riscos e oportunidades, é preciso selecionar os ativos que entrarão na sua carteira com cuidado, sabendo também quando entrar e quando sair de cada um deles", fala Bevilacqua.
Leia aqui o relatório completo da Levante sobre o desempenho da Bolsa no ano
Carteiras conforme o perfil
Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:
- Carteira para quem não aceita risco algum
- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco
- Carteira para quem é mais moderado
- Carteira para quem aceita mais risco
- Carteira para quem aceita alto risco
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Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo analista Felipe Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.
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