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Por que o dólar está subindo tanto em tão pouco tempo? E o que esperar?

Entre 21 de abril e 2 de maio, o dólar saltou 10%; entenda os motivos disso e o que esperar - Getty Images
Entre 21 de abril e 2 de maio, o dólar saltou 10%; entenda os motivos disso e o que esperar Imagem: Getty Images

04/05/2022 11h00

Para quem esperava pela desvalorização do dólar, o ano de 2022 começou de forma positiva. A moeda americana acumulava queda de 17,14% no ano no dia 20 de abril, quando fechou em R$ 4,62. Porém, desde então o preço disparou e encerrou cotado a R$ 5,072 na última segunda-feira (2).

Essa alta do dólar tem preocupado os brasileiros em meio a um cenário de inflação já elevada no país. Mas, afinal, quais são os fatores que levam à alta? Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante Ideias de Investimentos, responde a essa dúvida. Ele analisa também a diminuição do fluxo de capital estrangeiro em direção à Bolsa brasileira e sua relação com a alta do dólar.

O que faz o dólar cair ou subir?

Todos nós estamos acostumados a ver a cotação de outras moedas em real no nosso dia a dia, principalmente do dólar norte-americano e do euro. Mas, afinal, quem ou o que determina o preço de uma moeda?

"Antes de mais nada, é importante compreender que não existe uma moeda universal que sirva de referência para determinar o preço das outras. Na realidade, o que acontece é que todas as moedas oscilam de preço constantemente com relação às outras moedas existentes", afirma Bevilacqua.

Essas oscilações de preço são ditadas pela lei da oferta e da demanda, assim como acontece com qualquer bem ou serviço. Quanto maior a procura por uma determinada moeda e menor sua oferta, mais ela tende a se valorizar em relação às demais — e vice-versa.

O estrategista-chefe diz que "portanto, quando o dólar sobe em comparação com o real, significa que há uma busca muito grande por dólares no mercado brasileiro ou uma redução brusca da oferta da moeda norte-americana —ou as duas coisas ao mesmo tempo".

Isso [quando o dólar sobe ante o real] acontece quando muitos investidores estrangeiros decidem liquidar seus investimentos no Brasil e levar o dinheiro embora, por exemplo.
Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante

Ele declara que, já quando o dólar cai, normalmente é um sinal de aumento de sua oferta no país. Ou seja, quando o mercado brasileiro se mostra atrativo para os investidores estrangeiros, que aportam na Bolsa de Valores (B3) ou na renda fixa brasileira.

O câmbio na pandemia

A covid-19 no Brasil foi marcada por uma profunda desvalorização do real com relação às demais moedas, especialmente o dólar. Entre os dias 1° de janeiro e 15 de maio de 2020, período inicial da crise sanitária, a moeda americana disparou de R$ 4,01 para R$ 5,88, "para desespero dos consumidores brasileiros", declara Bevilacqua.

Por outro lado, há aqueles que se beneficiaram da depreciação cambial, como é o caso das empresas exportadoras de commodities (matérias-primas) listadas na B3.

Companhias como a mineradora Vale (VALE3), a petrolífera Petrobras (PETR3/PETR4) e a gigante de proteína animal Marfrig (MRFG3) viram seus resultados serem impulsionados pelo dólar valorizado.

"No primeiro momento, a alta da moeda norte-americana foi 'camuflada' pela interrupção das cadeias produtivas globais e pelo fechamento do setor de serviços, que manteve a inflação em níveis historicamente baixos ao longo do período mais crítico da pandemia", afirma o especialista da Levante.

Assim, apesar da alta dos preços de insumos e produtos importados ou cotados em dólar, o consumidor não sentiu tanto no bolso a desvalorização do real ao longo de 2020 —mas a conta viria no ano seguinte.

Em 2021, o aumento do custo de importação de maquinário, insumos e produtos industrializados contribuiu para a disparada da inflação no Brasil, que fechou o ano com alta de 10,06%, muito acima do teto da meta, de 5,25%.

Otimismo no primeiro trimestre de 2022

Segundo Bevilacqua, "enquanto o cenário geopolítico internacional pegava fogo no primeiro trimestre deste ano, os mercados brasileiros experimentavam um período de otimismo e calmaria, com o Ibovespa —principal índice da Bolsa brasileira— em alta e o dólar em forte queda".

Com a alta dos preços das commodities — especialmente do petróleo e do minério de ferro —, a elevação da Selic — a taxa básica de juros — e diante do cenário político doméstico mais ameno, o mercado brasileiro se revelou bastante atrativo para o investimento estrangeiro.

"Como resultado dessa conjuntura, observou-se um maciço fluxo de capital estrangeiro em direção à Bolsa e à renda fixa brasileira", diz o especialista.

Por conta disso, o dólar caiu de R$ 5,68 para R$ 4,60 entre os dias 3 de janeiro e 4 de abril de 2022. Entretanto, abril foi marcado por uma súbita mudança de cenário, que levou o Ibovespa a amargar uma queda de 10,1% no mês, e abriu caminho para a alta da moeda norte-americana.

Por que o dólar voltou a subir?

O cenário favorável para a queda do dólar em relação ao real começou a mudar a partir da adoção de uma postura mais dura pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) no combate à inflação nos Estados Unidos — a mais alta dos últimos 40 anos.

Visando conter a alta dos preços, dirigentes do Fed passaram a sinalizar uma aceleração da alta dos juros no país, indicando que as próximas elevações devem ser de 0,5 ponto percentual cada, e não de 0,25 ponto percentual como na última reunião.

Hoje a taxa básica de juros dos EUA se encontra entre 0,25% e 0,50% ao ano, patamar considerado baixo mesmo para os padrões americanos.

"Contudo, o mercado já projeta uma elevação dos juros para além do patamar considerado neutro, ou seja, aquele que permite o crescimento econômico sem resultar em uma disparada da inflação", afirma Bevilacqua.

Atualmente, estima-se que tal patamar esteja entre 2% e 2,25% ao ano nos Estados Unidos, mas já se discute a possibilidade de elevação dos juros a 3% ao ano.

O sócio-fundador da Levante declara que a perspectiva de juros altos nos EUA reduz o apetite dos investidores estrangeiros por risco, fazendo com que adotem uma postura mais cautelosa em relação às economias emergentes como a do Brasil.

"Já os lockdowns na China, ao mesmo tempo em que colocam em prática a política de tolerância zero com o coronavírus, geram preocupações em torno de um novo surto global de inflação", diz.

Afinal, o fechamento de fábricas, empresas, estradas e portos no país tem causado uma redução abrupta na oferta de insumos fundamentais para as cadeias produtivas globais.

Ele declara ainda que "tal conjuntura também é negativa para as companhias brasileiras exportadoras de commodities que têm a China como principal cliente, uma vez que a paralisação da produção no gigante asiático reduz a demanda por produtos como o minério de ferro".

Essa queda na demanda acaba prejudicando algumas gigantes brasileiras do setor de commodities com ações listadas na Bolsa, fazendo com que investidores estrangeiros vendam tais ativos. Essa mudança de cenário reverteu a tendência de entrada de capital estrangeiro no mercado brasileiro e provocou a valorização do dólar frente ao real.

Bevilacqua diz que, por fim, há um fator que exerce menor influência no curto prazo, mas que preocupa os investidores pensando em um horizonte de tempo mais longo: a situação fiscal brasileira.

Com a proposta do governo de reajustar em 5% os servidores públicos federais e conceder um generoso aumento dos benefícios da categoria, ao mesmo tempo em que o Congresso vota elevar o piso do programa social Auxílio Brasil (R$ 400 por beneficiário), cresce a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas.

A delicada situação fiscal do país é vista como um fator de risco pelos investidores estrangeiros, e contribui para a saída de capital internacional do mercado doméstico.

Entre os dias 21 de abril e 2 de maio deste ano, o dólar saltou de R$ 4,62 para R$ 5,08, uma valorização de 10%.

O dólar continuará a subir?

Em suma, uma série de fatores convergiram para fazer com que o dólar acumulasse uma valorização expressiva ante o real em um pequeno intervalo de tempo.

No curto prazo, o dólar deve seguir oscilando, uma vez que o aperto monetário nos EUA e os lockdowns na China devem seguir no radar dos investidores. Além disso, a aproximação da eleição presidencial de outubro no Brasil deve contribuir para aumentar a volatilidade da moeda brasileira, tendo em vista as incertezas do período.

Bevilacqua afirma que, em caso de surpresas positivas nos dados de inflação dos Estados Unidos e com a reabertura da economia chinesa, podemos esperar uma retomada de tendência de valorização do real frente ao dólar e demais moedas.

Acesse aqui o relatório completo da Levante sobre os fatores que levam à alta do dólar.

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